O Alicerce do Prédio Relacionamento

Quando com entusiasmo falamos para o nosso filho de 17 anos: “Filhão, quero te ver como um homem de sucesso na sua carreira profissional. Quero te ver na frente de todos”, acreditamos que com estas palavras de “incentivo” estamos ajudando-o. Com este procedimento nossa consciência fica tranqüila, pois, assim agimos por e com amor. Obviamente desejar o sucesso do filho é algo extremamente saudável e natural, no entanto, é preciso que saibamos que ter consciência tranqüila não necessariamente significa termos agidos da melhor forma possível. Pergunte a um ladrão se ele não estava com a consciência tranqüila quando assaltou aquela agência bancária!

O que de fato ocorreu no exemplo de nossa conversa com o filho, é que naquele momento jogamos uma responsabilidade e uma pressão incompatíveis com os desacertos e dúvidas do adolescente. É preciso que saibamos que em nome do amor cometemos muitas bobagens. Por exemplo, quantos pais na fase da velhice não se arrependem por terem batido em seu três primeiros dos cinco filhos quando eram crianças? Na época batiam “por amor”, para educá-los. Mas, interessante, também “por amor” os dois últimos nunca apanharam!

Se, na conversa acima, tivéssemos falado de forma diferente, algo assim: “filhão, prepare-se bem, dê o melhor de si, e quando precisar conte sempre com meu apoio”, poderíamos confiar com mais convicção nos bons resultados na vida profissional do nosso filho.

Quantas vezes erramos querendo acertar?

Quantas vezes ficamos com a nossa consciência tranqüila e, na realidade, estamos cometendo enormes erros? Mas por que erramos? Porque geralmente em nossas falas “motivadoras” temos como foco o prédio e não o alicerce. E você já viu algum prédio sustentar-se sem sólido alicerce?

Jack Welch com toda sua sabedoria disse: “Em vez de estabelecer metas específicas para os funcionários, desafie-os a lhe apresentar cada dia uma boa idéia.” Neste caso as metas são o prédio e as idéias são o alicerce. Quando uma pessoa constrói o alicerce passa a ter significado erguer o prédio. E o entusiasmo surge. Erguer o prédio antes do alicerce é impossível. E isto é o que ainda se faz em boa parte dos ambientes corporativos. Ou melhor, isto é o que mais se tenta fazer. Este equivocado procedimento é a fonte das nossas dificuldades de relacionamento e de liderança. Veja exemplos de empresas que agem acertadamente: a Cisco System premia seus vendedores não pelo total das vendas, mas pela qualidade do relacionamento com os clientes. E o que ocorre com este procedimento? Os vendedores vendem mais! A Cisco System constrói primeiro o alicerce para depois, naturalmente, erguer o prédio. Outro caso, a presidência da Soutwest Airlines, contrariando a lógica reinante na maioria das empresas, diz que na sua empresa os clientes estão em segundo lugar, os funcionários vêm em primeiro! Essa empresa tem consciência de que os clientes são o prédio, e os funcionários o alicerce. Como conseqüência, dezenas de bons livros de liderança citam a Soutwest Airlines como uma empresa modelar nos quesitos rentabilidade e clientes altamente satisfeitos!

A fala “pessoal, precisamos vender mais” precisa entrar em desuso. A nova diretriz é “pessoal, procuremos nos relacionar da melhor forma possível com nossos clientes”. “Vender mais” é o prédio, isto é, é a conseqüência. “Relacionar-se bem com o cliente” é o alicerce, é a base de sustentação do sucesso nas vendas. Outro exemplo: querendo acertar, erra o líder que foca somente na qualidade da produção. Para de fato acertar, o foco precisa ser primeiramente em quem produz, isto é, é preciso focar na qualidade de vida do funcionário.

Bernardinho, técnico brasileiro do voley, mundialmente consagrado, coloca em segundo plano a “vontade de vencer”. Pergunto: não é um - aparente - absurdo um técnico colocar em segundo plano a vontade de vencer?! Na realidade, na linguagem de comunicação eficaz, para Bernardinho a vontade de vencer é o prédio. O que muitos vêm como alicerce, Bernardinho assim não vê. Por isto é campeão. O alicerce é a “preparação do time”.

Disse Bernardinho: “A vontade de preparar um time para uma competição tem que ser maior do que a vontade de vencer”. Que produtiva lição podemos tirar desta afirmativa!

Reflitamos:
Se quisermos melhorar a qualidade do nosso relacionamento interpessoal, qual será o “alicerce” do “prédio” relacionamento?

A resposta: Se metaforicamente imaginarmos o relacionamento interpessoal como um prédio, este, para sustentar-se precisará de sólido alicerce. No caso em questão o alicerce é constituído do quatro pilares:

Diálogo;

Empatia;

Alteridade;

Assertividade.

Estes quatro itens representam, de forma abrangente, a plataforma do saudável relacionamento interpessoal.


Alkindar de Oliveira