A Criança Rejeitada
A pior sensação que o filho ou a filha poderá ter é exatamente
a de que é rejeitada por seus pais, por um ou por ambos.
Em verdade, não rejeita a criança apenas aquele pai ou aquela mãe que a abandona
na via pública, ou a interna num orfanato, jamais indo vê-la. Rejeita-a também,
aquele pai ou aquela mãe que promete amar a criança se ela for “boazinha”, se se
conservar limpa numa quadra da vida em que o natural é a criança brincar
livremente no solo (claro que protegida dos perigos), se fizer certinho um
trabalho que está além de suas possibilidades infantis. Fica configurada a
chantagem emocional, altamente perniciosa no processo da educação dos filhos.
Vale dizer que de igual modo rejeita o filho aquele pai ou aquela mãe que tudo
faz quanto a criança ou o jovem peça só para se ver livre do pimpolho. É não lhe
dar a mínima atenção, já se vê sem dificuldades.
Todos os excessos são danosos em nossas vidas, como se percebe facilmente.Se é
danosa a rejeição da parte de um pai ou de uma mãe indiferente ou omissa, não
deixa de ser ruim também a superproteção. Dentro deste raciocínio, se uma
criança escorraçada, uma criança que viva debaixo de castigos corporais(
mediante os quais os genitores descarregam suas tensões por outros motivos da
vida estressante que levam hoje em dia), acaba vendo em todos os semelhantes
inimigos em potencial, indivíduos que estariam prontos a maltratá-la, fazendo-se
ao longo dos anos uma criatura amarga, pessimista, com raríssimos momentos de
bom-humor,trazendo quase nulo o sentimento de solidariedade humana,uma criança
superprotegida,criada cheia de dengos, de mimos excessivos, de cuidados
exagerados, a quem tudo é simplesmente facilitado, vai-se acostumando a receber
sem retribuir. Resultado: a infância será um paraíso no lar, porém, a idade
adulta será um inferno na sociedade. O indivíduo não saberá contar com ele mesmo
nos momentos de decisão. Nutrirá, não raro, o sentimento de dependência não
sendo capaz de solucionar os mais comezinhos problemas da experiência terrestre.
Aliás, quando a família é numerosa, tem vários filhos, não há mesmo condição
para que os filhos sejam superprotegidos. Nesta situação, as crianças têm
maiores oportunidades de viverem e se desenvolverem um tanto independentes. De
certa forma, esta relativa independência auxilia o seu desenvolvimento,
amadurecendo-as adequadamente. Desde pequenos, os filhos enfrentam alguns
problemas e aprendem a resolvê-los. Inclusive há inúmeros casos ( sobretudo na
presente atualidade planetária ) em que, a mãe trabalhando fora, vê-se na
contingência de ter de contar com a ajuda da filha mais velha nos trabalhos
domésticos, a cuidar dos irmãozinhos menores. O mesmo se dá relativamente ao
filho mais velho; às vezes tem até de abandonar a escola ainda nas primeiras
séries da educação fundamental (ensino de primeiro grau )a fim de ingressar no
trabalho pesado, ou, no mínimo ao lado do pai, exercendo também alguma função
com vista a equilibrar( ou colaborar a equilibrar, melhor dizendo) o precário
orçamento doméstico, desempenhando atividades ditas masculinas.
Quando os pais sabem ajustar as situações assim criadas, os filhos aceitam bem
os papéis que lhes são atribuídos e os conflitos momentâneos podem ser
superados, desde que os mesmos pais não exijam perfeição de seus filhos. Aliás,
os pais devem ser modelo mas nunca deverão pôr-se num pedestal dizendo aos
filhos que nunca erraram na vida, o que não é, evidentemente, uma verdade.
Melhor seria dizer-lhe que já cometeram enganos, ainda os cometem e se corrigem
os filhos neste ou naquele particular é porque querem fazê-los felizes.
A segurança emocional, em parte sustentada pelo relacionamento entre irmãos,
facilita muito o ajustamento do indivíduo fora de casa. Mas tudo isto( seria até
desnecessário lembrar) vai depender em boa medida do comportamento dos pais.
Bem, há filhos que ser revoltam contra o tratamento que os pais lhe deram. Pois
bem, para estes filhos deixaremos algumas frases do Espírito Joana de Ângelis,
escritas pelo médium Divaldo Pereira Franco, constantes do livro “Após a
Tempestade”( Livraria Espírita Alvorada Editora):
“(...) Sem dúvida, muitos pais, despreparados para o ministério que defrontam em
relação à prole, cometem erros graves, que influem consideravelmente no
comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo que podem, se rebelam contra
estes, crucificando-os nas traves ásperas da ingratidão, da rebeldia e da
agressividade contínua, culminando não raro em cenas de pugilato e vergonha”.
“(...) Aos filhos compete amar aos pais, mesmo quando negligentes ou
irresponsáveis,porquanto é do Código Superior da Vida, o impositivo do honrar o
pai e a mãe, sem excluir os que o são apenas por função biológica, assim mesmo,
por cujo intermédio a Excelsa Sabedoria programa necessárias provas redentoras e
pungitivas expiações liberativas”.
Termina sua exportação aquela mentora espiritual dizendo aos filhos estas
orientações, com relação ao genitor que não lhes deu carinho:
“Se te falarem sobre recalques que ele traz da infância, em complexos que
procedem desta ou daquela circunstância,(...) recorda, em silêncio, de que o
Espírito procede do berço, trazendo gravados nas tecelagens sutis da própria
estrutura gravames e conquistas, elevação e delinqüência, podendo, então, melhor
compreendê-lo,mais ajudá-lo, desculpá-lo com eficiência e socorrê-lo com
proibidade, prosseguindo ao seu lado sem mágoa(...) resgatando pelo sofrimento e
amor os teus próprios erros, até o dia em que, redimido, possas reorganizar o
lar feliz a que aspiras”.
Orientou assim Joana de Ângelis porque ninguém é pai ou mãe ou filho ou filha de
outro alguém por um simples acaso biológico.Não. Nascemos e renascemos nas
constelações familiares em que estávamos no mais das vezes envolvidos desde
outras experiências corporais.Dá-se aqui o reencontro para que possamos
solucionar os “desencontros” do passado.As possíveis algemas de ressentimentos
devem ser transformadas em laços de amor para o nosso próprio bem.Reconhecemos
ser tarefa árdua que exige renúncia abnegação e tempo.Todavia, será gratificante
a sua execução porque teremos coroando o nosso esforço, às vezes não prontamente
compreendido, a satisfação do dever cumprido!
Celso Martins