O Lar e a Escola
Na marcha de uma idéia, como na de um exército, cumpre
observar com cuidado as necessidades que surgem em todos os momentos, as quais
nem sempre podem ser previstas e acauteladas previamente. Prever os imprevistos,
isto é, contar com eles, faz parte das cogitações do bom estrategista. No
desenrolar dos acontecimentos surgem problemas de cuja solução depende a
vitória. Não é possível traçar, de antemão, planos completos, mássicos e
irredutíveis, porquanto, circunstâncias ocasionais podem, por vezes, reclamar
alterações que desprezadas, comprometam o êxito da campanha.
A marcha ascensional dos ideais consubstanciados na terceira Revelação está
reclamando, no momento, certas medidas indispensáveis ao prosseguimento da
luminosa pugna. Menosprezá-los importa não só em sustar a arrancada realizada,
como em comprometer o terreno já conquistado.
Queremos referir-nos à premente necessidade de criarmos educandários espíritas,
onde os nossos filhos continuem recebendo, a par das disciplinas escolares, as
noções doutrinárias cujos rudimentos já tenham sido ministrados nos lares.
Toda obra, seja de ordem material ou moral, ergue-se sobre alicerces. Tais sejam
estes, tal será a segurança e solidez do edifício que se constrói. A obra da
regeneração social deve, pois, começar na criança. Fazê-lo partir de outro ponto
é construir sobre base movediça e instável. Até o presente, no entanto, nada se
fez neste particular, em nosso meio.
Nunca será ocioso lembrar que o alvo do Espiritismo está na iluminação interior
das almas aqui encarnadas. Logrado este objetivo, todos os demais problemas
serão resolvidos sem delongas nem maiores dificuldades, de acordo com a
magnífica visão de Jesus, quando disse: Buscai em primeiro lugar o reino de Deus
e a justiça; tudo o mais vos será dado por acréscimo.
O reino divino das realidades encontra-se nos refolhos da consciência humana.
Ensinar aos homens a descobri-la em si próprio, e, por ele, orientar-se, eis a
magna questão. Tudo o mais é acessório. Ora, a missão da Doutrina dos Espíritos
é precisamente essa: esclarecer, iluminar a mente do homem, de modo que ele
descortine, com clareza, o roteiro que o conduzirá à realização do destino
maravilhoso que lhe está reservado.
O programa espírita que se desvia deste carreiro não corresponde às finalidades
reais da doutrina. Nota-se entre os espiritistas a preocupação de realizar
convertimentos que se imponham pela sua vultosidade. Todos se empolgam na
contemplação de edifícios e de monumentos, desse ou daquele gênero, aos quais
dão o pomposo título de “Obras de Assistência Social”. Sem tirar o valor de tais
empreendimentos, cumpre, contudo, notar que acima deles está a iluminação das
consciências, que só se consegue através da educação.
É verdade que esta obra não aparece, não se revela de pronto, de modo a
satisfazer ao nosso açodamento em colher, desde logo, o fruto da nossa
sementeira. Não nos preocupemos com isso. O que é nosso às nossas mãos virá, não
importa quando, nem onde. Cumpramos o dever que o momento nos impõe, o dever
simples e singelo. Deus dará oportunamente, a cada um o que de direito lhe
caiba.
Se procurarmos saber qual a grande carência do mundo atual, neste momento
angustioso que ora passa, chegaremos à conclusão de que a sua suprema
necessidade é – compreensão. – Se os homens tivessem compreensão,
entender-se-iam facilmente, desaparecendo as causas de dissídio que os separa e
infelicita.
A Terceira Revelação está destinada à missão de projetar na razão humana as
claridades divinas.
A época em que estamos requer abnegação, trabalho e renúncia. Com estes
elementos, a Doutrina dos Espíritos consumará, no seio da humanidade, sua obra
de regeneração individual e social.
O Espiritismo, para vencer, não precisa de vultosas somas; dispensa bafejo dos
grandes e poderosos da Terra; prescinde de ostentações e fachadas; independe de
numerosos prosélitos: basta que possa contar com o coração das mães, com a
autoridade paterna dentro dos lares e com a modesta contribuição do
mestre-escola.
NOTA: - Escrevendo em “The Month”, jornal católico Romano, o sr. H. Sutherland
refere-se a vasto número de fraudes no Espiritismo, mas acaba por confessar que
há médiuns honestos, honestos investigadores, e provas evidentes da comunicação
do espírito dos “mortos” com os vivos.
Vinícius