Como Atingirmos a Maturidade?
No reino vegetal o fruto atinge seu ápice na fase final de sua
vida. Diferentemente, no reino hominal o homem não precisa esperar atingir
avançada idade cronológica para iniciar o seu período de maturidade. E isto faz
muita diferença. Enquanto é a natureza que define a época do fruto ficar maduro,
no âmbito humano é o próprio ser que é o escultor de sua vida. Ele pode ser um
indivíduo auto-consciente (o melhor sinônimo de maturidade) aos 25, 30 ou 40
anos, sem ter que esperar chegar aos 70 ou 80 anos de idade.
Em tese o ser adulto é aquele que soube bem aproveitar dos desafios inerentes à
fase infantil e à fase da adolescência, para ser portador de personalidade plena
e rica. Portanto, em tese, o ser adulto é aquele que atingiu a maturidade. No
entanto, na prática muitas vezes a realidade é outra. Existem adultos que em
alguns momentos agem de forma tão egocêntrica quanto uma criança; assim como
existem adultos que ainda não decidiram o que quer da vida, que é o maior
desafio dos adolescentes. E a verdade é que o adulto que age de forma
egocêntrica, ou que ainda não sabe o que quer da vida, não pode afirmar que
atingiu a maturidade. Muitas vezes está vivendo o que se denomina de
auto-ilusão.
No meio corporativo ou institucional atingir a maturidade precisa ser a meta de
um bom líder. Pois, o líder que atinge esta meta reúne as principais qualidades
que o mundo corporativo e institucional exigem, que são: saber ouvir; exercitar
a autoridade com humildade; ter paixão pelo desenvolvimento dos seus liderados;
acreditar que tem mais valia o homem do que o profissional; procurar significado
em tudo o que faz.
Com o propósito de encontramos um caminho para sermos pessoas maduras
(auto-conscientes), vejamos a seguir as características dos degraus evolutivos
do ser humano e, ao final deste texto, a descrição de um importante atalho para
atingirmos a maturidade:
I- Fase Criança ou Fase Contemplativa
É a fase em que o ser é dependente dos que lhe cercam (pais e educadores,
principalmente).
Algumas qualidades positivas desta fase: contentamento; humildade; afetividade.
Algumas qualidades aparentemente negativas: egocentrismo, teimosia, birra;
dependência; ausência da alteridade.
II- Fase da Adolescência ou Fase Questionadora
É a fase em que o ser comporta-se de forma independente, como se o mundo que o
rodeia pertencesse somente a si próprio.
Algumas qualidades positivas desta fase: cultivo da amizade; alteridade;
vivência em grupo; um desejo enorme de mudar para melhor o mundo à sua volta.
Algumas qualidades aparentemente negativas: rebeldia; independência; ausência de
missão de vida bem definida; necessidade extrema de auto-afirmação;
inconstância.
Importantes observações:
Tomei o cuidado do inserir logo acima a expressão “aparentemente” negativas,
para melhor esclarecer que, por exemplo: a rebeldia, que muitos julgam ser um
defeito dos jovens, é a qualidade mais marcante de grandes vultos que mudaram a
história da humanidade. Se estudarmos a biografia de Che Guevara, Gandhi e
Jesus, iremos notar que foram personalidades que se rebelaram contra a
injustiça. E quem se rebela é...um rebelde! Portanto, a rebeldia não é em si um
mal. A grande questão é como e porquê a utilizamos.
O egocentrismo da criança e a rebeldia dos adolescentes são características da
personalidade que muitas vezes os adultos as analisam de forma negativa, mas na
realidade elas são positivas, ou impulsionadoras do desenvolvimento humano, como
explica o texto a seguir.
a) A fase criança:
Um ser adulto egocêntrico representa uma distorção da personalidade. Por outro
lado, uma criança egocêntrica está se descobrindo, está aprendendo a valorizar a
si própria (mesmo que seja ainda de forma egoísta), mas este proceder –
aparentemente negativo – é a semente que na fase madura tende a fazer o adulto
valorizar sua auto-estima, sem ser egocêntrico.
