Na Trilha de Allan Kardec
se mundo pessoas excessivamente invejosas. Imaginas que, mal o deixam,
perdem esse defeito? Acompanha os que da Terra partem, sobretudo os que
alimentaram paixões bem acentuadas, uma espécie de atmosfera que os envolve, conservando-lhes o que têm de mau, por não se achar o Espírito inteiramente desprendido da matéria. Só por momentos ele entrevê a verdade, que assim lhe aparece como que para mostrar-lhe o bom caminho”.
A elucidação não deixa dúvidas.
Carregamos para além do sepulcro a sombra das ações deploráveis em que nos
envolvemos, por efeito das paixões que acalentamos no próprio ser.
Somos prisioneiros das imagens infelizes a que nos afeiçoamos, quando na
extensão do mal aos outros e a nós mesmos, imagens essas que se imobilizam,
temporariamente, em nossa vida mental, detendo-nos nas grades do remorso e do
arrependimento, até que atendamos à expiação necessária.
Em tais condições, a visão das verdades divinas surge em nossa consciência, tão
somente à maneira de relâmpago nas trevas que nós mesmos criamos,
descerrando-nos o caminho regenerador que nos compete aceitar e seguir.
A morte física, como é racional, não nos subtrai, de improviso, dos íntimos
refolhos do Espírito, as conseqüências dos erros nefastos a que nos
precipitamos, de vez que os pensamentos oriundos das faltas cometidas nos
entrançam a alma às imposições do resgate.
Na pergunta 230, consulta o notável missionário:
- “Na erraticidade, o Espírito progride?”.
E os Benfeitores informam:
- “Pode melhorar-se muito, tais sejam à vontade e o desejo que tenha de
consegui-lo. Todavia, na existência corporal é que põe em prática as idéias que
adquiriu”.
Outra vez reconhecemos os veneráveis mensageiros interessados em destacar a
necessidade de serviço e educação, além-túmulo, aclarando, ainda, que todos nós,
“os viajores da evolução”, despendemos muitos séculos adquirindo ensinamentos na
Vida Espiritual e aplicando-os na esfera física, de modo a assimilarmos com
segurança, a golpes de trabalho no campo do tempo, os valores da perfeição.
Ainda na Pergunta 232, Kardec argúi, meticuloso:
- “Podemos espíritos errantes ir a todos os mundos?”.
E a explicação veio clara:
- “Conforme. Pelo simples fato de haver deixado o corpo, o Espírito não se acha
completamente desprendido da matéria e continua a pertencer ao mundo onde acabou
de viver, ou a outro do mesmo grau, a menos que, durante a vida, se tenha
elevado, o que, aliás, constitui o objetivo para que devam tender seus esforços,
pois, do contrário, não se aperfeiçoaria. Pode, no entanto, ir a alguns mundos
superiores, mas na qualidade de estrangeiro. A bem dizer, consegue apenas
entrevê-los, donde lhe nasce o desejo de melhorar-se para ser digno da
felicidade de que gozam os que os habitam, para ser digno também de habita-los
mais tarde”.
A resposta é tão brilhantemente positiva que não requisita comentários.
Vale, todavia, dizer que, muitas vezes, em desencarnando a alma do veículo de
sangue e ossos, não se liberta mentalmente da experiência a que ainda se prende
na vida terrestre, em torno da qual gravita por tempo indeterminado.
Ninguém acredite, que o túmulo seja depósito de asas destinadas à elevação de
quem não procurou elevar-se durante a passagem pelo sei da Humanidade.
Ascensão pede leveza.
Triunfo verdadeiro reclama heroísmo e glória.
Sublimação exige amor e sabedoria.
Felicidade não dispensa equilíbrio.
O preço da perfeição é trabalho contínuo de engrandecimento da alma.
Ninguém espere, assim, depois da morte, repouso e bem-aventuranças que não soube
conquistar por si mesmo.
Serviço e hierarquia, aprendizado e aprimoramento são imperativos a que não
conseguiremos fugir, tanto do berço para o túmulo quanto do túmulo para o berço,
se desejamos marchar para a Vida Superior.
E enunciando semelhante realidade, não estamos fazendo mais que acompanhar a
trilha de Allan Kardec, nas lições que o apóstolo admirável entesourou em nosso benefício, há cem anos.
(mensagem recebida em 1957, no I Centenário de lançamento de O Livro dos
Espíritos).
André Luiz