Médiuns Irresponsáveis
Associou-se indevidamente à pessoa portadora de mediunidade
ostensiva a qualidade de Espírito elevado.
O desconhecimento do Espiritismo ou a informação superficial sobre a sua
estrutura deu lugar a pessoas insensatas considerarem que, o fato de alguém ser
possuidor de amplas faculdades medianímicas, caracteriza-se como um ser
privilegiado, digno de encômios e projeção, ao mesmo tempo possuidor de um
caráter diamantino, merecendo relevante consideração e destaque social.
Enganam-se aqueles que assim procedem, e agem perigosamente, porquanto, a
mediunidade é faculdade orgânica, de que quase todos os indivíduos são
portadores, variando de intensidade e de recursos que facultem o intercâmbio com
os Espíritos, encarnados ou não.
Neutra, do ponto de vista moral, em si mesma, a mediunidade apresenta-se como
oportunidade de serviço edificante, que enseja ao seu portador os meios de
auto-iluminar-se, de crescer moral e intelectualmente, de ampliar os dons
espirituais, sobretudo, preparando-se para enfrentar a consciência após a
desencarnação.
Às vezes, Espíritos broncos e rudes apresentam admiráveis possibilidades
mediúnicas, que não sabem ou não querem aproveitar devidamente, enquanto outros
que se dedicam ao Bem, que estudam as técnicas da educação das faculdades
psíquicas, não conseguem mais do que simples manifestações, fragmentárias,
irregulares, quase decepcionantes.
Não se devem entristecer aqueles que gostariam de cooperar com a mediunidade
ostensiva, porquanto a seara do amor possui campo livre para todos os tipos de
serviço que se possa imaginar.
Ser médium da vida, ajudando, no lar e fora dele, exercitando as virtudes
conhecidas, constitui forma elevada de contribuir para o progresso e
desenvolvimento da Humanidade.
Através da palavra, oral e escrita, quantos socorros podem ser dispensados,
educando-se as criaturas, orientando-as, levando-as à edificação pessoal, na
condição de médium do esclarecimento?!
Contribuindo, nas atividades espirituais da Casa Espírita, pela oração e
concentração durante as reuniões especializadas de doutrinação, qualquer um se
torna médium de apoio.
Da mesma forma, através da aplicação dos passes, da fluidificação da água,
brindando a bioenérgia, logra-se a posição de médium da saúde.
Na visita aos enfermos, mantendo diálogos confortadores, ouvindo-os com
paciência e interesse, amplia-se o campo da mediunidade de esperança.
Mediante o dialogo com os aturdidos e perversos, de um ou do outro plano da
vida, exerce-se a mediunidade fraternal da iluminação de consciência.
Neste mister, aguça-se a percepção espiritual e desenvolvem-se os pródromos das
faculdades adormecidas, que se irão tornando mais lúcidas, a fim de serem usadas
dignamente em futuros cometimentos das próximas reencarnações.
Ser médium é tornar-se instrumento; e, de alguma forma, como todos nos
encontramos entre dois pontos distantes, eis-nos incursos na posição de
intermediários.
Ter facilidade, porém, para sentir os Espíritos é compromisso que vai além da
simples aptidão de contatá-los.
Desse modo, à semelhança da inteligência que se pode apresentar em indivíduos de
péssimo caráter, que a usam egoística, perversamente, ou como a memória, que
brota em criaturas desprovidas de lucidez intelectual, e perde-se, pela falta de
uso, também a mediunidade não é sintoma de evolução espiritual.
Allan Kardec, que veio em nobre missão, Espírito evoluído que é, viveu sem
apresentar qualquer faculdade mediúnica ostensiva, enquanto outros indivíduos do
seu tempo, que exerceram a faculdade medianímica, por inferioridade moral,
venderam os seus serviços, enxovalharam-na, criaram graves empecilhos à
divulgação da Doutrina Espírita que, indevidamente, foi confundida com os maus
exemplos desses médiuns inescrupulosos e irresponsáveis.
Certamente, o médium ostensivo, aquele que facilmente se comunica com os
Espíritos, quando é dotado de sentimentos nobres e possui elevação, torna-se
missionário do Bem nas tarefas a que vai convocado, ampliando os horizontes do
pensamento para a imortalidade, para a vitória do ser libertado de todas as
paixões primitivas.
Normalmente, e as exceções são subentendidas, os portadores de mediunidade
ostensivas, porque se encontram em provações reparadoras, falham no desiderato,
após o deslumbramento que provocam e a auto-fascinação a que se entregam por
invigilância e presunção.
Toda e qualquer expressão de mediunidade exige disciplina, educação,
correspondente conduta moral e social do seu portador, a fim de facultar-lhe a
sintonia com Espíritos Superiores, embora o convívio com os infelizes, que lhe
cumpre socorrer.
O médium irresponsável, porém, não é apenas aquele que, ignorando os recursos de
que se encontra investido, gera embaraços e perturbações, tombando nas malhas da
própria pusilanimidade, mas também, aqueloutros que, esclarecidos da gravidade
do compromisso, se permitem deslizes morais, veleidades típicas do caráter
doentio, terminando vitimados pelas obsessões cruéis.
Todo aquele, portanto, que deseje entregar-se ao Bem, na seara dos médiuns,
conscientize-se da responsabilidade que lhe diz respeito, e, educando a
faculdade, torne-se apto para o ministério, servindo sempre e crescendo
intimamente com os olhos postos no próprio e no futuro feliz da sociedade.
Manoel Philomeno de Miranda