Quase Esquecido

Atenta leitura ou audição do texto que constitui O Sermão da Montanha, especialmente no que se refere às Bem-aventuranças (Mateus 5: 1 – 2 ou Lucas 6: 20 – 26), ao Vós sois o sal da terra (Mateus 5: 13, Marcos 9: 49-50 ou Lucas 14: 34-35) e o Brilhe a vossa luz (Mateus 5: 14-16 e Lucas 11: 33-36), nos levará a uma triste conclusão: como Jesus está esquecido ou Dele nos distanciamos nestes dias sofridos da Humanidade!
Ora, não é outra a causa de tanta violência, aflições, desencontros e desequilíbrios verificados na vida social e mesmo, principalmente, na vida moral do ser humano. Como nos debatemos em dúvidas, conflitos! Refiro-me à generalidade dos habitantes do planeta, pois que isto não é regra. Há vidas e vidas, exemplos e exemplos, contrastando com a realidade anunciada diariamente pela mídia, que explora o sensacionalismo e incentiva um pessimismo generalizado.
As referências de Jesus aos pobres de espírito, aos brandos e pacíficos, aos que choram, aos que têm fome e sede de justiça, aos misericordiosos, aos puros de coração, aos pacificadores, aos perseguidos por causa da justiça; sua afirmação de que somos a luz do mundo, o sal da terra, são bem um convite ao equilíbrio, à serenidade, à resignação. Significam, em síntese, autêntico roteiro para a paz individual e coletiva. Único roteiro, diga-se de passagem, quase esquecido pela humanidade que se debate nas lutas do ter, em detrimento do ser. Luta incentivada pelo egoísmo, geradora da violência, que começa interiormente e desaba rudemente na vida coletiva.
O quase, colocado propositalmente no título, refere-se à grande maioria da população do planeta, desorientada e infeliz, distraída dos valores verdadeiros da vida humana e entregues à desarmonia causada pelo materialismo, com suas inevitáveis conseqüências.
Mas, Jesus permanece presente. Não está esquecido. Está nas atitudes daqueles que sabem perdoar, que aguardam com esperança, que trabalham sem cessar. Sua presença incomparável faz-se notar no comportamento dos que permanecem serenos e confiantes diante de quaisquer adversidades, porque sabem que somos conduzidos por orientação amorosa do Criador, que por amor aos filhos, incumbiu Jesus de nos conduzir. Este, por sua vez, distribui a paz, convida ao equilíbrio, apresenta roteiro de felicidade, e mais que isso, ensina que somente o amor ao semelhante pode nos levar a Deus!
Confiança em Deus, amor ao próximo, resignação ativa, tolerância, paciência, trabalho! Convenhamos, há outro caminho diante de tantas adversidades do dia-a-dia? Esta corrida louca, desenfreada dos extremos levará a algum lugar, senão ao desequilíbrio e ao sofrimento?
Iniciemos, pois, desde já, o exercício permanente da prece e do diálogo em família sobre os ensinos de Jesus para que Ele, o Senhor da Paz, não esteja esquecido dentro de nós e em nosso lar. Com as novas forças deste intercâmbio salutar poderemos levar conosco, onde formos, a serenidade de nossa luz interior, ainda que fraca ou pequena, adquirida porém, no silêncio interior da reflexão, como recomenda o Mestre.


Orson Carrara