Ante os Novos Tempos

“Ao Espiritismo cristão cabe, atualmente, no mundo, grandiosa e sublime tarefa.
Não basta definir-lhe as características veneráveis de consolador da Humanidade, é preciso também revelar-lhe a feição de movimento libertador de consciências e corações”.
Emmanuel (“Missionários da Luz”- Prefácio: Ante os Tempos Novos.)


Em todos os tempos tem sido conveniente aos governadores do mundo, aos detentores do poder, que os seres humanos se mantenham ignorando a verdade e não pensando por si próprios. Aprender a pensar, despertar a consciência, ter contato com a realidade, discernir e optar tem sido, sistematicamente, dificultado em todos os níveis do conhecimento humano.

Para manter a ignorância oferecia-se ao povo pão e circo, distraindo-o e satisfazendo apenas as suas necessidades básicas que, saciadas, mantinham-no acomodado e apático.

Por outro lado, a manipulação da vontade popular sempre foi recurso de sustentação do status quo.

A história das civilizações comprova isto. Tais manipulações de consciências passam por lutas sanguinárias, infâmias e crueldades políticas e religiosas, perseguições implacáveis, crimes bárbaros, destruição em vários níveis, atestando que os homens progridem intelectualmente, mas ainda hoje são os mesmos que armaram o braço de Brutus, naquele momento representando mais de uma dezena de senadores romanos, contra César, ou os que urdiram a trama hedionda que condenou Jesus e absolveu um ladrão vulgar.

Caminha a Humanidade, desdobram-se os séculos e milênios e o modelo se repete com freqüência estarrecedora.

As guerras têm sido mantidas porque são lucrativas para muitos poderosos.

A miséria física e moral não deve ser extirpada porque convém a certos grupos que se locupletam de várias formas com a sua existência, extraviando recursos destinados a minimizá-la.

O progresso tecnológico alçou o homem a um poder ainda maior, porém cada vez mais permanece restrito às nações ricas, ampliando a distância entre estas e as pobres.

Albert Schweitzer, ao receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1952, desafiou o mundo “a ousar enfrentar a situação (...) o homem tornou-se em super-homem(...) mas super-homem com poderes sobre-humanos e que não atingiu o nível de razão super-humana medida em que aumentavam seus poderes, ele se tornou um homem cada vez mais pobre (...) Impõe-se sacudir nossa consciência ao fato de que nos tornamos tanto mais desumanos quantos mais nos convertemos em super-homens”.(1)

Por outro lado, enquanto o poder dos poderosos se intensifica, procura-se enfraquecer a vontade do povo, mantê-lo distraído, alheio acomodado,, ainda que para isso a miséria social e moral campeie, porque só assim o tecido social se esgarça cada vez mais, pouco ou nada oferecendo de resistência, defesas ou iniciativas quaisquer que sejam.

No campo religioso não é outro o panorama, desde os tempos imemoriais até os nosso dias.

Atualmente proliferam as novas seitas, as religiões de última hora, que prometem a salvação aos milhões de almas crédulas e preferem deixar ao pastor o duro encargo de pensar e de encontrar para cada uma o caminho da salvação eterna.

Emmanuel, no notável prefácio do livro de André Luiz, “Missionários da Luz”, psicografado pelo médium Francisco Cândido Xavier, enfoca em admirável síntese toda a dramática fuga do ser humano quando se trata da sua autoconscientização. E alerta para a magnitude da missão do Espiritismo que é, não apenas a de consolar, mas, fundamentalmente, a de libertar consciências. O autodescobrimento! Quão difícil e custoso é, para a maioria...

Muitos questionamentos nos acorrem a partir destras reflexões.

O que estamos fazendo com a Doutrina Espírita? Será que nós estamos apresentando na sua feição libertadora ou a estamos transmitindo com um aspecto mágico, no qual a mediunidade é o pano de fundo a fim de atrair mais adeptos? E a quantas andam as idéias de céu e inferno, pecados, prêmios e castigos divinos, hoje substituídos pelos termos plano espiritual superior, o umbral, carma, etc.? E nós, como estamos assimilando? A leitura que fazemos dos seus postulados nos oprime, constrange, cerceia ou nos impele a pensar cada vez mais amplamente, ensinando-nos a caminhar por nós mesmos, a nos autodescobrirmos?

Vemos, com pesar, que nem sempre suportamos essa mensagem libertadora, pois ainda ansiamos por muletas psicológicas, tendo dificuldade em avançar com esforço próprio e cônscios de nossas responsabilidades.

Observamos, com certa freqüência, que é mais fácil enxergarmos as faltas alheias que as nossas; que é mais estratégico exaltarmos as deficiências do outro para melhor encobrirmos as nossas; que é mais cômodo olhar em torno do que dentro de n

Nós. Esquecemo-nos de que a Doutrina Espírita é Jesus de volta a este conturbado planeta Terra e que é isto exatamente o que esta faltando ao aturdido homem do nosso tempo.

E ele nos diz ainda agora:

“Conhecereis a Verdade e ela vos libertará”.

“No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo”.

“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Libertar consciências e corações é realmente uma tarefa de vanguarda.

À Doutrina Espírita cabe, portanto, essa sublime missão: a de preparar e realizar o advento da Era do Espírito.

É de Emmanuel a palavra final:

“Infinito campo de serviço aguarda a dedicação dos trabalhadores da verdade e do bem. Problemas gigantescos desafiam os Espíritos valorosos, encarnados na época presente, com a gloriosa missão de preparar a nova era, contribuindo na restauração da fé viva e na extensão do entendimento humano. Urge socorrer a Religião, sepultada nos arquivos teológicos dos templos de pedra, e amparar a Ciência, transformada em gênio satânico da destruição”.

Ante os tempos novos e considerando o esforço grandioso da renovação, requisita-se o concurso de todos os servidores fiéis da verdade e do bem para que, antes de tudo, vivam a nova fé, melhorando-se e elevando-se cada um, a caminho do mundo melhor, a fim de que a edificação do Cristo prevaleça sobre as meras palavras das ideologias brilhantes.

Na consecução da tarefa superior, congregam-se encarnados e desencarnados de boa vontade, construindo a ponte de luz, através da qual a Humanidade transporá o abismo da ignorância e da morte.

(1)Citado por Erich Fron, In “Ter ou Ser?”


Suely Caldas Schubert