Queremos Ver Deus
Narra João, no capítulo quatorze do Evangelho, que Jesus falava aos
discípulos, no sermão do Cenáculo, preparando-os para sua partida, em breve, procurando solidificar-lhes a fé pela maior compreensão da vida espiritual, quando Filipe o interrompeu:
- Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.
Talvez tenhamos pensado também, um dia, com a objetividade do apóstolo: Em vez de muitas palavras, longos discursos, extensas explicações, se Deus existe, que Ele nos apareça, que no-lo mostrem, e não perguntaremos mais nada.
Deus, porém, é Espírito, como o esclareceu Jesus à mulher samaritana (João 4,
vs. 24), e o que é de natureza espiritual não pode ser visto com os olhos da
carne.
Os olhos do corpo não permitem enxerguemos diretamente os espíritos. A não ser
que estes estejam temporariamente materializados, quando, então, todos que não
sejam cegos os poderão ver. Ou quando causam efeitos em nosso meio ambiente,
como o resplendor que assinalou para Paulo, na estrada de Damasco, a presença de
Jesus.
Os que vêem Espíritos enxergam-nos com os olhos da alma, pelas faculdades do seu
perispírito, modernamente estudadas como percepção extrasensorial.
Quando Felipe pediu “Mostra-nos o Pai”, Jesus redargüiu:
- Estou convosco há tanto tempo e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a
mim, vê o Pai; como é que tu dizes; Mostra-nos o Pai?
Quem tivesse “olhos de ver”, quem soubesse observar, analisar e sentir,
reconheceria em Jesus a mais alta expressão de espiritualidade que a Terra já
pode receber. Uma natureza espiritual encarnada a revelar a sabedoria e o amor
de Deus, seu divino Criador.
Filipe convivia com Jesus há anos, ouvira seus ensinamentos, presenciara seus
admiráveis feitos. Se não se dera conta da realidade espiritual, que em Jesus
atuava através de um corpo de carne, de modo visível para os olhos de todos,
como poderia, então, “ver” Deus, puramente espírito?
Não será com os olhos da carne que veremos Deus. Nem ao desencarnar o
enxergaremos, se não tivermos desenvolvida a sensibilidade para tanto.
Os véus que nos encobrem a visão de Deus não estão sobre a face divina mas em
nós mesmos e chamam-se ignorância, orgulho, materialismo.
Mas desde já, exercitando a inteligência e a sensibilidade para acima e além da
matéria, poderemos perceber Deus na vida universal, no micro e no macrocosmo. E quanto mais desenvolvermos e apurarmos nossas faculdades espirituais, mais
veremos a Deus e o sentiremos. Em nós, em tudo e em todos.
Therezinha de Oliveira