Animais: Dor e Reencarnação
Dor no homem
Passemos a palavra para Léon Denis, em sua obra “Depois da Morte”, Ed., FEB,
1944, Rio de Janeiro/RJ:
“A dor é uma advertência necessária, um estimulante à vontade do homem, pois nos
obriga a nos concentrarmos para refletir, e força-nos a domar as paixões. A dor
é o caminho do aperfeiçoamento. Física ou moral, é um meio poderoso de
desenvolvimento e de progresso. É purificação suprema, é a escola em que se
aprendem a paciência, a resignação e todos os deveres austeros. É a fornalha
onde se funde o egoísmo em que se dissolve o orgulho.”
Animais
Após a edição do livro “ANIMAIS, NOSSOS IRMÃOS”, de nossa autoria, vimos
recebendo surpreendente número de cartas de leitores, contendo instigantes
perguntas:
- Se animais não têm consciência por que sofrem?
- Animais podem reencarnar nos mesmos lares nos quais eram amados ao morrer?
- Deve-se castrar animais para evitar prole?
Nossas respostas foram:
Dor nas plantas e nos animais
(Com notas do Cap 12 do livro “Animais – Amor e Respeito”, também de nossa
autoria):
Em “A Gênese”, de Allan Kardec, Cap XVIII, n° 8, encontramos que plantas e
animais são atingidos por enfermidades.
Considerando que as plantas têm sensibilidade, podemos inferir que tal lhes
causa sofrimento. Não temos condições de afirmar que sentem dor, apenas podemos
constatar que:
- uma árvore cortada perde seiva e morre;
- galhos queimados, definham rapidamente; antes, à simples aproximação do fogo,
retraem-se;
- muitas são as pragas que atacam culturas, além de parasitas que causam-lhes
danos.
No caso dos animais, não há a menor dúvida que sofrem dor, tanto quanto nós.
Mas aí, não poucas pessoas ponderam:
— Se o homem resgata débitos contraídos por ações equivocadas, afastadas das
Leis Morais, como justificar que animais e plantas também sofram? Que culpa lhes
pode ser atribuída, se não têm, como nós, inteligência, livre-arbítrio e
consciência?
Realmente, eis aqui um aparente contra-senso da natureza. Mas, em verdade, nada
há errado nisso.
Quanto aos homens, não padece dúvida de que a Justiça Divina, para que cada ser
galgue os degraus do progresso através de responsabilidade e esforço próprios,
proporciona-lhes o mecanismo das reencarnações e engendrou o corpo físico
suscetível a doenças e dor. Posicionou-os inicialmente em mundos primitivos e
dali transfere-os para mundos consentâneos com o progresso individual de cada
um.
Doenças são próprias do patamar evolutivo dos planetas atrasados, como a Terra.
Ajudam o homem a desenvolver a inteligência, para debelá-las. A dor funciona
como poderoso alerta de que algo não vai bem, espiritual ou fisicamente se
falando.
Além do mais, a Lei de Causa e Efeito, baliza o equilíbrio da Justiça, fazendo
retornar à origem, o Bem ou o mal. No caso do mal, ainda pela Bondade Suprema de
Deus, o devedor pode ressarcir seu débito através de ações de auxílio ao
próximo. Nesse caso, mesmo visitado por sofrimentos, estes já não lhe pesam
tanto, eis que a Esperança e a Fé na Justiça do Pai, são poderosos anestésicos,
além de potentes energéticos para suplantar dificuldades.
Muito bem.
— E dor nos animais? Não tendo inteligência, livre-arbítrio ou consciência, suas
ações, necessariamente instintivas, apenas visam a sobrevivência. E em assim
sendo, como lhes imputar culpa e o respectivo resgate?
Partindo da premissa de que Deus é a Perfeição Suprema e o Amor Absoluto, em
nenhuma hipótese poderíamos aventar a menor possibilidade de que isso consista
injustiça ou equívoco da natureza.
Outro tem que ser o enfoque.
Aqui, entra em cena a condição esclarecedora do Espiritismo.
Vamos nos demorar mais um pouco nas reflexões sobre a dor, de modo geral:
a. Em “A Gênese”, Cap III, Allan Kardec filosofa com grande profundidade sobre o
bem e o mal, analisando detalhadamente sobre instinto e inteligência e,
particularmente, sobre a “destruição dos seres vivos uns pelos outros”. No item
21, esclarece que “a verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no
invólucro corporal, do mesmo modo que não está no vestuário. Está no princípio
inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo”. Aqui, já temos conteúdo
suficiente para refletir que danos físicos que destruam a matéria, isto é, dos
quais resulte a morte, não destruem o espírito (naturalmente, revestido do
perispírito, que os animais também os têm, embora de matéria mais rudimentar que
a humana).
