O Fermento e Nós
Há passagens Evangélicas que nos levam à profunda reflexões.
As vezes, para melhor entendê-las precisamos compará-las com coisas simples da
vida. Por exemplo: o fermento.
Quando se coloca o fermento na massa e a deixamos repousar, aquele se mistura
molécula a molécula na farinha, provocando o seu crescimento, a sua expansão.
Num dado momento Jesus disse: “Eu sou o pão que desceu do céu, aquele que não
comer de mim, não poderá ter parte comigo”. As palavras espantaram muitos de
seus seguidores, e cerca de 500 homens o abandonaram, julgando que o Mestre
queria transformá-los em antropófagos. Não entenderam o transcendental das
palavras do Rabi Nazareno. Certamente não tinham ouvidos de ouvir.
Mas, o que acontece com o pão que mastigamos e deglutimos? Ele é digerido, e os
seus nutrientes se incorporarão ao nosso sangue, que nutrirá as células, e a
massa não aproveitada, é expelida por vias naturais.
Não seremos evangelizados enquanto não vivenciarmos este processo. Temos que
interiorizar o Evangelho, digeri-lo com a mente, com o entendimento, e ele
passará a circular em nossas emoções. Ele vai fortalecer a nossa vontade e
manifestar-se de dentro para fora.
Da mesma forma, existe uma parte dos textos evangélicos que não podemos aceitar,
porque foram adulterados, interpolados ou são apenas figurativos. Um mecanismo
natural da nossa inteligência o rejeitará.
Passemos este raciocínio para o Espiritismo. O conhecimento espírita tem que ser
interiorizado, para ser vivenciado. Quando sabemos o que ele é, para que serve,
e o conhecemos profundamente, ele se expande de dentro para fora, e o
testemunhamos no dia-a-dia.
Não se trata de um encantamento exterior, como algo belo que nos chama a
atenção, mas de alguma coisa que muda o nosso interior. É como uma potência que
se atualiza, é a descoberta do Reino de Deus dentro de nós. Quando acontece este
“insight” , podemos parafrasear Paulo de Tarso: “Já não sou eu que vivo, mas a
Doutrina Espírita que vive em mim”. Assim como Paulo se referiu à Cartas vivas
do Evangelho, passamos a ser um “livro Vivo”, porque além de conhecer, sentimos
e praticamos.
No Espiritismo não existem iniciações ou graus, contudo, existem intensidades
diferentes, ou tensões mais altas ou mais baixas de ligação com a Doutrina. O
esfriamento, a rotina entediante aparece quando nossa participação doutrinária é
amorfa, ou centramos nossos interesses nas possíveis vantagens que possam ser
auferidas.
Não corra esse risco. Tenha uma participação dinâmica, entusiasmada, para que a
Doutrina Espírita o impregne até a medula dos ossos.
Amilcar Del Chiaro Filho