Perversidade Precoce
Na classe, ele já era líder. Apenas dez anos de idade, quarta série do ensino fundamental, mas liderava um grupo de outros colegas em ações de perversidade que extrapolavam o tolerável nas peraltices de crianças dessa idade.
O ápice ocorreu com a chegada de um aluno transferido de outra cidade.
Provocações, perseguições e agressões físicas, dentro da classe inclusive. A situação agravou-se, o novo aluno, já machucado, agarrou-se às pernas da
professora e esta perdeu o controle da situação. Tumulto generalizado que quase se transforma em pancadaria, apesar da pouca idade das crianças.
A situação foi levada à diretoria, que convocou os demais professores e
funcionários e diante de relatos surpreendentes e coincidentes, que todos sabiam
e guardavam a sete chaves, decidiu-se por registro em boletim de ocorrência
policial e à convocação dos pais.
Como previsto, os pais se voltaram contra o professor e a própria escola, quando
deveria ocorrer o contrário, pois os hábitos do filho refletem a má formação
moral recebida em casa, apesar da bagagem que o filho trouxe consigo. Todavia, é
dever dos pais corrigir e educar os filhos, convenhamos.
Não adianta acharmos que nossos filhos são “anjinhos” porque verdadeiramente não
são. São seres humanos, como nós mesmos, cheios de defeitos morais a corrigirem
em si e, portanto, necessitados, de orientação segura e correta dentro dos
princípios de moralidade e dignidade humana.
Pois é exatamente à cegueira de nós, pais, quanto à conduta dos filhos, que
devemos creditar a maioria dos comportamentos indesejáveis presentes em muitas
crianças e jovens da sociedade atual, inclusive quanto a furtos, crimes, tráfico
de drogas, violências em geral e desrespeito com os valores morais da sociedade.
É pela indisciplina do lar que nasce o vandalismo das ruas; é da indiferença dos
pais que transformamos crianças lindas e meigas em tiranos domésticos e
posteriormente em intoleráveis homens e mulheres que mancham a dignidade humana.
É também pela distância dos princípios religiosos que criamos marginais; é pelo
desamor, pelo excessivo apego aos bens materiais ou valorização perigosa da TV
que formamos seres humanos egoístas e indiferentes com os graves problemas do
planeta.
Pergunte-se aos jovens que arrastaram João Hélio, no Rio de Janeiro, se alguma
vez foram abraçados pelos pais, acarinhados pela família, estimulados ao bem
pela sociedade. Não! Certamente sofreram o desprezo, a indiferença, o desamor.
Igualmente não foram tolhidos em suas atitudes não recomendáveis, nem reprovados
na conduta incompatível com a condição humana. Deixaram-nos soltos, a crescerem
sem disciplina, sem amor... Que pena!
Exigimos paz, mas ensinamos nosso filho a mentir. Desejamos justiça social, mas
ensinamos nosso filho a tirar vantagem e a explorar o próximo. Queremos viver
com serenidade, mas distanciamos nossos filhos do amor, indiferentes à
importância de Deus na vida deles.
Diante de atos de rebeldia e falta de educação deles, pulamos na frente e os
defendemos com unhas e dentes, esquecidos de que esta é a hora de educar.
Precisam aprender que nossa liberdade e direito terminam onde começam a
liberdade e o direito do próximo. Se chamam a atenção dele, revoltamo-nos contra
professores e autoridades, julgando que nosso filho é intocável...
Impossível viver assim. Só encontraremos lágrimas mesmo.
Tornar nossos filhos éticos e responsáveis, eis a tarefa e o dever dos pais.
Semear amor em seus corações, ensinar-lhes a dignidade, incutir-lhes no coração
e na mente a responsabilidade, o amor ao trabalho, o respeito às pessoas e à
sociedade, à natureza e a Deus. Difícil? Sim, muito difícil. Mas é o único
caminho para reconstruirmos a sociedade.
Se não agirmos com urgência, mais e mais precocemente estaremos encontrando
crianças perversas e problemáticas, especialmente pela nefasta influência de
nossa TV. Algo para pensar com seriedade.
Orson Carrara