Prossegue Kardec, agora no item 24: “nos seres inferiores da criação, naqueles a
quem ainda falta o senso moral, em os quais a inteligência ainda não substituiu
o instinto, a luta é pela satisfação da imperiosa necessidade — a alimentação;
lutam unicamente para viver; é nesse primeiro período que a alma se elabora e
ensaia para a vida”.
b. O Espírito Emmanuel nos esclarece, de forma a não deixar quaisquer dúvidas,
que a dor representa aprendizado, constante da trilha evolutiva de cada ser
vivo, rumo à evolução; essa informação é textual, cristalina e não deixa margem
a derivações filosóficas. Ei-la:
“Ninguém sofre, de um modo ou de outro, tão-somente para resgatar o preço de
alguma coisa. Sofre-se, também, angariando os recursos preciosos para obtê-la.
Assim é que o animal atravessa longas eras de prova a fim de domesticar-se,
tanto quanto o homem atravessa outras tantas longas eras para instruir-se.
Espírito algum obtém elevação ou cultura por osmose, mas sim através de trabalho
paciente e intransferível.
O animal igualmente para atingir a auréola da razão deve conhecer benemérita e
comprida fieira de experiências que terminarão por integrá-lo na posse
definitiva do raciocínio.
Dor física no animal é passaporte para mais amplos recursos no domínios da
evolução”.
(O REFORMADOR, Junho, 1987 - FEB).
Assim, mesmo que para muitos de nós tal seja penoso aceitar, prudente será
refletir muito sobre o tema e sobre o quanto ainda ignoramos das coisas de Deus;
alenta-nos considerar, com veemência, que o Pai jamais abandona qualquer dos
Seus filhos. Com essa certeza, fica afastada, "ab initio", que a crueldade que
vitima animais seja indiferente à Vida e ao Amor de Deus, presente no
infinitamente perfeito Plano da Criação.
c. Juvanir Borges de Souza, em “Tempo de Renovação”, Cap 20, pág. 164, Ed.FEB,
1989, arremata: “para bem compreendermos o papel da dor será necessário situá-la
como a grande educadora dos seres vivos, com funções diferentes no vegetal, no
animal e no homem, mas sempre como impulsionadora do processo evolutivo, uma das
alavancas do progresso do princípio espiritual” (grifamos).
Diante das assertivas acima, refletimos:
- animais sofrem para que registrem em sua memória espiritual, eterna, que a dor
dói, é ruim; assim, ao evoluírem, alcançando a inteligência, já trarão na
bagagem cognitiva, que a dor deve ser evitada - a própria, por auto-preservação
e a do próximo, por ser esse um dos conselhos de Jesus para a evolução
espiritual;
- nada nos impede de considerar que a dor, nos animais, completado o
aprendizado, não mais se repetirá, sendo muito provável que ao desencarnarem,
seja em que condições sejam, o sofrimento é interrompido no ato da desencarnação
e sob patrocínio caridoso dos Missionários do Amor Eterno;
- aliás, não cremos que seja necessária mais de uma experiência dolorosa, para
fixação do aprendizado; como existem milhares de espécies e milhões de moradas
no Universo, há grande probabilidade que os animais percorram muitos desses
mundos, em corpos adequados, acumulando experiências;
- como a restauração perispirítica é uma realidade do Plano Maior, nada nos
impede também de imaginar que os perispíritos dos animais, se danificados, ali
serão recompostos por Geneticistas Siderais, os mesmos que promovem as
modificações tendentes à escala evolutiva da espécie (vide “A Caminho da Luz”,
Cap “A Grande Transição”);
- se animais forem "anestesiados" por Espíritos Protetores, na hora do abate,
para evitar a dor, ali não ocorreria fixação do aprendizado evolutivo; contudo,
nada nos objeta raciocinar que em muitos, muitos casos mesmo, isso ocorra, porém
em outras circunstâncias; por exemplo: quando a crueldade humana esteja
presente, infligindo sofrimento a animais cujo programa reencarnatório não o
previa;
- aos Espíritos que amam os animais, a eles provavelmente é delegada a função de
orientar as espécies animais quando no plano espiritual e de os proteger, quando
no material; neste, fazem-no com abnegação e amor, criando "habitats" e mantendo
os ecossistemas; assistindo-os nos momentos difíceis pelos quais passam;
consideremos, por exemplo, que quando um predador de grande potencial ofensivo
(nunca se esquecer que foram os Promotores da Vida que disso o equiparam...)
