Se Semeias
Se semeias com amor, não te espante a terra eriçada de
espinhos...
Que seria da lavoura sem o arado firme e prestimoso, que opera a renovação? Que
seria da vida, sem a persistência da boa-vontade?
Ergue-te cedo, cada dia, e espalha os grãos do entendimento e do serviço.
Provavelmente, surgirão, cada hora, mil surpresas inquietantes.
As ruínas conseqüentes do temporal, o bote da serpe oculta, os seixos
pontiagudos da estrada, a soturna visão do pântano, a guerra sem tréguas contra
os animálculos daninhos, os calos dolorosos das mãos e dos pés, a expectativa
torturante, são o que vive em sua luta diária o semeador que se decide a
trabalhar...
Recompensas? Não aguardes a remuneração da Terra.
O mundo está repleto de bocas famintas que devoram o pão, sem cogitar dos
sacrifícios ou das lágrimas que lhe deram origem.
Enquanto peregrinares entre os homens, o teu prêmio virá do perfume das flores,
da luminosa vestidura da paisagem ou do caricioso beijo do vento.
Se semeias com amor, não indagues de causas.
Consagra-te ao esforço do bem, para que o solo se renove e produza.
Compadece-te da terra sem água.
Não desampares o deserto.
Não te irrite o charco.
Ajuda sempre.
A felicidade vem do amor, o progresso vem da cooperação.
A lavoura do espírito é semelhante ao amanho do campo.
Auxilia sem cessar...
Se semeias com amor, jamais desanimes, porque se é teu o trabalho do plantio, a
semente, o crescimento e a frutificação pertencem ao Divino Semeador, que nunca
se cansa de semear.
Francisco Malhão