Amor Livre
UM DOS TEMAS EM EVIDÊNCIA, na atualidade, é o amor livre, a
união entre o homem e a mulher sem nenhum vínculo sério, sem compromissos em
relação ao futuro e, conseqüentemente, sem cogitar-se de matrimônio e filhos.
Embora alguns espíritos mais lúcidos, dentre os que debatem o assunto,
demonstrem o perigo de abolir-se o instituto da família, selado pelo compromisso
do casamento há uma forte tendência, particularmente nas grandes cidades, para o
cultivo do amor livre. Dir-se-ia, com mais propriedade, do sexo livre, já que
somente a busca de sensações, na promiscuidade sexual sem responsabilidade
poderia justificar semelhante pretensão.
Na questão n.° 695, de « O Livro dos Espíritos», interroga Allan Kardec: «O
casamento, ou seja, a união permanente entre dois seres é contrária às leis da
Natureza:'»
Resposta: «É um, progresso na marcha da Humanidade.»
Na questão seguinte, interroga o Codificador: «Qual seria o efeito da abolição
do casamento na sociedade humana?»
Resposta: «O retorno à vida animal.»
E Kardec comenta que a união livre e fortuita dos sexos pertence ao estado de
Natureza. O casamento é um dos primeiros atos de progresso das sociedades
humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se encontra entre todos os
povos, embora nas finais diversas condições. E acentua: «A abolição do casamento
seria, portanto, o retorno à infância da Humanidade, e colocaria o Homem abaixo
mesmo de alguns animais que lhe dão exemplo de uniões constantes.»
Todo anseio mal orientado de liberdade, ainda que pretendendo inspirar-se em
nobres ideais, acaba por levar à manifestação de impulsos primitivos da
personalidade humana. O amor livre é uma tentativa de retorno à poligamia,
estágio superado da Evolução. O verdadeiro amor jamais cogita da própria
liberdade, pois realiza-se na felicidade do ser amado, em permanente doação. O
casamento é um compromisso que lhe dá significado e objetivo. É o supremo
crédito de confiança no outro; é a certeza que tem alguém na sua capacidade de
fazer feliz a outro alguém.
Ainda que estas considerações pareçam simples poesia, distanciada da realidade;
ainda que para muitos os compromissos matrimoniais representem apenas lutas,
problemas,dificuldades e sofrimento, devemos lembrar que o instituto da família,
selado pelo casamento, é a escola onde fazemos nossa iniciação nos domínios do
Bem e da Virtude.
A comunhão fraterna que se estabelece entre o homem e a mulher que se decidem a
enfrentar a vida juntos, ensaiando afeto e desprendimento, levando-os a conjugar
o verbo de suas ações não mais na primeira pessoa do singular (eu), mas na
primeira do plural (nós); o misterioso e sublime amor que brota, espontâneo, em
seus corações, ao receberem nos braços um filho, tornando-os capazes de todos os
sacrifícios para dar-lhe sustento e garantir-lhe a vida; todos esses valores,
reunidos na bênção do matrimônio, que transforma as paredes frias de uma casa em
acolhedor lar, representam uma fecundação do Espírito para as realizações mais
nobres, acelerando sua jornada evolutiva.
Podem surgir no reduto doméstico a dissensão e a amargura, o tédio e a mágoa,
inspirando nos cônjuges a idéia de que sua ligação teria sido um lamentável
engano, estimulando os menos avisados a procurarem a própria satisfação nos
domínios do amor livre. É preciso considerar, entretanto, que a grande maioria
dos casamentos tem ascendentes espirituais e raízes no passado. As almas
reunidas no lar para as experiências em comum são velhos conhecidos...
Companheiros de delinqüência, inimigos, desafetos, vítima e verdugo, devedor e
credor, são expressões usadas.para definir as causas geradoras de situações do
presente. Apresentam-se, na verdade, por pálidas indicações de inenarráveis
tragédias e escuros dramas passionais ocorridos no pretérito, a determinarem o
reencontro das personagens no lar para o necessário reajuste. E toda fuga
representará sempre transferência do compromisso para o futuro, em regime de
débito agravado.
E os que tiveram seus lares desfeitos, não obstante os reiterados esforços para
manterem a integridade familiar? Será lícito que procurem nova experiência? Por
que não? A comunhão afetiva é alimento da Alma e precioso estímulo às árduas
jornadas do mundo. Como acontece noutros países, chegará o tempo em que o Brasil
terá o divórcio, favorecendo corações magoados com a bênção de novas esperanças,
embora adiado o compromisso.
É importante considerar, todavia, que toda experiência nos domínios do sexo, sem
responsabilidade, sem antecipação do amor leal e sincero, estabelecendo vínculos
sérios com vistas a uma vida em comum, será sempre o retorno às tendências da
animalidade, gerando intranqüilidade e desequilíbrio. Em qualquer relacionamento
humano, particularmente nos domínios do sexo se esperamos alegria e paz, é
preciso que o amor venha primeiro.
Richard Simonetti