Saúde
Se o homem compreendesse que a saúde do corpo é reflexo da
harmonia espiritual, e se pudesse abranger a complexidade dos fenômenos íntimos
que o aguardam além da morte, certo se consagraria à vida simples, com o
trabalho ativo e a fraternidade legitima por normas de verdadeira felicidade.
A escravização aos sintomas e aos remédios não passa, na maioria das ocasiões,
de fruto dos desequilíbrios a que nos impusemos.
Quanto maior o desvio, mais dispendioso o esforço de recuperação. Assim, também,
cresce o número das enfermidades à proporção que se nos multiplicam os
desacertos, e, exacerbadas as doenças, tornam-se cada vez mais difíceis e
complicados os processos de tratamento, levando milhões de criaturas a se
algemarem a preocupações e atividades que adiam, indefinidamente, a verdadeira
obra de educação que o mundo necessita.
O homem é inquilino da carne, com obrigações naturais de preservação e defesa do
patrimônio que temporariamente usufrui.
Não se compreende que uma pessoa instruída amontoe lixo e lama, ou crie insetos
patogênicos no próprio âmbito doméstico.
Existe, no entanto, muita gente de boa leitura e de hábitos respeitáveis que não
se lhe dá atochar dos mais vários tóxicos a residência corpórea e que não acha
mal no libertar e cólera e a irritação, de minuto a minuto, dando pasto a
pensamentos aviltantes, cujos efeitos por muito tempo se fazem sentir na vida
diária.
Sirvamo-nos deste símbolo, para estender-nos em mais simples considerações. Se
sabemos imprescindível a higiene interna da casa, por que não movermos o
espanador da atividade benéfica, desmanchando as teias escuras das idéias
tristes? Por que não fazer ato salutar do uso da água pura, em vasta escala,
beneficiando os mais íntimos escaninhos do edifício celular e atendendo
igualmente ao banho diário, no escrúpulo do asseio? Se nos desvelamos em
conservar o domicílio suficientemente arejado, por que não respirar, a longos
haustos, o oxigênio tão puro quanto possível, de modo a facilitar a vida dos
pulmões?
Quem construa uma habitação, cogita, não somente bases sólidas, que a suportem,
senão da orientação, de tal jeito que a luz do sol a envolva e penetre
profundamente; jamais voltaria esse alguém a situar o ambiente doméstico numa
caverna de troglodita.
Analogamente, deve o homem assentar fundamentos morais seguros, que lhe garantam
a verdadeira felicidade, colocando-se, no quadro social onde vive, de frente
voltada para os ideais luminosos e santificantes, de modo que a divina
inspiração lhe inunde as profundezas da alma.
Freqüentemente a moradia das pessoas cuidadosas e educadas se exorna, em seu
derredor, de plantas e de flores que encantam o transeunte, convidando-o à
contemplação repousante e aos bons pensamentos.
Por que não multiplicar em torno de nós os gestos de gentileza e de
solidariedade, que simbolizam as flores do coração?
Ninguém é tentado a descansar ou a edificar-se em recintos empedrados ou
espinhosos.
Assim também, a palavra agradável que proferimos ou recebemos, as manifestações
de simpatia, as atitudes fraternais e a compreensão sempre disposta a auxiliar,
constituem recursos medicamentosos dos mais eficientes, porque a saúde, na
essência, é harmonia de vibrações.
Quando nossa alma se encontra realmente tranqüila, o veículo que lhe obedece
está em paz.
A mente aflita despede raios de energia desordenada que se precipitam sobre os
órgãos à guisa de dardos ferinos, de conseqüências deploráveis para as funções
orgânicas.
O homem comumente apenas registra efeitos, sem consignar as causas profundas.
E que dizer das paixões insopitadas, das enormes crises de ódio e de ciúme, dos
martírios ocultos do remorso, que rasgam feridas e semeiam padecimentos
inomináveis na delicada constituição da alma?
Que dizer relativamente à hórrida multidão dos pensamentos agressivos duma razão
desorientada, os quais tanto malefício trazem, não só ao indivíduo, mas,
igualmente, aos que se achem com ele sintonizados?
