Santa Caridade
Estende as próprias mãos
Entregando o tesouro que ajuntaste
Ou rogando a migalha
Dos tesouros alheios...
Repara, todavia,
As mãos abnegadas
Que constroem a vida...
Mãos que sangram no campo,
Na condução do arado;
Mãos erguidas na escola,
Em louvor da cultura;
Mãos feridas na industria
Exaltando o conforto;
Mãos que afagam doentes,
Renovando a alegria...
Mãos que servem a mesa,
Enriquecendo o pão;
Mãos nervosas e firmes
Nos volantes bulhentos
Ajustando as artérias
Do progresso incessante.
Mãos que erguem a enxada,
Mãos que empunham a pena...
Mãos que fiam,
Que agasalham,
Que abençoam,
Que consolam...
Assim, pois,
Na graça da fortuna
Ou na dor da carência
Escuta a melodia
Das mãos entrelaçadas
Na oficina do mundo.
E traze com valor
As tuas mãos também,
Cedendo de ti mesmo,
Em suor e esperança,
Ao serviço de todos,
E entenderás, por fim,
Que o trabalho do bem
É a Santa Caridade
Que verte sobre nós
Do Eterno Amor de Deus.
Rodrigues de Abreu