A Autoridade Paterna
O amor materno e autoridade paterna são dois elementos
essenciais ao bom equilíbrio das relações familiais.
Releva frisar que mãe e pai não estão dissociados em suas funções. Pelo
contrário, à mãe cabe também certa autoridade sobre os filhos, assim como nada
impede que o pai manifeste ternura para com eles.
A separação que aqui se faz visa apenas enfatizar isto: o que o filho mais
espera e precisa da mãe é o amor; do pai, a autoridade.
Autoridade é a palavra derivada de autor, deixando claro que essa prerrogativa é
inerente ao autor. E o caso do pai, autor da vida do filho.
Pode ele delegar parte de sua autoridade a outras pessoas, durante algum tempo e
no que tange a certos aspectos da educação do filho. Permanece, porém, a
instância de apelo supremo.
Isto é verdadeiro, não apenas do ponto de vista jurídico, mas igualmente do
ponto de vista psicológico. Deixe a criança de sentir acima dela a proteção da
autoridade paterna e seu equilíbrio emocional será afetado, com prejuízo,
inclusive, para a sua maturidade.
A criança detesta, quase sempre, aqueles que a tiranizam, pois gosta de ser
tratada com moderação e justiça; mas, por outro lado, despreza e agride o pai
frouxo e piegas cuja incapacidade a priva de um apoio que deseja e lhe é
indispensável.
Sim, a par da liberdade, sem a qual não poderia auto-afirmar-se, a criança
necessita, também, da autoridade para que seja orientada nos seus julgamentos e
saiba disciplinar a própria vontade.
Se contar com a preciosa ajuda da autoridade, ela evoluirá na fase inicial,
instintiva, em que busca simplesmente o prazer através da satisfação de suas
necessidades, para a outra fase, adulta, em que lhe caberá enfrentar as
vicissitudes da vida, nem sempre isenta de dificuldades e sofrimentos.
Sem isso, manter-se-á em dependência infantil, sem conseguir ajustar-se aos
grupos sociais em que será obrigada a viver, ou melhor, a conviver, criando a
tudo instante condições de atrito com os semelhantes.
Pais existem que, ultrapassando os limites da autoridade, exercem um domínio
absoluto e cruel sobre os filhos, não lhes permitindo a menor discussão a
respeito de suas ordens, que exigem sejam cumpridas rigorosamente, valendo-se
dos métodos repressivos da ameaça, da surra, da crítica mordaz e humilhante, das
proibições sistemáticas, etc.
O máximo que conseguem com essa maneira de agir é uma submissão cega, sem
consentimento interior, o que fará dos filhos indivíduos tímidos e gaguejantes,
com fortes sentimentos de inferioridade, ou então revoltados, futuros tiranos da
própria prole.
Outros, em contraposição, seja por comodismo, seja por fraqueza, não exercem a
menor autoridade sobre os filhos: deixam-nos à solta, permitindo-lhes tudo,
satisfazendo a todos os seus desejos, numa atitude de superindulgência que,
longe de traduzir bondade, o que evidencia é falta de amor, ou, pelo menos,
indiferença pela sua sorte.
Este tipo de educação, está provado, só pode tornar as pessoas incontestáveis,
exigentes, egoístas, incapazes de oferecer a menor cooperação a quem quer que
seja. Pior ainda: favorece os desregramentos e conduz à libertinagem, principais
fatores da delinqüência em todos os tempos.
Autoridade legítima é o processo pelo qual o pai ajuda o filho a crescer e a
amadurecer, para que chegue à autonomia sabendo que a liberdade tem um preço: a
responsabilidade. É a maneira pela qual o pai conduz o filho à auto-realização,
desenvolvendo-lhe as potencialidades, sem entretanto, exigir mais do que ele
possa dar, respeitando-lhe as limitações.
É, sobretudo, força moral que o pai deve ter sobre o filho, baseada na admiração
que lhe desperta, por se constituir um modelo digno de ser imitado.
Em suma, a verdadeira autoridade jamais se impõe pela violência. É uma
decorrência natural das qualidades paternas, entre as quais se destacam as
seguintes:
1) ser autêntico, isto é, conhecer o papel que lhe cabe no lar e exercê-lo com
segurança e continuidade.
2) Ser justo, tratando todos os filhos com igual solicitude, sem nunca
demonstrar preferência ou aversão por nenhum.
3) Ser um educador, castigando quando preciso, mas sabendo também desculpar,
valorizar e incentivar.
4) Ser coerente, mantendo seu ponto de vista acerca do que lhe pareça certo ou
errado, evitando proibir um dia e deixar fazer no outro.
5) Ser cordial, promovendo o afeto, a estima e a camaradagem entre os
familiares.
6) Ser compreensivo, superando os conflitos e mantendo seu amor ante os erros
dos filhos.
7) Ser clarividente, sabendo discernir entre o que é essencial e o que é
secundário.
8) Ser conciliador, acatando as opiniões do grupo familiar, ao invés de impor
apenas as suas.
9) Ter presença no lar, acompanhando de perto a vida dos filhos, por saber que o
abandono moral é caminho para a delinqüência.
10) Ter serenidade, evitando dar mostras de impaciência, irritação ou cólera.
11) Ter firmeza, dando “sim” quando julgue que possa dá-lo, tendo a coragem de
dizer e manter o “não”, sempre que isso se faça necessário.
12) Ter espírito aberto, procurando estar sempre bem informado, para saber
interpretar construtivamente os acontecimentos do mundo.
13) Ter estabilidade emocional, evitando, quanto possível, as variações de humor
e os inconvenientes que daí decorrem.
14) Ter maturidade, aceitando as responsabilidades decorrentes de sua condição
de chefe de família, especialmente as de pai.
15) Ter prestígio, por seus exemplos de amor ao trabalho, hábitos sadios,
civismo, gosto de ser útil ao próximo, etc.
Quantos pais são infelizes em seus filhos, porque não lhes combateram desde o
princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se
desenvolvessem os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem
a secura do coração: depois, mais tarde, quando colhem o que semearam,
admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da
ingratidão deles.” (Allan Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. V,
nº 4)
Rodolfo Calligaris