ataca uma indefesa presa (também de organismo engendrado pelos Guardiões da Vida
Eterna), Deus está presente num e noutro animal; pela Lei do Progresso,
certamente, no avançar do tempo, os papéis talvez sejam invertidos, após o que,
ambos já terão em sua memória espiritual tal lembrança (automatismo
biológico-espiritual); atingindo a razão/inteligência, só cometerão violência
por auto-decisão, a bordo do livre-arbítrio; e, a partir do livre-arbítrio, a
evolução passa a ser balizada pela Lei de Causa e Efeito - Ação e Reação.
Por oportuno, vejamos alguns trechos das sempre elucidativas instruções de Allan
Kardec, Espírito, clareando o assunto, através mensagem contida em “O Diário dos
Invisíveis”, psicografada por Zilda Gama (p. 73 a 75 da 1ª Ed., 1927, Editora O
Pensamento):
(...)
“Bem sabeis que a dor, física e moral, é a lixívia que alveja a alma enodoada do
ser consciente e responsável por seus atos; é a lâmpada que a inunda de luz,
tornando-a eternamente radiosa.
(...)
Se só o homem fosse suscetível à dor e às enfermidades e os irracionais tivessem
os organismos imunes ao sofrimento, insensíveis como o aço, romper-se-ia o elo
que os vincula pela matéria, que é semelhante em todos os animais.
(...)
Os animais, quer os de constituição semelhante à do homem, quem os de organismos
imperfeitos, não padecem, como os racionais, unicamente para progredir
espiritualmente, pois são inconscientes e irresponsáveis, mas Deus, que tudo
prevê, não os fez insensíveis à própria defesa e conservação, como meio de serem
domesticados, tornando-os úteis às coletividades.
Um cavalo que fosse indiferente à dor seria capaz de precipitar-se, com o
cavaleiro, ao primeiro abismo que se lhe deparasse, tentando livrar-se da sela e
da carga importuna que lhe tolhem os movimentos, privando-o de viver às soltas
pela vastidão dos prados ou à sombra das florestas. Por que recuam, temerosos,
ante a ameaça de um calhau ou de uma farpa, um cão ou um touro enfurecido? Com
receio do sofrimento que teriam se fossem por eles atingidos
(...)
Os irracionais necessitam da dor, para que possam, em estado de liberdade,
defender a própria vida, temer as sevícias, sofrear os impulsos ferozes,
procurar repouso e alimento, tornar-se menos perigoso ao homem, manter o
instinto de conservação, que não teriam, se os seus corpos fossem desprovidos de
sensibilidade. O homem progride mais pelos padecimentos morais que pelos
físicos; nos irracionais predominam estes sobre aqueles.
(...)
A dor é útil aos animais para que os fracos e pequenos se defendam dos fortes e
cruéis, procurando esconderijos inacessíveis a seus adversários nas furnas ou
nas mais altas frondes”.
Reencarnação de animais
Reflitamos:
- a reencarnação, como sabemos nós, os espíritas, é uma das sublimes bênçãos de
Deus aos Seus filhos - os seres vivos, todos; tal é o ciclo da Evolução, Lei
Divina, amplamente exposta por Kardec, no Livro dos Espíritos e praticamente em
todos os livros da Doutrina Espírita;
- um dos postulados da reencarnação, para seres humanos, é justamente o
esquecimento do passado. Esquecimento, mas jamais perda da individualidade, da
personalidade, do caráter.
- os animais, após a desencarnação, segundo Kardec (Q. 600 de “O Livro dos
Espíritos”), embora mantendo também sua individualidade, são agrupados e
mantidos sob cuidados de Espíritos especializados; neles, a reencarnação não se
demora;
- no livro “Evolução em Dois Mundos”, do autor espiritual André Luiz,
psicografia de F.C.Xavier/W.Vieira, encontramos:
A girencefalia (característica dos cérebros com circunvoluções, o que
possibilita uma maior área cortical – de córtex. Ex: cérebro dos primatas) e a
lissencefalia (condição de cérebro sem circunvoluções, o que resulta em pequena
área cortical) obedecem a tipificações traçadas pelos Orientadores Maiores, no
extenso domínio dos vertebrados, preparando o cérebro humano com a
estratificação de lentas e múltiplas experiências sobre a vasta classe dos seres
vivos.
