Empecilhos ao Desenvolvimento da Criança

Analisando os empecilhos ao desenvolvimento intelectual e moral da criança, numa visão espírita, vamos nesta introdução, refletir juntos em torno do compromisso maior, assumido pelos pais, já que eles irão desempenhar um papel fundamental neste processo de crescimento.
Allan Kardec, na questão 582 de “O Livro dos Espíritos”, indaga:
Pode considerar-se a paternidade como uma missão?
E os Espíritos Superiores respondem: “É, sem contradita, uma missão. E, ao mesmo tempo, um dever muito grande, e que implica, mais do que o homem pensa, sua responsabilidade para o futuro. Deus põe a criança sob a tutela dos pais para que estes a dirijam no caminho do bem, e lhes facilitou a tarefa, dando à criança uma organização débil e delicada, que a torna acessível a todas as impressões. Mas há os que mais se ocupam de endireitar as árvores do seu pomar, e de fazê-las carregar de bons frutos, do que em endireitar o caráter de seu filho. Se este sucumbir por sua culpa, terão de sofrer a pena, e os sofrimentos da criança na vida futura recairão sobre eles, porque não fizeram o que lhes competia para o seu adiantamento nas contas que nem sempre os pais são responsáveis pela infelicidade dos filhos.” O que vemos, de um modo geral, é o desejo de todos os pais, com relação ao futuro de seus filhos, de que ele seja pleno de paz, realizações profissionais e felicidades. Se todos pudessem, procurariam amenizar suas dores e seus dissabores.
Entretanto, nessa mensagem, verificamos que eles nos advertem da responsabilidade dos pais com relação ao compromisso assumido no plano espiritual, de orientar, educar e dirigir estes espíritos que reencarnam em nossos lares, para que possam cumprir a programação de vida, que melhor se adapte ao seu progresso moral e espiritual. Neste sentido, qualquer fracasso de nossa parte, qualquer negligência ou omissão nos colocará como responsáveis pelas dores ou sofrimentos que nossos filhos tenham em conseqüência de nossa conduta no lar ou mesmo por faltar com a necessária atenção aos seus apelos ou solicitações quando sob nossa guarda.
O objetivo da reencarnação é o progresso moral do indivíduo, nos ensinam os princípios espíritas e este conhecimento amplia nosso entendimento em torno das questões sociais e morais que acompanham a evolução humana.
Educadores e psicólogos modernos se congregam em estudos e pesquisas em torno do desenvolvimento desde a fase pré-natal até a adolescência, analisando os fatores genéticos, as mudanças biológicas, os fatores sociais e familiares. Por seu grau de influência na mente infantil, colocam a família e a escola como fatores preponderantes no seu desenvolvimento intelectual e moral.
Na fase escolar a criança amplia seu mundo social e passa a sofrer influências dos colegas, dos professores e de todos os meios de comunicação utilizados nos processos educativos (TV, computador, técnicas utilizadas no aprendizado etc. Mesmo assim, a família continuará a ser o fator determinante de sua vida de relação e de seu desenvolvimento moral.
Quais seriam os maiores empecilhos neste desenvolvimento?
Podemos enumerar os seguintes:
1 – Rejeição e abandono (no lar e na sociedade)
2 – Excessivo controle psicológico (dos pais, dos professores, dos adultos)
3 – Negligência dos pais (com relação aos estudos, à alimentação, à saúde)
4 – Autoritarismo e hostilidade dos pais ou responsáveis
5 – Baixa auto-estima
6 – Discriminação racial, social ou religiosa
7 – Desrespeito aos direitos da criança (lazer, moradia, educação, saúde).
Estes fatores irão influenciar decisivamente em seu desenvolvimento físico, mental e espiritual.
“A maioria dos problemas psicológicos mais comuns na infância se apresentam de forma passageira e limitada severidade, se o funcionamento neurológico da criança é normal, se não está sujeita a traumas anormalmente intensos em seu ambiente social e se seus pais lhes fornecem bons modelos.” (1)
Assim, muitas crianças superam alguns dos fatores acima citados, quando seus espíritos já estão mais preparados, sua mente mais equilibrada e o meio onde vive e a família não influenciam de forma negativa a evolução de seu desenvolvimento.
Um dos empecilhos mais comuns e que afetam a mente infantil, em quaisquer grupos étnicos e de todos os níveis sócio-econômicos, é a discriminação racial ou religiosa. Provoca lesão em sua mente afetando seu comportamento, retardando seu desenvolvimento e sua formação moral. Torna-a, muitas vezes, alienada, agressiva com o próprio grupo a que pertença. Futuramente serão pessoas hostis, preconceituosas, de difícil relacionamento social.
Alguns educadores como Piaget e Kohlberg, consideram que: “o desenvolvimento dos valores morais da criança é um processo racional que coincide com o desenvolvimento cognitivo.”(1) Entretanto, numa visão mais ampla que a Doutrina Espírita nos confere, diríamos que a criança como uma personalidade preexistente, traz de vidas passadas, subsídios, tendências, aptidões, conhecimentos latentes e como tal, sua educação e seu desenvolvimento moral são gradativos e constantes, acompanhando sua evolução espiritual. Por estarem adormecidas, certas emoções e sentimentos afloram com maior intensidade na adolescência.
Nos dias atuais, vemos que fatores muito graves e intensos estão dificultando este desenvolvimento, como a miséria que impede a criança de participar da vida e do meio social no atendimento de suas necessidades primárias.
A miséria social advinda das guerras, dos flagelos da natureza, das perseguições políticas e religiosas, leva a criança à degradação de seus valores morais, a comportamentos agressivos e perturbadores, à marginalização.
Em mensagem de Emmanuel, no livro “Fonte Viva”, psicografia de Chico Xavier, na pág. 157, encontramos uma advertência que nos leva a profundas reflexões em torno da criança abandonada: “A vadiagem na rua fabrica delinqüentes que acabam situados no cárcere ou no hospício, mas o relaxamento espiritual no reduto doméstico gera demônios sociais de perversidade e loucura que em muitas ocasiões, amparados pelo dinheiro ou pelos postos de evidência, atravessam largas faixas dos séculos, espalhando miséria e sofrimento, sombra e ruína, com deplorável impunidade à frente da justiça terrestre.”
Meditando nas palavras do benfeitor espiritual, resta-nos refletir mais demoradamente em torno de nossa responsabilidade perante Deus, quando nos colocou como responsáveis e provedores daqueles que chegam ao nosso lar, como filhos ou dependentes...
Estaremos sendo fiéis ao compromisso assumido?
Estaremos semeando amor e compreensão, com justiça e equilíbrio?
A infância é marcada indelevelmente pelo ambiente doméstico.
Façamos nossa parte, pelo menos, no meio restrito do lar para que fique menos difícil viver no mundo atual onde os desastres sociais, a violência, as guerras e as discriminações ameaçam a paz e a fraternidade entre os homens.
A Doutrina Espírita enriquece nossos espíritos com a compreensão e o discernimento. Saibamos usar esta riqueza, principalmente, a favor dos que estão sob nossa responsabilidade moral e social. Certamente não nos arrependeremos, jamais, pelos frutos colhidos através da sementeira do amor e da generosidade.

(1) – MUSSEN/CANGER/KAGAN – Desenvolvimento e Personalidade da Criança – 4a edição – Editora Harper & Row do Brasil Ltda – Rio de Janeiro – Tradução de Maria Silvia Mourão Neto.


Lucy Dias Ramos - RIE