Homenageando O Livro dos Espíritos
Cessaram, por fim, as lutas fratricidas, desencadeadas pela
Revolução de 89 e as que o Terror houvera esculpido em forma de marcas terríveis
no organismo da sociedade, abrindo espaço para o vandalismo que pretendera
expulsar Deus da França...
Apesar disso, os direitos do homem surgiram das derrotadas ambições apaixonadas
dos grupos hostis, fazendo tremular nos altiplanos do pensamento a mensagem de
esperança para as criaturas.
As turbas guerreiras também silenciaram por um momento, quando o Corso se fez
coroar imperado, na Catedral de Notre Dame , no dia 2 de dezembro de 1804, ao
som comovido do coral de duzentas vozes que entoava Pompa e circunstancia,
especialmente composta para a festividade, ä qual comparecera o Papa Pio VII.
O século das luzes raiava então sob claridades diamantinas e as hostes do
Consolador utilizaram-se da ocasião, a fim de que mergulhassem na névoa carnal
os Espíritos de escol, encarregados de resgatar o progresso da humanidade e de
promover a felicidade dos seres.
Dois meses antes, no silencio natural que a trégua das belicosidades facultara,
reencarnou-se o mártir de Constança, que retornava das cinzas da fogueira
hedionda em que tivera o corpo consumido em 1645, para instaurar a Era Nova, nas
roupagens de Allan Kardec.
Cientistas destinados a desalgemar as pesquisas dos rigores da escravidão
religiosa; filósofos designados para ampliar as áreas do pensamento obscurecido
pela ignorância; artistas com propósitos de estabelecer o romantismo, e mais
tarde quebrarem as frias linhas do rígido academicismo; religiosos enobrecidos
pelo exemplo; incumbidos de libertar o Cristianismo das aberrações dogmáticas;
fisiologistas e psiquiatras com domínio do conhecimento mais profundo do ser,
programados para desempenhos da sua dignificarão como da diminuição dos seus
sofrimentos; investigadores da vida nas suas várias expressões, com tarefas de
decifrar o microcosmo e a vida bacteriana, assim como outros heróis da evolução,
desceram ao círculo de sombras do mundo, para preparar e estabelecer a Nova Era,
na qual, o pensamento do Cristo penetraria a razão e se firmaria na conduta dos
indivíduos, facultando o surgimento de uma Ciência de observação, cujos
paradigmas especiais estabeleceriam uma filosofia de comportamento moral e
religiosos compatível com o desenvolvimento intelectual do ser humano e da
sociedade. Nesse campo rico de sentimento de luz, que germinavam em abençoada
seara, Allan Kardec apresentou O Livro dos Espíritos, no dia 18 de abril de
1857.
Na Paris de então, quando as idéias surgiam pela alvorada, amadureciam ao
meio-dia e feneciam ao entardecer, o conteúdo desse livro magistral fincou bases
duradouras e enfrentou os aranzéis costumeiros, permanecendo irretocável pelos
tempos do porvir.
Apresentando, por primeira vez, uma fé racional, que pode enfrentar a razão em
todas as épocas da humanidade, portanto, legítima, os seus ensinamentos têm a
ver com os mais diferentes ramos da Ciência, propondo uma nobre Filosofia
espiritualista, rica de otimismo e bem-estar, cujos alicerces se fundaram na
ética-moral proposta por Jesus.
Enquanto desvitalizadas, as doutrinas religiosas do passado oferecem seiva ao
materialismo que trombeteava as suas vanglorias embora de curta duração. O
Espiritismo veio para iluminar e acalmar as consciências em sombras e tormentos,
propondo o modelo do homem de bem, ideal, que se faz construir com os
equipamentos do amor, do conheciemnto e da experiência em torno da própria
imortalidade.
Estudando Deus e o Infinito, a matéria e o Espírito , a Criação, o principio
vital, as causas e os sofrimentos, a encarnação, a desencarnação e a
reencarnação, aprofunda análise em torno do intercambio espiritual, dos
fenômenos que dizem respeito ao sonambulismo e ao êxtase, ao sono e aos sonhos,
ás Leis que regem a vida, às esperanças e as consolações, revelando-se como a
maior síntese do pensamento a respeito do Universo, da vida, dos seres e da sua
evolução, causando impacto cultural e firmando novos conceitos nas páginas vivas
da História, marco decisivo para a transformação que começou a operar-se no
planeta terrestre.
Antes desse livro incomum, obras demarcatórias dos períodos de cultura, ética e
civilização abriram espaços especiais para o pensamento.
Reconhecendo-lhes o valor e a oportunidade quando foram apresentadas, O Livro
dos Espíritos é a ponte entre o passado e o futuro, num ininterrupto presente,
no qual o conhecimento em evolução encontra as causas que o explicam nas várias
expressões em que se revela.
Avançando com o progresso, suas lições não foram ultrapassadas; antes tem sido
confirmadas em profundidade e significado, preenchendo as lacunas existentes a
respeito da causalidade do Universo e da Criação.
Linha mestra da Doutrina Espírita, dele se deriva as quatro outras Obras que
formam o edifício cultural do Espiritismo, tornando-se fonte inexaurível de
sabedoria e de conforto, dantes jamais encontrada em alguma outra obra
conhecida.
Na atualidade, cento e quarenta anos transcorridos, após acompanhar a evolução
da Física newtoniana para a nuclear e a quântica; da Biologia para a exuberante
Embriologia; da nascente eletricidade para a eletrônica; da Química para as
extraordinárias análises radiotivas; dos fenômenos psíquicos para os para
psicológicos, psicobiofísicos, psicotrônicos e da transcomunicação instrumental;
das viagens de tração animal, a motor de explosão para as conquistas da
astronáutica; do telégrafo a fio para as telecomunicações; do fonógrafo
incipiente para as técnicas da digitação, somente tem sido confirmadas suas
teses, algumas das quais ínsitas nas páginas cm admirável antecedência e
precisão...
Enfrentando as teorias de Charles Darwin, de Spencer, de Russell Wallace – que
se tornou espírita-, de Schopenhauer, de Nietszche, de Kant, do marxismo, do
niilismo, as hectombes das duas guerras mundiais, a decadência da fé religiosa,
tem sustentado o seu arquipélago doutrinário com equilíbrio, deslumbrando as
mentes de ontem como as de hoje pela força das suas conceituações exatidão dos
seus postulados, engrandecendo-se mais ainda ao exaltar Jesus como o modelo e
guia da humanidade, o ser mais perfeito que Deus ofereceu ao homem.
Profundamente agradecido a Allan Kardec, o eminente Codificador do Espiritismo,
homenageamos O Livro dos Espíritos pelo transcurso do seu centésimo quadragésimo
aniversário de publicação, exorando as bênçãos de Deus para que o seu fanal seja
alcançado, qual o de construir o homem feliz, livre da dor e das paixões
envilecedoras.
Vianna de Carvalho