Liderança no Ideal

Há pessoas demolidoras e pessimistas em matéria de fé, que estão sempre acionando os camartelos da devastação.
Cultivando o mau humor, fazem-se ríspidas e o que produzem, acionadas por um ideal, desfazem-no pela forma azeda com que se comunicam com os que participam da sua ação.
Acreditam-se sempre certas, sem darem margem aos outros de opinar em contrário.
Agridem, verbalmente, as correntes com as quais não simpatizam, vendo o lado pior de tudo, sem apresentarem a beleza do seu ideal incorporada ao seu comportamento.
Disseminando a idéia do bem, põem-se contra os outros, os que não concordam com as suas expressões, tanto quanto com aqueles que, embora favoráveis, não se lhes submetem ao talante.
São uma propaganda negativa do que pensam defender com entusiasmo e agressividade.
O Espiritismo, sendo doutrina de libertação e responsabilidade, não passa indene a esses propagandistas de violência.
A si mesmos elegem-se líderes e condutores, impondo-se, porém, aos grupos de trabalho, sem as reais condições que dão carisma aos legítimos impulsionadores da Mensagem.
Quando os indivíduos se disputam primazias e relevo, nos ideais que defendem, tornam a idéia suspeita e desacreditada.
A excelência de um programa ressuma das suas qualidades intrínsecas, avaliadas nos resultados que produzem.
O processo de evolução do pensamento é inevitável.
Muitas vezes, dá-se através das grandes convulsões sociais, pelo desnecessário derramamento de sangue, na violência que irrompe devastadora.
Há quem afirme que a História constrói os povos sobre o sepulcro das civilizações vencidas.
Jesus, no entanto, foi o edificador do homem novo dentro dele mesmo, conclamando-o à revolução interior, nas fronteiras da alma, sem dano de espécie alguma para outrem.
Recorreu às armas desconsideradas da mansidão e da humildade, que fazem heróis e apóstolos, propondo a serenidade em quaisquer circunstâncias.
Seguindo-Lhe as diretrizes, Allan Kardec jamais apresentou o Espiritismo entre os calhaus dos insultos ou as pedradas com que pretendesse defender a Doutrina dos adversários gratuitos que se ergueram para combatê-la.
Manteve-se tranqüilo, confiando na robustez do conteúdo espírita, mas não fugiu à luta.
Atendeu às solicitações de que foi objeto, esclarecendo e dirimindo equívocos com lógica e argumentação clara.
Não atacou, frivolamente, os sistemas vigentes, nem ofendeu os detratores por sistema que lhe ferretearam o pensamento com lâminas ardentes...
É claro que se referiu aos erros do século, sem a usança do ultraje ou da calúnia, da maldição ou dos arrazoados rudes.
Analisou opiniões e comportamentos filosóficos e religiosos, comparando-os com as teses espíritas, o que comprovou ser ele o escolhido para a superior tarefa.
Passaram os cem primeiros anos, em que mudanças imprevisíveis, à época, sucederam-se.
Os homens, no entanto, intrinsecamente, prosseguem os mesmos.
Permanecem as conjunturas negativas que ultrajam a criatura e a infelicitam.
Os problemas da superpopulação em certas áreas do planeta e a escassez de braços noutras, a má distribuição das riquezas, fatores circunstanciais e emocionais que, somados, produzem sofrimentos, prosseguem desafiadores, aguardando que a revolução espírita restitua dignidade ao homem, promovendo-o na linha do bem e armando-o de paz para solucionar e superar as dificuldades e provas do seu caminho de iluminação, tendo à frente a vera liderança no ideal.


Lins de Vasconcelos