Contágio do Amor

Quem assistiu o excelente filme O Amor é contagioso, certamente se recordará que o personagem principal desejou humanizar o ambiente médico de tratamento psiquiátrico, introduzindo práticas não convencionais e realizando o contágio do amor entre os pacientes.
Guardadas todas as devidas proporções, percebe-se logo nítida ligação com a realidade de nossas Casas Espíritas. Elas também estão necessitadas, claro que isto não é regra geral, de uma humanização de seus ambientes, trocando a frieza pelo calor humano da atenção e do carinho uns pelos outros. Deixarmos de sermos meros transmissores do conhecimento intelectual espírita ou seguidores de normas rígidas que nunca atingem os corações.
A Doutrina Espírita, como se sabe, tem mensagem transformadora das concepções humanas e visa antes de tudo a melhora moral do homem. Na verdade, o Centro Espírita, muito mais que explicar, há que fazer sentir... Sentir o sentido de viver, ensinar sim o que fazer, mas especialmente como fazer... Propiciar troca de idéias para que os valores individuais surjam com toda sua pujança e nesse encontro de aspirações, expectativas, receios, medos, experiências, aflições e esperanças, o integrante de suas reuniões compreenda o importante papel que pode desempenhar em favor de si próprio e do local onde vive, na família ou em sociedade.
Isto só será possível através do diálogo, ainda que em grupo. Ninguém nega o valor das palestras, dos passes, da reunião mediúnica, do trabalho assistencial em favor do próximo, mas há que se reforçar, estimular, o estudo em grupo, a troca de experiências de vida que façam compreender a própria vida. Através das dificuldades de uns e de outros, ou de si mesmo, é que cada um entenderá a si próprio e poderá agir como autêntico trabalhador espírita, agora já consciente.
O que assistimos atualmente é uma multidão a receber passes, a ouvir na expectativa de receber o passe e retirar-se para voltar na semana seguinte e repetir o mesmo caminho, sem entender as causas de suas aflições ou os objetivos de sua existência. Nem sempre o só ouvir, durante 40 ou 60 minutos, de uma palestra consegue atingir o âmago dos problemas. Daí a necessidade do diálogo que pode começar no atendimento fraterno e pode estender-se em grupos que dialoguem.
A didática, a metodologia de estudo e ensino do Espiritismo, pela própria índole da Doutrina Espírita, requer motivação, aprofundamento dos temas, questionamentos sob a ótica espírita e à luz dos problemas atualmente enfrentados por famílias inteiras ou no silêncio da individualidade.
Por tudo isso, mantenhamos sim a seriedade da própria Doutrina Espírita, sem sermos carrancudos que impedem o progresso das idéias que hoje solicitam integração para melhor aproveitamento.
Esta presença do afeto, da atenção, da afabilidade, da doçura, significam a humanização do ambiente espírita, que não deve ser frio ou indiferente, mas precisa estar impregnado do calor humano, característica essencial dos filhos de Deus.


Orson Carrara