O Médico das Almas

Jesus curava o corpo, pretendendo com isso curar a alma.

A enfermidade, disse elle, é herança do peccado. Por esta expressão simples, porém profunda, concluimos que a origem das doenças está no Espirito. As manifestações exteriores são effeitos de uma causa interna.

Coherente com este criterio, Jesus disse ao paralytico que padecera 38 annos e a quem havia curado: “Olha, já estás bom; portanto, toma cuidado, não peques mais, para que não te succeda coisa peor”.

Peccar é tentar contra as leis naturaes, que tudo abrangem, envolvendo os planos physico e moral. Deus creou o Espirito e creou o corpo, sujeitando ambos ao imperativo daquellas leis. A Hygiene é a religião do corpo; a Religião é a hygiene da alma.

Toda cura opera-se de dentro pára fóra, precisamente porque, as raizes do mal que affecta o corpo estão no Espírito. “Mens sana in corpore sano”. Ha causas cujos effeitos são immediatos; outras existem de con­sequencias remotas; mas, o facto incontestavel é que o principio de causalidade rege á Vida.

As enfermidades constituem anomalias, pois o natural é que o homem seja são. Para remi-lo da servidão do peccado, origem dos disturbios physicos e psychicos, veiu Jesus ao mundo. Por isso, quando deu a vista aos cégos, audição aos surdos, voz aos mudos, etc., não agiu em desaccordo com as leis naturaes, mas de plena conformidade com ellas, de vez que, restituindo a vitalidade áquelles orgãos, restabeleceu as suas legitimas funcções. Os olhos foram feitos para ver, os ouvidos para ouvir, as cordas vocaes para articularem a palavra.

Aprendemos no Evangelho que o corpo não é coisa desprezivel. Jesus attendeu sempre com solicitude e bondade ás supplicas de todos os enfermos que o procuravam, restaurando-lhes a saude. Encarando as mazellas humanas com piedade e commiseração, Elle não se enojava dellas. Extendeu, por vezes suas mãos bemfazejas sobre os estigmas e as deformidades occasionadas pela lepra, restabelecendo o corpo doente na sua conformação natural e nas suas linhas de harmonia e de belleza.

Jamais deu a entender a qualquer enfermo que não convinha zelar do physico e curar da sua conservação. Ensinou, pelo exemplo, que a materia, como instrumento do Espirito, deve ser convenientemente cuidada, de modo a prestar-se aos fins a que se destina.

Instrumentos desafinados e faltos de zelo compromettem a obra dos melhores artistas. As reacções entre o physico e o moral, o moral e o physico, são reciprocas e continuas, decorrendo desse phenomeno a necessidade do Espirito trazer o corpo debaixo do seu dominio. Governar e dirigir a materia, nunca, porém, despreza-la e, menos ainda, abandona-la aos caprichos e aos arrastamentos do instincto.

O corpo, disse S. Paulo, é templo de Deus. Para que o seja de facto, accrescentamos nós, é preciso que esteja sob o impe­rio do Espirito.

Das curas operadas pelo Divino Escu­lapio resultam dois beneficios: um de ordem material, outro de natureza espiritual. O primeiro consiste em sarar o corpo, que é geralmente o que todo doente procura; o segundo revela-se na communhão que então se estabelece entre o beneficiado e o bemfeitor, isto é, entre o paciente restabelecido e aquelle que promoveu a cura. Desta relação decorre o supremo bem para o Espirito, a sua redempção, ou, seja, a conquista da saude permanente do ser imperecivel.

Tal a méta visada pelo Christo de Deus.


Vinícius