O Barco e as Ondas
Tentação, a palavra temível.
Quase sempre intentamos fugir dela para simplesmente desertar do trabalho e, por
conseqüência, da escola que o trabalho representa. E caímos no logro.
Largamos o posso da dificuldade construtiva para arrojarmo-nos no abismo da
inércia onde arrasamos o tempo.
Analisamos aprendizes, testamos máquinas, provamos quitutes caseiros.
Tentação é o recurso que a sabedoria da vida emprega para dar-nos o conhecimento
de nós próprios.
Se o dinheiro não nos sugere a busca de prazeres desmesurados para os sentidos e
se não lhe opomos o freio do discernimento, como poderemos saber que ele deve
ser utilizado para a criação das alegrias nobres que nos enriquecem a alma?
Se o mal não nos convida algum dia a cultuar-lhe os desequilíbrios e se não lhe
resistimos aos impulsos, de que maneira aprenderemos que o bem deve ser
incorporado em definitivo ao nosso campo espiritual para ser usado naturalmente
por nós como o ar que se respira.
Além disso, entendamos que a tentação é o agente que nos pesquisa a
reabilitação, diante das leis divinas.
Se estamos na bengala dos cegos ou no catre dos paralíticos – conquanto a alusão
não signifique qualquer desrespeito a eles, - já vivemos sob regime de bloqueio
transitório entre as forças da vida e ninguém pode reconhecer, de imediato, o
que faríamos da luz ou do movimento, se os tivéssemos ao dispor.
Assim é que ninguém se faz claramente conhecido, enquanto se encontra sob o
guante da expiação ou da prova.
Estudemos a tentação quando chegue. Pelo modo que surge ou pelas gratificações
que proponha, sabemos o que somos e o que nos cabe fazer.
Achamo-nos todos em evolução e, concomitantemente, em tentações que chegam por
tabela. Cada uma em hora determinada e em problema certo. Saibamos superá-las
para crescer e elevar-nos.
Sem tentação, impossível a tarefa da perfeição.
Recordemos o barco e as ondas que procuram submergi-lo.
Sem elas jamais chegaria ao porto, mas é preciso vara-las sem permitir que
entrem nele.
André Luiz