Uma Lição e uma Graça
RESIDÍAMOS EM TRÊS RIOS, no Estado do Rio, e realizávamos no
lar o Culto Cristão, em atenção a um conselho medicamentoso do venerável
Espírito Bezerra de Menezes.
Nossa prezada esposa, já aí, estava com a vidência espontaneamente aparecida.
Conosco na direção dos trabalhos, duas abnegadas irmãs - Filizualina Jacó e
Sinhá Carneiro - pela psicografia nos traziam consolações, esclarecimentos e
graças comovedoras.
Regra geral, não recebíamos outras pessoas senão as citadas e que conosco
participavam do ágape espiritual durante o qual líamos "O Evangelho segundo o
Espiritismo". Mas, embora ignorando nossa humilde tarefa, compareciam às vezes
alguns amigos, levados pelas mãos dos Espíritos que nos assistiam.
Certa vez, porém, um estimado confrade nosso, espírita da velha guarda,
ignorando a sessão, compareceu ao nosso lar, acompanhado de um médico
recentemente chegado à localidade para ali fixar residência e sua clínica. Ambos
desejavam assistir a uma reunião espírita e receber passes.
Abrimos uma exceção e os recebemos, sentindo, todavia, que suas presenças
acanhavam os médiuns.. . Os trabalhos foram iniciados. A lição do Evangelho,
depois da prece, versou sobre o capítulo dos "chamados", particularizando a
"porta estreita".
Comentamos, de leve, a magistral página, lembrando um caso que se dera conosco,
quando um pastor comparecera ao Centro Espírita de cuja Diretoria fazíamos
parte. Conversando então sobre aquela mesma lição - "Eu sou a porta" -, fizera-o
numa comparação rigorosa com os templos de pedra, obrigando-nos, delicadamente,
a discordar de seu ponto de vista.
Sentíamos que os Espíritos presentes nos inspiravam a recordação do caso e a
repetição do nosso comentário, visto como desconfiávamos de que as visitas
extraordinárias vinham do Protestantismo, ainda conservavam idéias acanhadas e
ali estavam buscando ilusões, benefícios materiais, vitórias da "Porta larga" .
. .
Nossa esposa viu no copo com água, ao seu defronte, o Espírito de um militar e o
descreveu com os óculos na ponta do nariz e trazendo um corte de espada no lado
esquerdo do rosto... Então, o médico arregalou os olhos e, como que
envergonhado, abaixou a cabeça e começou a chorar, emocionadíssimo, murmurando
- Ê meu pai. . .
Depois, uma das médiuns psicografas recebeu pequeno recado, que dizia: "Você,
meu filho, como fez num Centro, em Niterói, busca ajuda material e se esquece de
realizar, como prometeu, uma missão apostolar na arte de curar corpos e almas..
. "
- Ê minha mãe, que me repete seu conselho, feito há dias, num Centro Espírita de
Niterói - concluiu nosso médico visitante. . .
O Culto foi encerrado com emoção e lágrimas doces pela graça alcançada, benéfica
a todos nós. As visitas, agradecidamente, saíram. Ficamos, um pouco, tocado pelo
que acontecera.
Tempos decorreram. E, mais tarde, soubemos que o médico em causa, com a lição
recebida, compreendeu sua missão e realizou, numa cidade mineira para onde se
transferira com a família, o trabalho verdadeiro do Senhor, procurando fazer da
Medicina um sacerdócio e realizando, assim, a terapêutica do Evangelho de Nosso
Senhor Jesus Cristo, o Médico dos Médicos!
Ramiro Gama