Mães
O coração das mães não descansam, além da morte. Impossível que o túmulo nos roubasse o tesouro dos afetos.
Seguimos, de perto, as preocupações e trabalhos de todos aqueles que respiram no círculo de nosso amor.
Aquele carinho e aquela santificada alegria que nos uniram uns aos outros, na Terra, permanecem cada vez mais vivos, dentro de nossa alma.
A ventura maternal está representada na posse do amor dos filhos, que constituem
a sua razão de ser.
O jardim, do lar é o tabernáculo divino, onde o homem pode e deve manifestar os
mais nobres valores que recebe da Providência Divina.
Sem a renúncia materna, a família quase sempre é um turbilhão de sofrimentos e
necessidades indefiníveis e sem fim.
As mães nunca morrem. Não acreditem que os desencarnados estejam fora das
alfinetadas que o mundo impõe às almas.
Sofremos também, com intensidade terrível, de vez que já não dispomos da carne
que nos serve de anteparo às grandes comoções.
Enquanto a vida nos retém no corpo físico, mormente nós, as mães, anelamos para
os nossos rebentos as melhores posições materiais, entretanto, cedo a morte nos
ensina que a luz não brilha na ilusão.
Quando nossos filhos, na Terra, se fazem gente grande e livre, permanecemos mais
a sós, conosco vivendo as reminiscências e esperanças. Nossa alma, de volta ao
passado, surpreende, na senda percorrida, os quadros que desejaríamos conservar
inalterados.
Aqui é um trecho da terra a falar mais particularmente ao coração, ali é uma voz
de criança que ainda ressoa, nítida e cristalina, aos nossos ouvidos.
Entretanto, é imprescindível tudo deixar, a fim de atingir a praia distante da
purificação.
Nós, as mães, muitas vezes, somos como a hera, agarrada às paredes da vida.
O amor compele-nos à imantação com numerosas almas que, no fundo, precisam
caminhar por si mesmas.
Quantas de nós são obrigadas a sofrer, anos e anos, além da morte física, no
santo aprendizado do esquecimento?
Acompanhamos nossos filhos como a sombra segue o corpo, contudo, não conseguimos
atingir o nosso ideal de senti-los em plena harmonia conosco, porque realmente
cada alma evolui no plano que lhe é próprio.
Somos peregrinas, batendo à porta de variados corações, deles esmolando a
alegria da compreensão e do auxílio.
As vezes, choramos em lhes observando a juvenilidade espiritual, mas, na
qualidade de mães, confiamos e esperamos.
Quando a fonte se nega a irrigar a terra pobre, a breve tempo, reconhecemos o
deserto diante de nós.
Se abandonamos a planta menos protegida à visita dos vermes, a devastação das
folhas e das raízes não se fará esperar.
Ainda que as lágrimas sejam o nosso pão de cada dia, não podemos alterar nosso
velho roteiro. Avancemos, pois, mesmo assim.
Maria Augusta Bittencourt