O nosso lar de curas na vida espiritual vive repleto de enfermos desencarnados.
Desencarnados embora, revelam psicoses de trato difícil.
A gravitação é lei universal, e o pensamento ainda é matéria em fase diferentes
daquelas que nos são habituais. Quando o centro de interesses da alma permanece
na Terra, embalde se lhe indicará o caminha das alturas.
Caracteriza-se a mente também, por peso específico, e é na própria massa do
Planeta que o homem enrodilhado em pensamentos inferiores se demorará, depois da
morte, no serviço de purificação.
Os instrutores religiosos, mais do que doutrinadores, são médicos do espírito
que raramente ouvimos com a devida atenção, enquanto na carne.
Os ensinamentos da fé constituem receituário permanente para a cura positiva das
antigas enfermidades que acompanham a alma, século trás séculos.
Todos os sentimentos que nos ponham em desarmonia com o ambiente, onde fomos
chamados a viver, geram emoções que desorganizam, não só as colônias celulares
do corpo físico, mas também o tecido sutil da alma, agravando a anarquia do
psiquismo.
Qualquer criatura, conscientemente ou não, mobiliza as faculdades magnéticas que
lhe são peculiares nas atividades do meio em que vive. Atrai e repele. Do modo
pelo qual se utiliza de semelhantes forças depende, em grande parte, a
conservação dos fatores naturais de saúde.
O espírito rebelde ou impulsivo que foge às necessidades de adaptação,
assemelha-se a um molinete elétrico, armado de pontas, cuja energia carrega e,
simultaneamente, repele as moléculas do ar ambiente; assim, esse espírito cria
em torno de si um campo magnético sem dúvida adverso, o qual, a seu turno, há de
repeli-lo, precipitando-o numa “roda-viva” por ele mesmo forjada.
Transformando-se em núcleo de correntes irregulares, a mente perturbada emite
linhas de força, que interferirão como tóxicos invisíveis sobre o sistema
endocrínico, comprometendo-se a normalidade das funções.
Mas não são somente a hipófise, a tireóide ou as cápsulas supra-renais as únicas
vítimas da viciação. Múltiplas doenças surgem para a infelicidade do espírito
desavisado que as invoca. Moléstias como o aborto; a encefalite letárgica, a
esplenite, a apoplexia cerebral, a loucura, a nevralgia, a tuberculose, a
Coréia, a epilepsia, a paralisia, as afecções do coração, as úlceras gástricas e
as duodenais, a cirrose, a icterícia, a histeria e todas as formas de câncer
podem nascer dos desequilíbrios do pensamento.
Em muitos casos, são inúteis quaisquer recursos medicamentosos, porquanto só a
modificação do movimento vibratório da mente, à base de ondas simpáticas, poderá
oferecer ao doente as necessárias condições de harmonia.
Geralmente, a desencarnação prematura é o resultado do longo duelo vivido pela
alma invigilante; esses conflitos prosseguem na profundeza da consciência,
dificultando a ligação entre a alma e os poderes restauradores que governam a
vida.
A extrema vibratilidade da alma produz estados de hipersensibilidade, os quais,
em muitas circunstâncias, se fazem seguir de verdadeiros desastres
organopsíquicos.
O pensamento, qualquer que seja a sua natureza, é uma energia, tendo,
conseguintemente, seus efeitos.
Se o homem cultivasse a cautela, selecionando inclinações e reconhecendo o
caráter positivo das leis morais, outras condições, menos dolorosas e mais
elevadas, lhe presidiriam à evolução.
É imprescindível, porém, que a experiência nos instrua individualmente. Cada
qual em seu roteiro, em sua prova, em sua lição.
Com o tempo aprenderemos que se pode considerar o corpo como o “prolongamento do
espírito”, e aceitaremos no Evangelho do Cristo o melhor tratado de imunologia
contra todas as espécies de enfermidade.
Até alcançarmos, no entanto, esse período áureo da existência na Terra,
continuemos estudando, trabalhando e esperando.
Joaquim Murtinho