Presença de Corpo e Ausência de Espírito
Não basta possuir para bem utilizar. É preciso saber aplicar
de maneira sadia aquilo que nos vem às mãos.
Alguém se vê presenteado com certa máquina. A máquina passa a pertencer-lhe. Na
hipótese de não se inteirar das instruções que lhe regem o funcionamento, jamais
tirará proveito dela.
Entre o amanhecer e a noite alta muitas ocorrências se sucedem capazes de
desfocar-nos a atenção, impedindo-nos de vincular o pensamento nos valores
eternos de tudo.
A simples possibilidade de orar e receber os influxos das esferas superiores
expressa em si patrimônio inestimável.
Ocorre o mesmo quanto aos demais recursos espirituais colocados ao dispor do
arbítrio humano.
Uma reunião de amigos terrestres que buscam o intercâmbio com a Espiritualidade
ou estudo das verdades maiores se reveste de importância transcendente para
qualquer encarnado. Contudo, a repetição pode banalizar as ações, vulgarizar as
conversas e amortecer as sugestões renovadoras de legiões de freqüentadores que
se tornam impermeáveis à intercessão invisível.
Petrificam-se no ramerrão dos hábitos corriqueiros. Insensibilizam-se ante a
presença da fontes inspirativas que os acompanham. Afastam-se viajando
mentalmente a distância das induções de pensamentos vivos que lhes circular em
derredor. Demonstram, enfim, presença de corpo e ausência de espírito nas
atividades com o Mundo das Almas.
A repetição há de caracterizar-se pela criatividade, pelo entusiasmo e elevação
crescente. Tudo melhorar e aperfeiçoar, compreendendo-se que, não obstante a
rotina construtiva, as palavras e os conceitos encontram ouvintes e
necessidades, interrogações e problemas novos.
A batalha contra a desconcentração negativa deve ser permanente nos círculos
humanos. Não apenas nos contactos das criaturas entre si, mas na existência
mesma.
O que mais desvia os passos das trilhas renovadoras não são as interferências de
fora. E’ o torpor acomodatício por dentro, que emperra a marcha da criatura,
segurando-a na retaguarda.
O passado multimilenar se reflete no automatismo da máquina física que lembra um
peso enorme requisitando-nos ao ponto-morto. Força onipresente atuando sem
tréguas ao longo de toda a encarnação...
Do levantar ao recolher, dia-a-dia, temos na Terra a impressão de que o corpo
tende a absorver-nos em rotina instintiva, escravizante e paralisadora.
Quanto mais passa o tempo, maior a propensão dominadora pelo repetir dos mesmos
atos, o repisar de idéias iguais e a dificuldade de acatar apelos novos.
Lancemos, cada qual de nós, de vez em vez, um grito de libertação íntima.
Conservemos o costume de policiar-nos contra a estagnação, melhorando
conhecimentos, modos e reações, frente ao Plano da Verdade, porquanto, no seguir
à frente, reside o nosso destino.
Kelvin Van Dine