(*) ISO 26000 - Oportunidades e Desafios
Em artigo de março/2006 meu foco foi a ISO 26.000 (para quem
não o leu e tiver interesse em conhecê-lo, basta solicitar que o enviarei). Este
texto tem o mesmo foco do artigo citado, mas visa sobretudo evidenciar as
oportunidades e os desafios do movimento espírita para aproveitar deste
importante instrumento, que representa a tão aguardada normatização da função
social das empresas.
Para o leitor melhor inteirar-se do tema, informo de forma sintetizada, que a
ISO 26.000 (a surgir em 2.007) vai estimular as empresas a injetarem abundantes
recursos financeiros nas obras assistenciais, numa proporção que nunca ocorreu
antes.
Um novo momento!
Para que fique ainda mais evidente a importância deste momento, ressalto que o
assunto responsabilidade social tem sido até há pouco apenas um apêndice da área
de Recursos Humanos das empresas. No entanto, a partir do anúncio do surgimento
da ISO 26.000, as empresas, principalmente as de porte médio e grande, estão
criando Departamentos e/ou Diretorias de Responsabilidade Social. Isto é, o
assunto "responsabilidade social" passa a merecer, por parte das empresas,
estruturação e ORÇAMENTO!
De PEDINTES a OFERTANTES!
Por que haverá recursos financeiros abundantes para a área assistencial?
Veja os principais motivos:
a) Para bem projetar sua imagem no mercado, a empresa terá que ser portadora do
SELO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL, a ser criado em 2.007 pelas normas da ISO
26.000;
b) Para ser portadora do SELO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL, a empresa terá que
realizar ou atender obras no campo social;
c) As empresas não são especializadas em atuarem em projetos sociais, segmento
este que conta principalmente com a ação efetiva das instituições assistenciais
religiosas;
d) Como as empresas não têm a especialização citada no item anterior, e como não
querem sair do seu foco produtivo, precisarão utilizar-se das estruturas das
instituições assistenciais, ou então de ONG’s, que têm como base de ação as
obras sociais;
e) Deduz-se das informações acima, que as instituições assistenciais terão uma
fonte contínua e segura de recursos financeiros. Em outras palavras, finalmente,
as entidades assistenciais passarão de pedintes de recursos financeiros, para
ofertantes de serviços.
Vejamos a seguir as oportunidades e os desafios para o movimento espírita, em
função deste novo momento.
Primeiro Desafio & Oportunidade:
Elaboração de Projetos
As empresas irão investir em entidades assistenciais que apresentem projetos
consistentes, bem elaborados e de fácil fiscalização da correta utilização dos
recursos financeiros injetados. Para atender as empresas, as instituições
sociais terão que elaborar projetos sérios e bem fundamentos. As instituições
que tiverem projetos bem fundamentados, terão a oportunidade de receberem os
recursos financeiros oriundos das empresas.
Neste primeiro momento, não imaginemos que serão fáceis os procedimentos dos
Centros Espíritas para se adaptarem a esta nova realidade. As entidades
espíritas que quiserem obter recursos, perceberão que será complexo e difícil o
período de adaptação às normas da ISO 26.000 e também às conseqüências destas
normas. Será preciso quebrarmos paradigmas, sem deixar de sermos espíritas. Como
a ISO 26.000 foi projetada inicialmente no mundo espiritual (como qualquer
instrumento de progresso da humanidade), creio que nossa adaptação a este
instrumento irá nos despertar ao fato do que é ser verdadeiramente espírita.
Segundo Desafio & Oportunidade:
O necessário profissionalismo na elaboração dos projetos.
Para a elaboração de projetos consistentes e bem fundamentados as instituições
assistenciais terão que se valer, na elaboração dos mesmos, de profissionais
altamente gabaritados. O que implica – na maioria dos casos - em eliminar a
possibilidade de voluntários abraçarem esta causa. Pois, a complexidade dos
projetos exige permanência e continuidade dos que o estarão elaborando. E
voluntários têm geralmente (há exceções) que se dedicar a maior parte de seu
tempo ao trabalho profissional que lhe dá o necessário sustento financeiro. Mas
como investir em funcionários altamente gabaritados se o Centro Espírita
geralmente tem grande dificuldade financeira para manter sua rotina do
dia-a-dia? A alternativa será as casas espíritas se unirem na cotização dos
recursos para fins da contratação destes profissionais.
