Fora da Caridade não há Salvação?
O título acima merece os sinais de interrogação apenas dentro
do contexto em que este assunto é abaixo desenvolvido, pois, é preciso deixar
claro, muito claro, que não há dúvida alguma de que Fora da Caridade Não Há
Salvação.
Sabemos que a caridade é a alavanca propulsora de nossa evolução espiritual.
Sabemos que a caridade é a forma mais bela e pura de expormos a divindade que há
em nós.
Mas, o que é caridade?
É apenas cuidar do social? Ou é cuidar do social e do espiritual?
Se não há dúvida de que Fora da Caridade Não Há Salvação, também não há dúvida
de que o verdadeiro resgate social começa pela mudança comportamental do
indivíduo. Em sintonia com esta ótica, vale a pena ler parte do artigo extraído
da revista Forbes Brasil de 21 de novembro de 2001:
“Quase 6 trilhões de dólares mais tarde, os Estados Unidos provaram que dinheiro
em si não resolve problemas.
Agora a idéia sobre caridade está mudando mais uma vez. E numa direção mais
sábia. Pode-se detectar a mudança no Doe Fund, de Nova York, e em seu chefe,
George McDonald. Ex-ativista barulhento em favor dos sem-teto, ele pregava que o
necessário eram ‘casas, casas e mais casas’. Mas, quando observou de perto,
percebeu que o problema dos sem-teto era o próprio comportamento, uma vez que a
maioria era usuária de drogas, alcoólatra, ou ambos. Eles teriam que mudar de
comportamento e recuperar o controle sobre suas vidas.”
“(...) Também se pode ver mudança na iniciativa Faith-Based and Communyt, que se
baseia na idéia de que os mais necessitados precisam de transformação moral e
espiritual mais do que ajuda material.”
Portanto, o resgate moral e espiritual do indivíduo é que fará ocorrer de forma
definitiva o resgate social.
É importante aprendermos com o erro dos Estados Unidos. Conforme texto acima
reproduzido, depois de 6 trilhões de dólares aplicados em atos solidários, os
Estados Unidos estão descobrindo que “...os mais necessitados precisam de
transformação moral e espiritual mais do que ajuda material.”
Trabalhar o espiritual, na auto-educação e na educação do próximo, é mais
produtivo do que trabalhar o material. Se ajudar materialmente é necessário e
importante, ajudarmo-nos e ajudar o próximo no desenvolvimento espiritual,
passou a ser mais do que importante, passou a ser fundamental.
Na revista Reformador, de Dezembro de 2002, sem desvalorizar a importante visão
social, o espírito do Dr. Bezerra de Menezes, sob a psicografia de Divaldo
Franco, coloca os “pingos nos is”.
“(...) Se é verdade que o espiritista não se pode marginalizar em torno dos
acontecimentos que sacodem a sociedade, o planeta, não menos é verdade que,
comprometido com o ideal espírita, possui, nos conteúdos doutrinários, os
instrumentos hábeis para mudar a situação que vivemos, por intermédio da
educação das gerações novas, da auto-educação, mediante a transformação moral
que se deve impor e também dos esclarecimentos que, libertando a criatura humana
das suas paixões primitivas, tornam-na capaz de mudar as estruturas
perturbadoras da sociedade.
É necessário que tenhamos muito cuidado para não nos desviarmos dos objetivos
essenciais da Doutrina, que se coloca acima das questões inquietadoras deste
momento.
Viver espiriticamente é trabalhar sem desfalecimento pela construção de uma nova
era sim, que deve começar no próprio indivíduo, na sua transformação interior.
(...) A nossa preocupação de mudar o mundo não pode abandonar o compromisso da
nossa mudança interior. O nosso compromisso com a fé espírita é de urgência e
todos os esforços devem ser envidados para conseguirmos essa meta.”
As inserções acima em momento algum desvalorizam nossa necessária ação social,
mas têm o mérito de colocar em evidência que a ajuda realmente consistente é a
ação social conjugada à transformação moral e espiritual do indivíduo.
O Movimento Espírita tem se destacado pela seriedade, pela organização e pelo
amor com que trata seus projetos sociais. Face a um novo governo que coloca como
prioridade primeira a questão social, temos muito a contribuir com essa nova
onda, seja no campo institucional, seja no campo pessoal. E nossa contribuição
será melhor substanciada se atuarmos também – e com firmeza – na educação
espiritual dos nossos irmãos.
Alkindar de Oliveira