A fase egocêntrica da criança pode ser comparada aos procedimentos de um adulto
quando pela primeira vez compra um carro novo. O seu foco inicial não é a
estrada e os seus desafios, mas, sim, “como funciona o carro”. É a fase do
deslumbramento. O adulto quer conhecer e saber como funcionam os instrumentos do
carro. Depois da fase do deslumbramento, naturalmente ele descobre que o
fundamental é saber bem dirigir o carro nos diversos tipos de estradas que terá
pela frente. Descobre que o carro nada mais é do que uma ferramenta para
facilitá-lo a chegar ao seu destino.
b) A fase da adolescência:
Um ser adulto rebelde pode representar uma distorção da personalidade.
Explicando melhor, a rebeldia é qualidade quando há um porquê construtivo. E, na
fase adulta, a rebeldia é uma distorção da personalidade se não houver um porquê
ou uma causa construtiva que a sustente. Por outro lado um jovem rebelde está se
descobrindo em relação à importância das mudanças (mesmo que às vezes em sua
atitude o equilíbrio não esteja presente), mas este proceder – aparentemente
negativo – é a semente que na fase madura irá fazer o adulto valorizar a
importância da quebra de paradigmas.
III- Fase Adulta ou Fase da Oportunidade
É a fase em que o ser humano reúne todas as condições para atingir a maturidade.
Pois já vivenciou as experiências das duas fases basilares anteriores (Criança e
Adolescência). Daí a denominação de Fase da Oportunidade. No entanto, na maioria
das vezes o ser adulto não aproveita desta oportunidade que a vida lhe dá.
Quando na fase adulta o ser não aproveita positivamente de sua experiência de
vida, isto significa que ele não atingiu a maturidade, o que o faz comportar-se
de forma dependente. Diferentemente da Fase Criança, neste caso a dependência é
mais relacionada com projetos de vida geralmente vinculados a questões materiais
e a conquistas imediatas.
Nesta fase geralmente estão presentes duas qualidades positivas: o ímpeto de ser
um vencedor e a disposição ao trabalho.
No entanto, nesta fase é muito comum o ser mergulhar nos mecanismos da
auto-ilusão. Passa, por exemplo, a acreditar que galgar postos no ambiente de
trabalho e exercitar o poder sejam atitudes primordiais em sua vida. A
conseqüência mais marcante desse proceder, onde a ênfase está na conquista
material, é o surgimento de transtornos psíquicos ou psicológicos, os quais
deságuam no mar da depressão e de transtornos outros que geram marcantes
alterações comportamentais negativas.
Não estou afirmando que não devemos procurar subir degraus na empresa. Todos
sabemos que é necessário e saudável procurar se auto-aprimorar continuamente
para crescermos no campo profissional. Mas, se em nossa definição de crescimento
não estiver inserido nosso “desenvolvimento interior” (nosso auto-encontro),
então nosso “sucesso” profissional pode ser comparado a um vistoso balão cheio
de ar. Bonito e atraente por fora, mas qualquer pequeno incidente pode
destruí-lo!
IV- Fase da Maturidade ou Fase do Auto-Encontro ou da Interiorização
Uma das características mais belas desta fase é que ela é praticamente
independente da faixa etária. Isto é, é possível atingir a maturidade tanto na
fase adulta quanto na adolescência. Não é incomum – principalmente nestes tempos
modernos – encontrarmos adolescentes que têm uma rica visão de vida ou adultos
que já vivenciam a maturidade.
A maturidade não é uma fase, é uma atitude. É o estágio em que o indivíduo
descobre-se como ser interdependente.
Um adolescente julgar-se independente, levando em consideração sua fase
evolutiva, tem o seu lado altamente positivo. Mas, o caminho evolutivo para se
chegar à maturidade é um contínuo subir de degraus.
Para um ser que sabe passar de forma saudável pela fase adulta (algo bastante
incomum), são os seguintes degraus a subir: Primeiro o ser se vê dependente
(fase criança), depois independente (fase da adolescência), para então na fase
da maturidade descobrir-se interdependente.
Reforçando: Fase da maturidade é o estágio em que o ser se descobre
interdependente, reconhecendo sua condição gregária e que, além de ser o único
responsável pelo seu desenvolvimento individual, é também – de forma
aparentemente paradoxal - importante cooperador no desenvolvimento das pessoas
que a rodeia. Nesta fase o ser descobre que o próximo faz parte integrante do
seu mundo. E que “estar bem” significa trabalhar para o bem comum, sem se deixar
de lado.
