Dois Deveres...

O belo livro “A Esquina de Pedra” (edição O Clarim), do extraordinário Wallace Leal V. Rodrigues, traz importantes lições de vida, com ensinamentos valiosos para compreensão dos fundamentos da Doutrina Espírita e reflexão de nossos próprios comportamentos.
Deixemos de lado a síntese do livro, estimulando o leitor a conhecer a obra, situando-nos todavia em pequeno trecho. O livro apresenta diversos personagens, cada um vivendo seus próprios conflitos e desafios de aprimoramento, aborda de maneira brilhante o pensamento do Evangelho e resgata os primeiros séculos do Cristianismo, em brilhante texto que muito ensina e prende a atenção pela quantidade de detalhes e situações.
Entre os vários personagens, uma frase – dentre tantas – detalhando as experiência da própria situação vivida, muito nos chamou a atenção e que trazemos aos leitores. Permitimo-nos transcrever o pequeno trecho de Donnato:
“Donnatto não tem dificuldades, compreende de pronto. Sente-se alimentado espiritualmente. Os conceitos que ouve, mesmo os mais singelos são flores preciosas de amor e de luz. Voltará amanhã, voltará em todos os dias de sua vida! – Perdoai-me, – diz humildemente à guisa de explicação, à saída – sou um escravo comum e desgraçadamente não tenho com que retribuir a Jesus o que me oferta e me ofertará, pois amanhã estarei de volta. – Ele não espera que retribuas, filho – Dizem-lhe. – Surgem, entretanto, dois deveres novos para ti. – E quais são? – Que não retenhas só para ti o que tenhas e que te modifiques à luz de tua fé. (...)” (destaques em negritos deste autor).
Observemos com atenção a resposta oferecida pelo grupo cristão ao escravo que o visitava: Não há necessidade de retribuição. No entanto, dois deveres surgem: não reter os tesouros recebidos e modificar-se (a si próprio, repitamos) à luz da fé.
Não há imposição, nem exigência. Apenas orientação sem ilusões.
É o que ocorre com o conhecimento espírita. Igualmente liberta (pois que com embasamento nos ensinos de Jesus), com a nova panorâmica de vida que apresenta, e convida ao trabalho, sem forçar.
Ocorre que o conhecimento promove isso mesmo: modificação gradativa trazida pela reflexão dos novos caminhos que começamos a perceber. O detalhe, todavia, de não reter o que tenhamos é bem abrangente, convenhamos.
Isto envolve a caridade, do atendimento e do amor na convivência; envolve também a disseminação do conhecimento que vamos acumulando. E quem não retem serve. Ora, isto vale para as questões de ordem material, mas também nas questões do próprio relacionamento, no espalhar das boas coisas que conseguimos perceber. Aí entra a divulgação.
O convite é claro: não reter informação que possa beneficiar a coletividade. Modificar-se. Eis o processo de aprimoramento individual.
Ora, esse não reter é de grave responsabilidade. Isto envolve motivar criaturas, entusiasmar grupos, divulgar o que é bom, espalhar as boas sementes. Sem egoísmo, sem monopólio, pois que diz respeito à felicidade e à melhora do mundo, de vez que refere-se ao conhecimento da nossa verdadeira natureza, cujo desconhecimento tem sido a causa de tantos sofrimentos. Reter conhecimento que nos faz bem é egoísmo, ausência de entendimento da proposta de Jesus e do próprio Espiritismo.
E, por outro lado, o modificar-se à luz da fé, expressa a coerência do comportamento com o conhecimento. Bem propício para nós, os espíritas.
Dois deveres, realmente!
Pensemos, pois, nos tesouros que nos chegam diariamente. E sejamos práticos nesta altura do texto: pensemos nas publicações espíritas, livros novos, CDs, revistas, apresentações teatrais ou musicais, palestras, palestrantes, sites, DVDs e iniciativas outras que motivam ao equilíbrio e à serenidade. Espalhemos essas notícias, essas idéias, para que mais pessoas se beneficiem dessas bênçãos de cada dia.
Nos fez bem, percebemos a grandeza, alcance e nobreza daquilo que nos chegou ao conhecimento, poderá beneficiar outras pessoas?
Tratemos, pois, de espalhar, não retendo o que é bom...
E, interessante, esta atitude simples é o primeiro passo para a modificação sugerida no segundo dever...


Orson Carrara