Gentileza, Virtude Esquecida!
É cada vez mais raro se observar atitudes de gentileza nas relações que
vivenciamos na agitada correria do dia a dia das nossas vidas.
Levados pelos inúmeros compromissos assumidos e pela pressa em resolvê-los, não nos damos conta de quantas vezes atropelamos os bons costumes, e as boas atitudes para com o nosso próximo, e por isso mesmo, já não nos incomodamos muito com suas más atitudes em relação a nós.
Como cobrar dos outros, o que não oferecemos por nossa vez? O resultado dessa falta de consideração mútua, é a ausência de cordialidade, de afeto, de convívio saudável, que se observa na sociedade dita moderna, onde cada indivíduo parece ser único, pois, pouco lhe importa o que se passa à sua volta com seu semelhante, seja ele, seu parente, seu vizinho, etc..., mostrando com esse seu procedimento a árvore frondosa do egoísmo, que cultiva no canteiro de seu coração, a exibir frutos amargos de frieza e indiferença, como se fôssemos auto
suficientes em tudo e não necessitássemos uns dos outros para nada.
Só abrimos uma exceção, isto é, só modificamos esse comportamento egoístico, se
nos deparamos na presença de alguém do qual esperamos obter algum favor ou
alguém de quem aguardamos tirar alguma vantagem pessoal.
“O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de
caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus
próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal,
se fez todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser
útil, se ninguém tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que
desejara lhe fizessem.” (E.S.E. Cap. XVII – item 3 - O Homem de Bem).
O ser humano precisa urgentemente refletir sobre esse seu comportamento
equivocado e irracional, precisa ver em seu semelhante um irmão de quem depende
sua própria elevação como ser imortal, criado com a finalidade maior que é a
perfeição em todos os sentidos, e que para isso não prescinde da convivência
salutar com seu irmão, em constante troca de experiências, e com o qual tem
muito a aprender.
Somente com seus próprios e limitados recurso e conhecimentos, não será capaz de
chegar ao seu destino, no encontro tão sonhado com a verdadeira felicidade no
seu estado de pureza espiritual.
Precisa entender que só através do trabalho na sua reforma interior, buscando
“amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”, poderá se
promover na escala hierárquica da criação universal da qual faz parte
integrante, e que sem a mudança em seus métodos e atitudes, priorizando as
conquistas espirituais, não conseguirá obter a tão almejada paz interior, que
não conseguirá encontrar na conquista e realização dos seus sonhos materiais,
que logo alcançados, passarão a segundo plano, surgindo imediatamente nova
necessidade de conquista que por sua vez, com o passar do tempo também deixará
de ser tão importante, e assim sucessivamente.
O gesto de gentileza é sem dúvida um grande passo que damos para modificar, em
muitas ocasiões, uma inimizade nascente, uma suspeita infundada, uma informação
infeliz abrindo horizontes novos e facilitando a compreensão e a concórdia.
Não devemos aguardar a gentileza dos outros para conosco, para nos decidirmos
por mudar nosso comportamento, sejamos nós os cultivadores da gentileza,
usando-a como exercício na metodologia do nosso burilamento, usando a força de
vontade como fonte propulsora a nos impulsionar para frente em direção ao
crescimento moral espiritual; e nesse particular, nós seguidores da filosofia
espírita muito mais que os nossos irmãos de outras correntes religiosas, pois
dispomos de tantos ensinos contidos na codificação que nos orientam sempre nesse
sentido conforme a mensagem que segue:
“Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados
acima expostos, que caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão
verdadeiro, pois que um o mesmo é que outro. O Espiritismo não institui nenhuma
nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo,
facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam. Muitos,
entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as
conseqüências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam a si
mesmos. A que atribuir isso? A alguma falta de clareza da Doutrina? Não, pois
que ela não contém alegorias nem figuras que possam dar lugar a falsas
interpretações. A clareza é da sua essência mesma e é donde lhe vem toda a
força, porque a faz ir direito à inteligência. Nada tem de misteriosa e seus
iniciados não se acham de posse de qualquer segredo, oculto ao vulgo.” (E.S.E.
Cap. XVII – item 4 – Os Bons Espíritas).
Os Espíritos Superiores reforçam os ensinamentos sobre o assunto, ao responderem
ao codificador a esse respeito na questão seguinte constante do Livro dos
Espíritos:
799. De que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?
“Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os
homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a
vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio
do presente, lhe é dado preparar o seu futuro. Abolindo os prejuízos de seitas,
castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como
irmãos.”
Sejamos nós portanto, os primeiros a dar os passos em direção ao nosso irmão,
mesmo que ele não nos retribua, sigamos a meta de amar a todos sem esperar que
sejamos amados por todos, respeitando a maneira de agir e pensar de cada um,
compreendendo nos irmãos ingratos e frios, da nossa estrada, criaturas de
coração endurecidos, necessitados por isso mesmo de nossa maior cota de
gentileza e compreensão, esta é a verdadeira caridade que Deus nosso Pai espera
que pratiquemos, cumprindo com nossos compromissos como SERES racionais que
somos, com responsabilidades para com a sociedade em que vivemos.
Agindo assim, estaremos vivenciando a fraternidade conosco mesmo e com nosso
semelhante, fazendo a parte que nos cabe, participando de forma positiva na
intenção maior de ver a humanidade transformada moralmente falando, isto é,
menos egoísta e mais humanitária.
Bibliografia:
Kardec, Allan – O Evangelho Segundo o Espiritismo – FEB, 106ª Edição – Cap. XVII
Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos – FEB, 76ª Edição.
Francisco Rebouças