Escravos da Mágoa

A única maneira de curarmos nossas mágoas e feridas morais é através do perdão. É a forma de nos ligarmos uns aos outros de forma completa. Sem ele permanecemos agarrados, presos, escravos de lembranças que só fazem sofrer. Aliás, a mágoa é um sentimento inútil. Ela destrói a felicidade, a paz interior. E, por falar em paz interior, se pudéssemos elaborar uma lista de itens que levassem à conquista da paz interior, um deles seria a perda do interesse de julgar pessoas e interpretar ações alheias.

Que capacidade possuímos nós para julgar procedimentos, interpretar comportamentos? Cada pessoa é, por si só, um universo. Não conhecemos exatamente as motivações, as razões que levaram a determinados comportamentos e atitudes, pois cada um possui a própria história.

Muitas vezes nos consideramos ofendidos, magoados, desprezados, humilhados, mas a pessoa que julgamos nos ofendeu, humilhou, desprezou, não está pensando nisso, nem sofrendo pela questão que tanto nos atormenta. Na maioria das ocasiões, não agiu com intenção de ferir ou maltratar. Em muitas outras, se nos maltratou, era porque vivia um momento infeliz... E, se agiu com maldade ou má intenção, o problema é da própria pessoa e não nosso. Quem se magoa, destrói as próprias defesas orgânicas, abre enorme espaço para instalação e desenvolvimento de doenças, além do próprio tormento interior que passa a viver.

Considerando que todos cometemos equívocos, em menor ou maior grau e intensidade, que estamos sujeitos a erros e quedas, e que não há ninguém perfeito no mundo, temos o dever mútuo de compreender e entender os comportamentos, sabedores que já somos que cada um vive seu momento e está no estágio que conseguiu alcançar.

Quando não perdoamos, tornamo-nos escravos da mágoa.

Todavia, consideremos: somos seres humanos. Seres humanos sentem raiva, ficam magoados, é verdade e natural. A virtude está na superação desses sentimentos.

Tais considerações foram inspiradas no livro Os Segredos da Vida, excelente obra da Editora Sextante, dos autores Elisabeth Kubler-Ross e David Kesser, em seu 13º capítulo, que aborda exatamente a lição do perdão.

Desejamos sugerir aos leitores a citada obra, face ao extraordinário cunho psicológico de seu conteúdo, que pode ajudar muita gente a vencer a insegurança, o medo, as perdas, os prejuízos da culpa e outros importantes itens dos conflitos de relacionamentos.

Deixo de transcrever trechos ou parágrafos, por impeditivo constante da própria obra, mas não deixo de recomendar aos leitores. São lições que muito vão contribuir para a construção da paz interior. Em destaque, após o 14º capítulo, a Última Lição é texto imperdível que traz uma mulher de 43 anos. Médica, bonita, saudável, excelente nível de vida, primorosa família, mas infeliz. Um vazio interior a martirizava. Mas deixo ao leitor descobrir, por si só, com a leitura da obra, os desdobramentos desse caso tão comum em nossos dias...


Orson Carrara