Estas quatro fases podem ser comparadas às quatro estações, numa seqüência
especial: Verão, que é a fase infantil, onde o ser é exemplo de alegria e
descontração; Outono, onde o adolescente se prepara para a chegada da próxima
estação; Inverno, onde o adulto escolhe o caminho errado do sucesso sem reflexão
íntima (auto-ilusão) e, finalmente, a Primavera, quando o ser surge pleno na
manifestação de sua potencialidade divina.
A Fase da Maturidade fundamenta-se no resgate das qualidades positivas da
fase-criança, como contentamento, humildade e afetividade, e também das
qualidades positivas da fase da adolescência, como cultivo da amizade e
alteridade. É a fase da autoconsciência, é a fase em que o ser encontra sentido
e significado para sua vida.
Como se vê, a fase da maturidade é um retorno às origens, mas com o diferencial
de que atitudes impulsionadoras (ditas “negativas”) das duas primeiras fases, já
não se fazem presentes, como o egocentrismo, a teimosia, a birra; a dependência
quase total, a ausência da alteridade, a rebeldia; a independência plena, a
ausência de missão de vida bem definida, a necessidade extrema de
auto-afirmação, a inconstância.
A triste conclusão:
A triste conclusão a que chegamos:
Se na fase adulta ficamos embirrados; pensamos e agimos de forma egocêntrica;
julgamos que os outros são os responsáveis pelos desacertos de nossa vida; somos
rebeldes sem causa; somos negativamente inconstantes em nossas ações; não
consideramo-nos interdependentes; somos teimosos; não praticamos a alteridade;
temos necessidade extrema de auto-afirmação e não sabemos de forma clara qual é
o nosso propósito ou missão de vida, então, ainda não atingimos a maturidade!
Isto é, não aproveitamos do aspecto positivo dos fatores impulsionadores da
fase-criança e da fase da adolescência e, pior, cristalizamos em nós a porção
negativa destas duas fases anteriores.
A alternativa, ou o atalho, para atingirmos a maturidade plena:
Se mesmo já estando na fase adulta ainda não atingimos a maturidade, nem tudo
está perdido. Há uma alternativa que funciona como um atalho. Ainda é possível
resgatarmos o que não soubemos naturalmente incorporar na natural sucessão das
fases.
A vida novamente nos presenteia com outra oportunidade:
Para atingir a maturidade com todo o seu esplendor, o principal fator
impulsionador é o indivíduo perguntar a si mesmo: “Qual é o meu ideal de vida?”
Cada um de nós traz em si uma missão pessoal, o que a Psicologia Transpessoal
denomina de propósito existencial, ou ideal de vida. Este ideal de vida está
registrado na parte mais profunda de nossa alma. Várias correntes
espiritualistas dizem que já nascemos com ele. Mas, se não o encontramos o
motivo é bem simples: até agora não nos interessamos em procurá-lo.
Procurar este ideal de vida de forma racional nem sempre é o melhor caminho. A
não ser que já o vislumbremos. Isto é, a não ser que já enxerguemos os seus
contornos, mesmo que ainda timidamente. Neste caso a procura racional e objetiva
faz sentido e gera resultado.
Como um diamante perdido no meio de gravetos ele – nosso ideal de vida - está em
nossas entranhas. Temos que retirar os gravetos para que ele possa se mostrar a
nós. Retirarmos os gravetos significa, principalmente, ter um desejo profundo de
querer ter uma vida com significado. Significado no sentido amplo, não
mesquinho, mas, sim, altamente humanitário. Quando este desejo se fizer presente
em nosso mente, este diamante irá ser mostrar para nós. Geralmente através da
intuição.
Quando descobrirmos qual é o nosso ideal de vida (qual é a nossa missão
existencial), teremos a força de vontade necessária para que todas as qualidades
das nossas duas primeiras fases sejam por nós reincorporadas, com um importante
instrumento adicionador: a experiência de vida. E então estaremos
instrumentalizados para atingirmos a bem vinda maturidade.
Para caminharmos a passos largos na direção da maturidade, lembre-se, leitor, do
principal objetivo desta parte conclusiva, que é o que vem a seguir. Reflita:
”Qual é o seu ideal de vida?”
Alkindar de Oliveira