É importante esclarecer: Não haverá motivo para contratar profissionais, se a
entidade espírita tiver voluntários altamente comprometidos, conhecedores do
tema ou dispostos a conhecerem-no, e que possam dedicar-se de forma contínua e
persistente a este novo projeto.
Terceiro Desafio & Oportunidade:
As empresas não irão atender as obras assistenciais das pequenas instituições.
Pelo perfil do mundo corporativo, que querem agilidade, simplicidade e baixo
custo, as empresas não irão investir de forma direta em, por exemplo, 30 casas
assistenciais. Pois, o serviço de auditoria contábil e fiscal para verificar a
utilização dos recursos, demandaria tempo e dinheiro.
Mas as empresas poderão investir indiretamente nestas 30 casas assistenciais.
Como? Basta aproveitarmos da oportunidade de conseguir o que há anos temos como
objetivo na seara espírita, e que ainda caminhamos a passos lentos: a união.
Através da união das casas espíritas, poderia se formar uma única ONG (regional)
que centralizasse a injeção de recursos e os distribuísse a todas as casas
assistências assistidas. Desta forma a empresa centralizaria seu contato numa
única instituição, isto é, a ONG, e esta, por sua vez, repassaria os recursos,
conforme o exemplo, a 30 instituições diferentes.
O grande risco:
Certamente profissionais não éticos e mal intencionados já estão formatando
projetos visualizando a grande geração de recursos que a ISO 26.000 propiciará.
Estes profissionais entrarão como intermediários no processo, com o objetivo de
serem ganhadores de significativo percentual dos recursos injetados.
Como resolver este problema?
A sugestão é que através da união das instituições religiosas de determinada
região, seja criada uma ONG, onde seja tomado o especial cuidado de ser dirigida
por pessoas confiáveis, idealistas e comprometidas com a causa social. Então
essa ONG eticamente responsável, seria o canal entre o mundo corporativo e as
casas assistenciais.
Conclusão-I:
Nunca a oportunidade de união entre as casas espíritas se fez tão presente como
agora. Pois, não há como criar bons projetos - a custos baixos - sem união.
Conclusão-II:
Nunca a oportunidade da prática do ecumenismo se faz tão presente como agora.
Pois, a abertura de ONG's regionais, que necessariamente não têm estrutura
religiosa, fará com que as casas assistenciais das mais diversas religiões se
unam para juntas criarem uma mesma ONG. O que significará menos custos para as
instituições e, assim, poderão beneficiar-se dos recursos advindos da
implantação da ISO 26.000.
Finalizando:
Portanto, união, unificação e ecumenismo são as palavras-chave desta Nova Era.
Na questão 768, d'O Livro dos Espíritos, Kardec esclarece: "(...) Nenhum homem
dispõe de faculdades completas, é pela UNIÃO SOCIAL que eles se completam uns
aos outros, para assegurarem o seu próprio bem-estar e progredirem". Este texto
atualíssimo escrito em livro editado em 1857, traduz com clareza e lógica a
importância e a necessidade de, para o nosso próprio bem, valorizarmos a UNIÃO
SOCIAL.
De forma semelhante ao meu artigo anterior (que tratou do mesmo tema), encerro
este reiterando: Se até agora o amor não conseguiu unirmo-nos, quem sabe o
dinheiro consiga!
(*) Este artigo foi elaborado baseado em deduções de Encontro Espírita ocorrido
na cidade de Uruguaiana-RS, em 15 de abril/2006. Nesse encontro, onde estive
presente como mediador, houve a participação de líderes de Centros Espíritas
daquela região, bem como de representantes da Federação Espírita do Rio Grande
do Sul, do CRE - Coordenadoria Regional Espírita e das UME's (União Municipal
Espírita). A finalidade do evento foi o de encontrar caminhos para que o
movimento espírita possa bem utilizar-se das oportunidades que a ISO 26.000 írá
proporcionar às obras sociais em geral e, em particular, às instituições
assistenciais espíritas.
Alkindar de Oliveira