A Espiritualidade e o Centro Espírita

O Espiritismo é uma doutrina muito séria para que se aprenda seus princípios por mera curiosidade, ou se faça sua prática sem a devida responsabilidade, sem medir-lhe a conseqüências.
Doutrina de educação por excelência, o Espiritismo repousa em bases filosóficas e científicas com conseqüências morais de profundo alcance para o indivíduo e a sociedade; por isso as advertências de Allan Kardec e dos Espíritos Superiores aos espíritas, para que não procurem no Espiritismo um passatempo ou uma fórmula mágica de cura dos males físicos e emocionais.
Quem assim procede, banaliza o Espiritismo, acomoda-o a conveniências personalistas e deturpa-o!
É a falta de estudo e compreensão das obras da Codificação, ou seja, os livros organizados por Allan Kardec a partir do ensino dos Espíritos Superiores, que tem levado muitos espíritas imprevidentes a desviarem os objetivos e as práticas do Centro Espírita.
E qual é a função do Centro Espírita? Como os Espíritos compreendem o Centro Espírita?
A bibliografia em torno do assunto, desde Allan Kardec, é vasta, mas para nos atermos ao modelo didático de objetividade, trazemos para análise o texto do Espírito Bezerra de Menezes, pela médium Yvonne Pereira, que se encontra no livro "Dramas da obsessão", em sua 3a parte, item 3, editado pela Federação Espírita Brasileira.
Começa o venerável apóstolo do Espiritismo no Brasil informando-nos que as vibrações de um Centro Espírita têm o cuidado especial dos Espíritos encarregados de zelar pelas atividades e ambientes. Esse cuidado se faz tendo em vista: 1. os fluidos úteis necessários aos diversos trabalhos; 2. a aplicação desses fluidos à cura de enfermos, à desobsessão e à explanação doutrinária; 3. que os fluidos são indispensáveis para a ação espiritual a serviço do bem.
Aprofundando o assunto, diz-nos: "Essas vibrações, esses fluidos especializados, muito sutis e sensíveis, hão de conservar-se imaculados, portanto, intactas, as virtudes que lhe são naturais e indispensáveis ao desenrolar dos trabalhos, porque, assim não sendo, se mesclarão de impurezas prejudiciais aos mesmos trabalhos, por anularem as suas profundas possibilidades.".
Vibrações, fluidos que possuem virtudes?
Tem razão Bezerra de Menezes. Basta estudar "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec, para certificarmo-nos dessa verdade, pois são os fluidos os agentes de que se servem os Espíritos para sua ação, dando-lhes as propriedades necessárias de que carecem. Como os cientistas, nos laboratórios, preparam suas substâncias medicinais.
Se o ambiente vibratório do Centro Espírita estiver em desequilíbrio, os fluidos nele armazenados pela Espiritualidade receberão uma carga negativa e ficarão impuros. O desequilíbrio ocorre das seguintes maneiras: desrespeito dos freqüentadores, trabalhadores e dirigentes aos fins das reuniões espíritas; frivolidade e inconseqüência na prática espírita; maledicência e intriga entre os que estão no Centro Espírita; mercantilismo e mundanismo nas dependências do Centro; ruídos e atitudes menos graves durante as atividades.
Essas atitudes trarão para o Centro Espírita aqueles Espíritos que se afinizam, sintonizam com tais perturbações, ocasionando o afastamento dos Bons Espíritos, que nele não conseguem encontrar o ambiente adequado para as realizações de ordem superior. É assim que os processos sutis da obsessão começam a se instalar, desorganizando a prática espírita e retirando do Centro o adjetivo "espírita" do seu conteúdo.
Quantos Centros há que ostentam, no estatuto e na fachada, o título "espírita", mas neles não encontramos o Espiritismo!
Voltamos a reafirmar a importância do estudo das obras básicas, pois fora da Codificação, não há Espiritismo.
O Centro Espírita, através de seus dirigentes, dos seus trabalhadores, e também dos seus freqüentadores, na medida em que se esclarecem no estudo do Espiritismo, deve manter o bom padrão das vibrações, dos fluidos espirituais.
É ainda Bezerra de Menezes que esclarece o como conseguir isso: as mentes (os pensamentos) devem estar sintonizados com o respeito; os corações precisam emitir fé, com convicção; as aspirações necessitam ser elevadas para além dos interesses materiais; a palavra, nas conversações e estudos, não pode resvalar para futilidades, fofocas e comentários menos dignos; pensamento disciplinado no bem sintonizando com os Bons Espíritos; comunhão mental com os Espíritos familiares ou guias espirituais no lugar de cerimônias e passatempos infrutíferos.
A instrução espiritual lembra-nos que: "(o Centro Espírita) fiel observador dos dispositivos recomendados de início pelos organizadores da filosofia espírita, será detentor da confiança da Espiritualidade esclarecida (...)".
Quem são esses organizadores? Acaso não seria apenas um, ou seja, Allan Kardec? Não! Os organizadores da filosofia espírita são os Espíritos Superiores, que através do concurso de diversos médiuns, e com a colaboração de Kardec na organização dos ensinos, trouxeram para nós o Espiritismo, ou Doutrina Espírita.
É de importância fundamental que os dirigentes do Centro Espírita tenham essa compreensão, para que o estudo do Espiritismo seja colocado na frente da prática espírita, pois o bom entendimento da teoria previne contra os erros e oferece à Espiritualidade, como lembra Bezerra de Menezes, campo propício ao bom trabalho em benefício do próximo.
Finalmente, uma séria advertência, para nossa profunda reflexão: "Somente esses (os Centros Espíritas fiéis observadores ...), portanto, serão registrados no Além-Túmulo como casas beneficentes, ou Templos do Amor e da Fraternidade, abalizados para as melindrosas experiências espíritas, porque os demais, ou seja, aqueles que se desviam para normas ou práticas extravagantes, serão, no Espaço, considerados meros clubes onde se aglomeram aprendizes do Espiritismo em horas de lazer".
Apesar do conteúdo esclarecedor e orientador da Codificação, e das advertências e ensinos dos Bons Espíritos, florescem pela sociedade humana vários "clubes espíritas" que se fazem passar por Centros Espíritas, disseminando práticas estranhas e deturpando o Espiritismo.
É para discernir sobre o que é Espiritismo e o que não é, para esclarecer a verdadeira da falsa prática espírita, e do verdadeiro papel que cabe ao Centro Espírita desempenhar na regeneração moral e espiritual do indivíduo e da humanidade, que empreendemos este estudo, sem a intenção de esgotar o assunto ou dizer a palavra final, mas alertando para a superior finalidade da existência do Centro Espírita no seu trabalho de promoção humana, de escola de almas, de detentor do ensino e da prática do Espiritismo.
Nossa palavra não mereceria atenção se fosse apenas a exteriorização de um pensamento individual, mas o que procuramos fazer foi trazer para as páginas deste artigo o pensamento da espiritualidade.


Marcus Alberto de Mario