Desgosto
Referimo-nos habitualmente aos desgostos da vida como se nada mais tivéssemos que pensar.
Tal ocorrência sobrevém, de vez em que, em nossas atuais condições evolutivas, somos ainda propensos a fixar o coração nos fenômenos do mal, extremamente desmemoriados quanto ao bem, à feição de pessoa que preferisse morar dentro de uma nuvem, à frente do sol.
Ligeiro mal-estar obscurece-nos a harmonia interior e adotamos regime de aflição que acaba por atrair-nos moléstia grave...
Isso porque apagamos da lembrança os milhares de horas felizes que lhe
antecederam o aparecimento, sem perceber que o incômodo diminuto é aviso da
natureza a que retomemos posição de equilíbrio.
Breve desajuste no lar interrompe-nos a alegria e desvairamo-nos em revolta,
instalando, às vezes, perigosos quistos de malquerença, no organismo familiar...
Isso porque quase nunca relacionamos os tesouros de estabilidade e euforia com
que somos favorecidos em casa, longe de observar que o problema imprevisto
expressa bendita oportunidade de consolidarmos o amor e a tranqüilidade no
instituto doméstico.
Um companheiro nos deixa a convivência e deitamos longas teorias, acerca da
ingratidão, estabelecendo complicações de profundidade...
Isso porque olvidamos as afeições preciosas que nos enriquecem os dias,
incompetentes que nos achamos para concluir que o amigo, tangido pelas forças
espirituais com que se afina, terá buscado o tipo de experiência mais adequada
aos próprios impulsos com vantagem para ele e proveito nosso.
Insignificante desentendimento reponta na esfera profissional e exageramos o
acontecido, lançando perturbação ou incrementando a desordem...
Isso porque muito dificilmente ligamos justa importância aos dotes inúmeros que
recolhemos do nosso campo de trabalho, inábeis para reconhecer que o destempero
havido é o ensejo de proteger e prestigiar a organização a que fomos chamados,
em favor de nós mesmos.
Desgosto até efetivamente para o coração, como a poda para a árvore.
Se dissabores nos visitam, recordemos que a vida está cortando o prejudicial e o
supérfluo, em nossas plantas de ideal e realização, a fim de que possamos nos renovar e melhor produzir.
Emmanuel