Jesus

Há dois mil anos surgiu um Homem, entre os milhões de habitantes terrestres... E Esse Homem veio tornar-se o centro da história da humanidade. Muita mais do que isso: Ele tornou um marco para a história da humanidade, de tal modo que até o tempo histórico é contado tendo-O como referência ... Era uma luminosa escuridão – Esse homem... Não bajulava a nenhum poderoso – e não espezinhava nenhum miserável. Diáfano como um cristal era o Seu caráter – e, no entanto, é Ele o maior mistério de todos os séculos.
Poeta algum conseguiu atingir-Lhe as excelsitudes – filósofo algum valeu exaurir-Lhe as profundezas... Esse homem não repudiava “madalenas” nem apedrejava adúlteras – mas lançava às penitentes palavras de perdão e de vida.
Não fez nada daquilo que a outros homens garante imortalidade entre os mortais – o que Nele havia de maior era Ele mesmo. Havia inocentes com sorriso nos lábios – e doentes com lágrimas nos olhos. Havia apóstolos – e apóstatas... Brincava nos caminhos Desse homem a mais bela das primaveras – e espreitava-Lhe os passos a mais negra das mortes.
Sobre suas prédicas Mahatma Gandhi dizia que eram a mais bela que conhecera à face da Terra e que bastaria que 1/3 daqueles que dizem segui-Lo colocassem em prática sua doutrina para mudar socialmente a face da Terra. Para o Iluminado da Índia o Sermão do Monte é a mais bela página da humanidade e por si só preservaria os patrimônios espirituais humanos, ainda que se perdessem os livros sagrados de todas as religiões.
Mesmo que Ele fosse um mito, alguém teria que ter concebido as Suas idéias superiores que chegam até nós. Ele era um homem de singular virtude, que seus companheiros chamam Filho de Deus.
Públio Lentulos dizia que Ele curava os enfermos e levantava os mortos, era belo de figura e atraia os olhares. Seu rosto inspirava amor e temor ao mesmo tempo. Seus cabelos eram compridos e louros, lisos até as orelhas, e das orelhas para baixo cresciam crespos anelados. Dividia-os ao meio uma risca e chegavam-lhes aos ombros segundo o costume da gente de Nazareth. As faces cobriam de leve rubor. O nariz era bem contornado, e a barba crescia, um pouco mais escura do que os cabelos, dividida em duas pontas. Seu olhar revelava sabedoria e candura. Tinha olhos azuis com reflexos de várias cores. Este homem amável ao conversar, tornava-se terrível ao fazer qualquer repreensão. Mas mesmo assim sentia-se Nele um sentimento de segurança e serenidade. Ninguém nunca o via rir. Muitos no entanto O tinham visto chorar. Era de estatura normal, corpo ereto, mãos e braços tão belos que era um prazer contemplá-los. Sua Voz era grave. Falava pouco. Era modesto .Era belo quanto um homem podia ser belo. Chamavam-lhe Jesus."
Ele, vivendo o seu tempo, construiu valores universais únicos, que, pela profundidade e extensão, modificaram os aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos da humanidade. Ele é o caminho, a verdade, a vida em sua multiplicidade, diversidade, alteridade, exemplo claro de comportamento moral que reflete a identidade do ser com o Universo e com Deus.
Para a maioria dos teólogos, Ele é objeto de estudo, nas letras do Velho e do Novo Testamento, imprimindo novo rumo às interpretações de fé. Para os filósofos, Ele é o centro de polêmicas e cogitações infindáveis. Para nós espíritas, Jesus foi, é e será sempre a síntese da Ciência, da Filosofia e da Religião. “Tudo tem passado nestes dois mil anos, na Terra– mas a [Sua] Palavra brilha como um Sol sem ocaso, guiando as ovelhas tresmalhadas, os cordeiros perdidos do Rebanho de Israel à porta do aprisco, para restituí-los ao Bom Pastor”
A figura de fulgor resplandecente do Filho de Deus continua sempre, em todos os tempos, como o Guia Espiritual da Humanidade terrena, amando-a e instruindo-a com paciência infinita.
