Ninho Vazio
Nos primeiros versículos do livro bíblico do Eclesiastes,
lê-se que há tempo para tudo. Tempo de semeadura. Tempo de floração. Tempo de
seca. Tempo de chuvas abundantes.
No ciclo do matrimônio igualmente existe o período inicial da adaptação, das
descobertas do outro, da vinda dos filhos.
Tempo de noites mal-dormidas. De fraldas e mamadeiras. Tempo de garotos na
escola, de lições, da universidade. Dias inquietantes dos namoricos, dos vôos
mais distantes dos filhos ainda jovens.
Finalmente, chega o tempo em que o casal se descobre com o ninho vazio.
Não mais as vozes dos jovens a dizer: "Olá, cheguei! Oi, velho! Oi,mãe!"
Não mais os sons dos aparelhos eletrônicos, as risadas, os pés sobre o sofá da
sala, a linha telefônica sempre ocupada.
De repente, como aves migratórias, os filhos se vão. Vão para a formação dos
seus próprios lares e consolidação das suas carreiras profissionais.
Quando se descobrem a sós, muitas vezes, os cônjuges passam a se desarmonizar.
Agora, com tempo dilatado, podem olhar mais detidamente um ao outro, descobrindo
imperfeições e defeitos.
As separações ocorrem com freqüência nesse ciclo. A vitalidade do casamento fica
enfraquecida, surgem os desentendimentos, e o casal entra em crise.
É uma fase que exige sabedoria.
O salmista David, traduzindo as necessidades especiais assim se expressa: "não
me rejeites no tempo da velhice. Não me desampares, quando se for acabando a
minha força. Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, não me
desampares."
É justamente quando se necessita mais do outro que a criatividade há que ser
acionada, para tornar o espaço do ninho vazio uma ventura. É o momento de
aprofundar o relacionamento conjugal. Retomar os verdes dias do namoro,
redescobrindo o prazer do calor de um aconchego mais demorado.
Deter-se a olhar um ao outro, recordando quando, exatamente, os cabelos
começaram a ficar prateados.
Relembrar as lutas intensas, cujos traços estão impressos nas faces de ambos.
Utilizar o tempo na leitura nobre, trocando impressões, discutindo panoramas e
vivências. Idealizar juntos, novas metas.
Tornar a usufruir o sabor das manhãs claras, no passeio de mãos dadas, no bosque
próximo.
Saborear juntos pequenos detalhes: a ida à pizzaria, os diálogos sem pressa, o
concerto, o cinema, o teatro. Enfim, é imprescindível que os cônjuges
estabeleçam prioridades.
E o matrimônio é prioritário. Tudo que venha deteriorar o equilíbrio conjugal,
deve ser eliminado. Desenvolver amizade e companheirismo entre si. O tempo e os
interesses compartilhados conferem segurança e alegria e espantam a rotina.
Quando te surpreendas demasiadamente crítico, para com a criatura que contigo
compartilhou dores e alegrias de uma vida; que contigo ombreou nas dificuldades
mais amargas; a criatura à qual entregaste o corpo e a alma, pára um pouco!
Pensa em tudo que juntos idealizaram e construíram. Recorda os primeiros dias.
Pensa em quantas vezes foi aquele o ombro amigo em que te apoiaste e choraste.
Pensa em quantas vezes os abraços, os apertos de mão, uma doce carícia te
fizeram adquirir forças para os embates do mundo.
Deixa-te penetrar pela ternura das lembranças e então, olha o teu par e ama-o um
tanto mais, enquanto prossigas no caminho com ele.
Momento Espírita