Pense Bem Antes de Votar
No passado, a presença da forca ou da guilhotina eram sinal de
civilização. Atualmente não é diferente: a promiscuidade moral ergue motéis que
ampliam o campo de contágio de enfermidades, decretando morte e destruição.
Antes, os campos ficavam despovoados pelas famílias que acorriam às cidades em
busca de oportunidade, formando multidões de mendigos e miseráveis. Nos dias
atuais ocorre o mesmo fenômeno porque os campos são deixados pelos seus
extorquidos proprietários ou residentes, que se transferem em grupos procurando
ocasião que nunca lhes chega, formando favelas de horror e residindo sob pontes
e viadutos, ou ainda em casebres miseráveis, feitos de lata e papelão.
As autoridades que os deveriam socorrer, concedendo-lhes cidadania e dignidade,
mantêm-nos em terrível esquecimento e desprezo. Na verdade, visitam-nos somente
nos períodos pré-eleitoreiros, quando os enganam com cinismo e sarcasmo,
apresentando discursos irônicos, nos quais prometem trabalho, saúde, educação,
recreio, que sabem nunca se realizarão... Afinal, logo passam aqueles dias de
paixões, e eles são esquecidos novamente, quando retornam os fantasmas da fome,
da prostituição, do crime, que continuam rondando-lhes os passos e convivendo
juntos.
Na verdade, as raízes da miséria sócio-econômica estão fincadas no egoísmo, que
é o responsável pela desgraça moral que domina a sociedade, que somente pensa em
si, transformando seu próximo em animal de carga para servir-lhe, mutilando-lhe
a existência através de mecanismos bem urdidos, que nunca lhes concedem
oportunidade de honra, neles anulando as esperanças e tirando-lhes o direito de
humanidade. E eles, assim dominados, nem se dão conta da própria desdita, nem
sequer aspiram por nada melhor, pois que foram exauridos de forças e
sentimentos, o que inclusive os impede de sonhar sequer por situação menos
infeliz, reagindo à situação primária a que foram atirados.
Assim agiram os dominadores das massas em todas as épocas da humanidade. Matam
primeiro os ideais, convencem os miseráveis da sua inoperância e situação
inferior... E assim continuam. Deixam pegadas de ódio e, porque temidos, são
detestados, porque poderosos não têm amigos e, sim, bajuladores que desejam
beneficiar-se de sua transitória situação dominadora.
Iniciada, porém, a saga dos direitos humanos, a cidadania começou a desenhar
novas alternativas para o ser humano, que merece viver com dignidade, recebendo
do Estado, que deve zelar pela sua existência, tudo aquilo que constitui valor
para a construção dos seus sentimentos livres. A liberdade é o maior tesouro
pelo qual devem lutar todos os homens e nações. Para que seja lograda é
indispensável que exista a consciência da justiça que responde pelo equilíbrio
legal e moral da sociedade.
Em uma sociedade onde exista mendigos nas ruas, exploração do homem pelo homem,
uso indevido do poder político e econômico, a justiça é falha e a liberdade se
encontra amordaçada pelos interesses servis dos governantes e dominadores dos
meios que favorecem a vida. E a justiça para ser equânime é obrigada a
considerar o indivíduo como cidadão do mundo e não como instrumento de uso por
uns e de extravagância de outros, sem direito de opinião ou de ação. O conjunto
social deve atender a todos igualmente, sem privilégios ou exceções, sem
perseguições nem tolerância, mantendo os mesmos critérios em relação a todas as
criaturas. Isto é justiça social!
Considerando a gravidade dos problemas nacionais, é preciso pensar bem antes de
votar.
*baseado em texto ditado por Victor Hugo ao médium Divaldo Pereira Franco, no
dia 8 de junho de 2001, em Paris-França.
Transcrição parcial da revista O Médium, de julho/agosto de 2002 pág. 11 a 13.
Orson Carrara