Proclamando as bem-aventuranças à turba no monte, não a induz para a violência, a fim de assaltar o celeiro dos outros. Multiplica, Ele mesmo, o pão que a reconforte e alimente. Não convida o povo a reivindicações. Aconselha respeito aos patrimônios da direção política, na sábia fórmula com que recomendava seja dado “a César o que é de César”. Demonstrando as preocupações que o tomavam, perante a renovação do mundo individual, não se contentou em sentar-se no trono diretivo, em que os generais e os legisladores costumam ditar determinações... Desceu, Ele próprio, ao seio do povo e entendeu-se pessoalmente com os velhos e os enfermos, com as mulheres e as crianças.
Entreteve-se em dilatadas conversações com as criaturas transviadas e reconhecidamente infelizes. Usou a bondade fraternal para com Madalena, a obsidiada, quanto emprega a gentileza no trato com Zaqueu, o rico. Reconhecendo que a tirania e a dor deveriam permanecer, ainda, por largo tempo, na Terra, na condição de males necessários à retificação das inteligências, o Benfeitor Celeste foi, acima de tudo, o orientador da transformação individual, o único movimento de liberação do espírito, com bases no esforço próprio e na renúncia ao próprio “eu”. Para isso, lutou, amou, serviu e sofreu até à cruz, confirmando, com o próprio sacrifício, a sua Doutrina de revolução interior, quando disse: “e aquele que deseje fazer-se o maior no Reino do Céu, seja no mundo o servidor de todos.”
O Espiritismo vem colocar o Evangelho do Cristo na linguagem da razão, com explicações racionais, filosóficas e científicas, mas, vejamos bem, sem abandonar, sem deixar de lado o aspecto emocional que é colocado na sua expressão mais alta, tal como o pretendeu Jesus, ou seja o sentimento sublimado, demonstrando assim que o sentimento e a razão podem e devem caminhar pela mesma via, pois constituem as duas asas de libertação definitiva do ser humano.
Sabemos não ser a experiência humana uma estação de prazer, por isso, continuemos trabalhando no ministério do Cristo, recordando que, por servir aos outros, com humildade, sem violências e presunções, Ele foi tido por imprudente e rebelde, transgressor da lei e inimigo da população, sendo escolhido por essa mesma multidão para receber com a cruz a gloriosa coroa de espinhos, mas sob o influxo do bom ânimo Ele venceu o mundo!
Até porque o sacrifício Dele não deve ser apreciado tão-somente pela dolorosa expressão do Calvário. O Gólgota representou o coroamento da obra do Senhor, mas o sacrifício na sua exemplificação se verificou em todos os dias da sua passagem pelo planeta. Numerosos discípulos do Evangelho consideram que o sacrifício do Gólgota não teria sido completo sem o máximo de dor material para o Mestre Divino. Entretanto, a dor material é um fenômeno como o dos fogos de artifício, em face dos legítimos valores espirituais. Homens do mundo, que morreram por uma idéia, muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu ideal. Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e chegareis a contemplá-Lo na imensidão da sua dor espiritual, augusta e indefinível para a nossa apreciação restrita e singela.
Em realidade qualquer palavra , expressão poética, artística, filosófica e qualquer louvor em Sua memória significarão apagada homenagem em face do que Ele representa para cada um de nós.


Referências:
Rohden, Humberto. De alma para alma, SP: Editora: Martin Claret, 20ª ed, 2 001
Idem
Descrição feita pelo pró-consul Públios Lentulos
Disponível em <http:// www.sbee.com.br> acessado em 06/01/06
SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e ensinos de Jesus, SP: ed. O Clarim– Matão, 1993, p. s/n
Xavier, Francisco Cândido. Roteiro, Ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB – 10a ed.
Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB – 16a. edição


Jorge Hessen