A Visita de Jesus
UM ALDEÃO RUSSO, MUITO DEVOTO, TINHA PEDIDO EM SUAS ORAÇÕES,
DURANTE ALGUNS ANOS, QUE JESUS VIESSE VISITÁ-LO UMA SÓ VEZ QUE FOSSE, EM SUA
CHOUPANA.
UMA NOITE SONHOU QUE O SENHOR, NO DIA SEGUINTE, VIRIA FINALMENTE, ATENDER AO SEU
DESEJO; E TÃO CERTO FICOU QUE TAL ACONTECERIA QUE, APENAS ACORDOU, LEVANTOU -
SE, IMEDIATAMENTE, ENTREGANDO - SE AO TRABALHO DE POR EM ORDEM A SUA MORADIA
SINGELA, PARA QUE NELA PUDESSE SER RECEBIDO O HÓSPEDE CELESTE TÃO COBIÇADO.
APESAR DE UMA VIOLENTA TEMPESTADE DE GRANIZO E DE NEVE, QUE DUROU TODO O DIA,
NEM POR ISSO O POBRE ALDEÃO ABANDONOU OS PREPARATIVOS DOMÉSTICOS, CUIDANDO,
TAMBÉM DA SOPA DE COUVES, QUE ERA O SEU PREDILETO.
DE VEZ EM QUANDO, OLHAVA PARA A ESTRADA, SEMPRE À ESPERA DA FELIZ OCASIÃO, NÃO
OBSTANTE A TEMPESTADE CONTINUASSE IMPLACÁVEL.
DECORRIDO POUCO TEMPO, O ALDEÃO VIU QUE CAMINHAVA PELA ESTRADA, EM LUTA COM A
BORRASCA DE NEVE QUE O CEGAVA, UM POBRE VENDEDOR AMBULANTE, QUE CONDUZIA ÀS
COSTAS UM FARDO BASTANTE PESADO.
COMPADECIDO, SAIU DE CASA, INDO AO ENCONTRO DO VENDEDOR.
LEVOU - O PARA A SUA CHOUPANA, PÔS - LHE A ROUPA A SECAR AO FOGO DA LAREIRA,
REPARTIU COM ELE A SOPA DESTINADA AO "MESTRE", E SÓ O DEIXOU IR EMBORA, DEPOIS
DE SE CERTIFICAR QUE ELE HAVIA RECUPERADO AS SUAS ENERGIAS PARA CONTINUAR A SUA
JORNADA TÃO ARRISCADA.
OLHANDO DE NOVO, ATRAVÉS DA VIDRAÇA, VIU UMA POBRE MULHER TODA EMBARAÇADA, À
PROCURA DO CAMINHO, NA ESTRADA COBERTA DE NEVE.
FOI BUSCÁ - LA E ABRIGOU - A TAMBÉM NA CHOUPANA.
MANDOU - A AQUECER - SE AO LUME BENFAZEJO DO LAR, DEU - LHE DE COMER, EMBRULHOU
- A NA SUA PRÓPRIA CAPA, E NÃO A DEIXOU PARTIR ENQUANTO NÃO A SENTIU FORTALECIDA
PARA CONTINUAR O SEU PERCURSO.
A NOITE COMEÇAVA A CAIR, NO ENTANTO, NADA HAVIA QUE PUDESSE ANUNCIAR A VISITA DE
JESUS. CONTUDO, JÁ QUASE SEM ESPERANÇAS, O POBRE ALDEÃO ABRIU A PORTA, AINDA
MAIS UMA VEZ. ESTENDENDO OS OLHOS PELA ESTRADA, DISTINGUIU UMA CRIANÇA,
CERTIFICANDO - SE DE QUE ELA SE ENCONTRAVA PERDIDA NO CAMINHO, DE TÃO CEGA QUE
ESTAVA PELO GRANIZO.
MAIS UMA VEZ SAIU, PEGOU NA CRIANÇA QUASE GELADA, LEVOU - A PARA A CABANA, DEU -
LHE DE COMER E NÃO DEMOROU MUITO QUE A VISSE ADORMECIDA AO CALOR DA LAREIRA.
SENSIVELMENTE IMPRESSIONADO, ENVOLTO DE UMA PROFUNDA PAZ, O ALDEÃO SENTOU - SE
NUMA HUMILDE POLTRONA E ADORMECEU, TAMBÉM AO FOGO DO LAR, QUANDO, DE REPENTE,
UMA LUZ RADIOSA QUE PROVINHA DO LUME DA LAREIRA, ILUMINOU TODA A SALA.
NESTE MOMENTO, DIANTE DO POBRE ALDEÃO, SURGIU SERENO E SORRIDENTE, O "MESTRE DO
AMOR", ENVOLTO EM UMA TÚNICA RESPLANDESCENTE.
SURPRESO, O ALDEÃO FALOU:
"AH! JESUS! ESPEREI PELO SENHOR O DIA TODO E VÓS SEM APARECERDES !"
FOI QUANDO O MESTRE, COMPASSIVAMENTE, LHE RESPONDEU:
"FILHO, JÁ POR TRÊS VEZES, HOJE, TE VISITEI.......
O POBRE VENDEDOR AMBULANTE, A QUEM SOCORRESTES E DESTE DE COMER, ERA EU;
A POBRE MULHER, A QUEM DESTE A TUA CAPA, ERA EU; E ESSA CRIANÇA, AQUI PRESENTE,
A QUEM SALVASTE, TAMBÉM, ERA EU............
O BEM QUE FIZESTE A CADA UM DELES, A MIM O FIZESTE!"
Léon Tolstoi