À maneira de crianças tenras, internadas em jardim de infância para aprendizados
rudimentares, animais nobres desencarnados, a se destacarem dos núcleos de
evolução fisiopsíquica em que se agrupam por simbiose, acolhem a intervenção de
instrutores celestes, em regiões especiais, exercitando os centros nervosos.(Cap
IX - Evolução e Cérebro, p. 67-68).
(...) Nomearemos o cão e o macaco, o gato e o elefante, o muar e o cavalo como
elementos de vossa experiência usual mais amplamente dotados de riqueza mental,
como introdução ao pensamento contínuo. (Cap XVIII – Evolução e destino, p.
212).
- quanto aos seres mais evoluídos no reino animal, dentre os quais os cães,
símios, bovinos, eqüinos, felinos (gatos, em particular), golfinhos - e outros
-, embora não possamos afirmar, com inteira convicção, é muito provável, mas
muito mesmo, que os criados em ambiente doméstico e que foram amados por seus
donos, ao convívio deles talvez retornem, a breve tempo após a desencarnação;
- o Amor é a mais sublime vertente do Universo, por isso foi que o Apóstolo João
recitou: "DEUS É AMOR!" (I João, 4:8). Amor é linguagem universal, entre todos
os seres vivos. Fazemos essa citação para analisar que é muito provável que
animais recém-desencarnados, embora não tenham condições de se manifestar,
certamente recebem as boas vibrações de amor daqueles que os amaram, quando
encarnados;
- registramos, como simples suposição: em casa, temos 99% de suspeitas de que
alguns dos nossos gatos (somos "gateiros de carteirinha", embora minha esposa e
meus dois filhos amemos a todos os animais) são a reencarnação de alguns que,
conquanto tenham feito a Grande Viagem, deixando profundas marcas de saudade em
nossos corações, são sim os mesmos. Pois só quem convive com gatos há 26 anos,
por exemplo, como nós, pode perfeitamente avaliar os costumes dos felinos, cada
qual tendo seu canto próprio, suas manias, sua linguagem, sua forma de
demonstrar gratidão, medo, carinho, fome, etc. Em casa, tivemos gatos que
conosco conviveram por 14, 15 e até 16 anos. Atualmente (2005), só gatos
“jovens” — a “Baixinha”, com 14 anos, a “Ventania” com 8 e o “Dominó”, com 6.
Ora, quando um gato, dentre tantos, repete os mesmos gestos e apresenta os
mesmos costumes, permitimo-nos conjeturar que pode ser a reencarnação de um
daqueles que já havia morado conosco e que procedia exatamente assim.
- assim dentro do quadro de animais domésticos desencarnados, que foram amados
por seus donos, sabendo que por pouco tempo permanecem no plano espiritual,
embora não possamos afirmar com inteira convicção, é muito provável, mas muito
mesmo, que àquele convívio terreno retornem, a breve tempo após a desencarnação.
Não sendo improvável, da mesma forma, que se nossa desencarnação for próxima à
deles, talvez possamos encontrá-los no plano espiritual, considerado nosso
patamar evolutivo e principalmente nosso merecimento.
— É uma esperança!
Castração de animais
A resposta está em “O Livro dos Espíritos”, questão 693, com trechos que
reproduzimos:
Q.693 – São contrários à lei da Natureza as leis e os costumes humanos que têm
por fim ou por efeito criar obstáculos à reprodução?
R: Tudo o que embaraça a Natureza em sua marcha é contrário à lei geral.
a) – Entretanto, há espécies de seres vivos, animais e plantas, cuja reprodução
indefinida seria nociva a outras espécies e das quais o próprio homem acabaria
por ser vítima. Pratica ele ato repreensível, impedindo essa reprodução?
R: Deus concedeu ao homem, sobre todos os seres vivos, um poder de que ele deve
usar, sem abusar. Pode, pois, regular a reprodução, de acordo com suas
necessidades.
De nossa parte, consideramos a castração “mil” vezes preferível ao ato cruel do
abandono, ou, mais grave ainda (se possível for), o abate das crias, dos
filhotes...
Eurípedes Kühl