Tempos Aziagos no Mundo
Ó alma irmã, que se acha no mundo terreno envolvida nas
incontáveis situações-problemas do caminho, assossega a mente turbilhonada, a
fim de registrar as inspirações que te chegam da Imensidão, para que não
esmoreças.
Ouvimos as tuas imprecações aos Céus, gritando o desespero que te jugula a
existência;
Vemos-te vergada ao peso da dor da saudade, motivada pela partida do ser querido
levado pelas mãos da morte;
Acompanhamos a tua depressão instalada pela sensação de suprema impotência, à
frente da injustiça perpetrada, deslavadamente, à tua volta;
Conhecemos a tua angústia, em face da doença desafiadora, que te vai minando as
alegrias, desmantelando as linhas rígidas do teu corpo, ou dos a quem amas, sem
que nada possa detê-la.
Identificamos o travo de amargura que visita tua intimidade, quando sofres a
traição da parte de quem te devia amor, atenção ou gratidão;
Vemos o teu copioso pranto por te sentires manietado perante o poder da
drogadição, que te rouba os afetos, que te surrupia os amigos ou os teus amores
mais diletos, como devoradora hidra, sem que consigas nada fazer, seguindo com a
voz engasgada na garganta, incapaz de ecoar; dá-te conta de que a dependência
química os impede de decodificar as tuas sofridas rogativas, enquanto marcham,
passo a passo, para os despenhadeiros da autodestruição.
Notamos o teu precoce envelhecimento por suportares agressões físicas e verbais
de familiares que, alcoolizados, drogados ou tão-somente por serem almas
grosseiras e desatenciosas, maltratam-te portas adentro do lar, como se devesses
pagar com lágrimas sangrentas o pão - que se toma amargo -, ou o teto sob o qual
te abrigas - que se faz enregelado como um mausoléu -, o que se configura como
bem alto preço a ser pago por ti.
Testemunhamos a tua desarmonia, expressa pelo medo de viver em megalópoles ou
mesmo em pequenos grupamentos sociais, onde a violência urbana e o poder de
grupos criminosos logram êxito na explosão de abusivas ações, que te alcançam,
direta ou indiretamente, sem que vejas saída fácil para essa terrível hecatombe
sócio-moral.
Sabemos do teu sentimento de profunda frustração, por viveres sem qualquer
respaldo social para a escolaridade dos teus filhos ou para o atendimento à
saúde dos teus dependentes afetivos, gerando torturante ansiedade que vai
fragilizando as tuas esperanças, as tuas mais nobres crenças, a tua fé.
Encontramos-te perturbada por incontáveis estresses em razão da onda de
desemprego, que bombardeia a tua segurança sócio-econômica e financeira;
Vemos-te correr daqui para ali, na busca de
soluções para os enigmas que se mostram ao longo dos teus dias - dos dias que
correm no presente momento do mundo.
Buscas, muitas vezes, através de crenças variadas, de magias estranhas, de
simpatias, de usanças e palavras sacramentais, de correntes, etc., como se o
Criador esperasse de ti uma série de liturgias, de litanias, uso de determinados
objetos ou de símbolos, para que te pudesse atender.
Costumas utilizar amuletos e breviários, vegetais específicos, figas, pedaços de
fitas, pedras e quejandos, admitindo que, do jeito que estão as coisas, tudo é
válido, ou supondo que, de um modo ou de outro, invadirás os estuários das
providências que esperas, aflita.
Alma irmã da luta humana, pára um pouco e reflete sobre tudo o que te ocorre no
planeta.
Os venerandos Mentores da humanidade esclarecem que Deus é a Suprema
Inteligência do Universo.1 Sendo assim, tudo que Dele provém ou que é por Ele
consentido para a tua vida, há de ser supremamente perfeito, supremamente
ajustado para o teu caso, para as tuas necessidades evolutivas.
Não te encontras no mundo terreno por mero capricho do acaso. Há ponderáveis
razões para que estejas onde estás, como estás e com quem estás, mesmo quando -
como ocorre na mór parte das vezes - não tenhas a exata compreensão dessas
razões.
Dessa maneira, urge que te movimentes digna e lucidamente, para modificar as
situações equívocas da sociedade menor em que estás, como o caso da tua família,
assim como do mundo em que vives, consciente de que estás vivendo a realidade
atual porque ela tem significativo sentido no campo da tua anelada evolução.
Entenderás, na medida em que amadureças meditações, que a dor e os demais
problemas que te invadem a existência, como a morte, a enfermidade, a carência
de emprego, as agressões e compressões domésticas, a violência urbana, a
insegurança ou o abandono, são conseqüências do teu pretérito; são a colheita da
sementeira que um dia tu mesmo fizeste, junto a quem hoje contigo padece.
Foi o Mestre Nazareno que afirmou que os que agiram no bem, retomariam ao mundo
para a ressurreição da vida, para as alegrias decorrentes, enquanto retomariam
para suportar a condenação por seus maus atos, todos os que se movimentaram a
serviço do mal no mundo.2
Não havendo acasos, tampouco criaturas injustiçadas pelas leis de Deus, cabe
pensar que há ingente e urgente necessidade de que te rearmonizes com as leis do
Criador - ínsitas na tua consciência profunda.
Reergue-te do chão do teu sofrimento, alma irmã. Não te entregues ao desespero,
à melancolia, ao lamento ou às improdutivas autovitimações, quando agora já
estás informada quanto aos fundamentos das tuas dificuldades humanas.
É preciso que, por meio de coragem íntima, procures te reabilitar diante de ti
mesma, sem que alimentes qualquer culpa, quando sabes que o remédio para os teus
problemas começam a ser manipulados pela Farmácia Celeste, nas retortas e nos
crisóis do teu íntimo.
Retorna às vibrações da prece e relaxa a própria alma nas freqüências dessa paz,
que vêm das Fontes da Luz, presididas por Jesus Cristo, de maneira a recobrar o
tino quanto às melhores atitudes a tomar para ser feliz.
Renova-te, ainda que pouco a pouco, mas que seja a tua postura permanente, a fim
de que os sofrimentos da vida terrestre não te soterrem e para que conquistes o
mérito para que possas desfrutar de uma vida melhor, numa sociedade melhor,
porque a cada um será concedido conforme suas realizações, como apregoa a Boa
Nova de Jesus.3
Confia, então, coração amigo, na ação supremamente perfeita e sempre atenta de
Deus, que te protege e atende sempre, não como gostarias ou como esperarias ser
atendido, é bem capaz, porém, como precisas e como mereces.
Procura envolver-te com o bem, em todas as dimensões da tua lida humana, e, se o
fizeres, guarda a certeza de que já começas a caminhada decidida para os tempos
de um mundo novo, que tem seus alicerces na renovação do teu mundo interior.
Não sofras tanto!
Ama, trabalha e confia no amor divino que te enseja a conquista da tua coroa de
glórias, da tua vitória definitiva, obtida pouco a pouco, com lágrimas, sim, mas
com inabalável fé, iluminada pelo amor que nosso Pai nutre por todos nós, e
particularmente por ti.
1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, perg. 1.
2 Jo, 5:29.
3 Mt 16:27.
Camilo