Kardec e o Judaísmo
As ligações do Espiritismo com o Judaísmo são de ordem
histórica, profética, escriturística e fenomênica (e que vale dizer: mediúnica).
Historicamente o Judaísmo é o ponto de partida da concepção espírita da vida e
do mundo, Kardec o considera como a I Revelação, personificado em Moisés e
desenvolvida pelos profetas. Essa revelação, codificada na Bíblia (Velho
Testamento), anuncia outra que virá com o Messias; o Cristianismo ou a II
Revelação.
Está, personificada em Jesus, como o Cristo ou Messias de Israel e codificada
nos Evangelhos, anuncia outra que virá com o Espírito de Verdade: O Espiritismo
ou III Revelação.
Kardec explica esse processo histórico na introdução do mais popular dos seus
livros, que é “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Mas trata do assunto nas
demais obras da Codificação, ou seja, nos cinco livros fundamentais da doutrina
espírita, também chamados, por analogia bíblica, de pentateuco Kardeciano. O
Judaísmo é considerado como um momento de síntese da evolução espiritual da
Terra. Um momento decisivo, que assinala a transição do nosso planeta, de seu
estágio de misticismo-supersticioso (psiquismo indiferenciado) para o estágio
superior de misticismo-racional, com o aparecimento de monoteísmo.
O povo judeu foi o primeiro povo monoteísta da História. Antes, houve
antecipações monoteístas em várias religiões, mas sempre restritas aos meios
dirigentes. A própria transição dos judeus para o monoteísmo é assinalada na
Bíblia como uma fase de lutas dolorosas, como se vê no episódio das táboas da
lei, no Sinai.
Mas, consolidado o monoteísmo judeu como concepção popular, houve um povo e um
ambiente capazes de permitir a encarnação do Cristo na Terra, para dar ao
planeta um novo impulso evolutivo. O Cristianismo é o desenvolvimento de uma
nova concepção de vida, também dolorosamente conquistada, mas que prepara o
advento da concepção espírita.
Em “O Céu e o Inferno”, terceiro volume da codificação espírita, Kardec assinala
que o Judaísmo, ao contrário das religiões cristãs, não se levantou contra o
Espiritismo. E considera esse fato como uma decorrência natural de conteúdo
espírita da revelação mosaica e de todo o seu desenvolvimento profético.
Estudando a acusação católica de que o Espiritismo é condenado pelo capítulo 18
de “Deuterônimo”, mostra que essa condenação não abrange o Espiritismo e
representava apenas uma medida contrária às práticas mágicas e supersticiosas da
época, que os israelitas haviam aprendido no Egito . Mostra ainda que todas as
condenações de Deuterônimo correspondem às do Espiritismo em nossos dias, no
tocante à prática da mediunidade. Como se pode, pois, acusar o Espiritismo pelo
que ele mesmo condena?
A ligação profética do Espiritismo com o Judaísmo vem das anunciações da Bíblia
e dos Evangelhos sobre as revelações futuras.
As ligações escriturísticas vêm da seqüência natural dos textos religiosos: da
Bíblia aos Evangelhos e destes ao Livro dos Espíritos. A ligação fenomênica é de
natureza mediúnica.
A tenda de Moisés no deserto era uma câmara mediúnica em que se davam até mesmo
fenômenos de materialização, como se pode ver diretamente nos relatos bíblicos.
Herculano Pires