Ainda a Alcoolomania
"Servirá de escusa aos atos reprováveis o ser devido à
embriaguez a
aberração das faculdades intelectuais?"
"Não, porque foi voluntariamente que o ébrio se privou da sua razão, para
satisfazer a paixões brutais. Em vez de uma falta, comete duas."
(O Livro dos Espíritos, parte 3ª, cap. X, perg. 848)
Não têm sido poucas as justificativas buscadas por um enorme contingente de
indivíduos, para absolverem o vício da ingestão de bebidas em suas práticas
usuais. É mais do que compreensível a procedência dessas escusas, tendo-se em
conta que todos sabem, à saciedade, dos problemas variados que os alcoólicos são
capazes de promover sobre a saúde física e social.
Por mais paradoxal que seja, vemos todos os dias e há muito tempo, pessoas
vinculadas às mais variadas crenças provenientes do Movimento Cristão à procura
de explicações em apoio do seu vício alcoólico.
Dizem muitos que nada há que os impeça de sorver suas bebidas, uma vez que bebem
apenas socialmente. Não podem ser considerados alcoólatras, afirmam...
Vários outros alegam que a sua crença nada lhes proíbe, por isso nada deve
relacionar a sua fé aos costumes inocentes, mantidos para a sua alegria e
satisfação...
Alguns se baseiam no fato de que tomam suas doses em casa, e, dessa forma, estão
justificados, porque não incomodam a ninguém...
Diversos têm responsabilidades declaradas nos campos da orientação cristã,
asseveram que não são "ortodoxos" ou que não se podem deixar "fanatizar",
esquecidos ou ignorando que ser ortodoxo é exatamente ser fiel à crença
professada em todos os seus pontos e que, se é importante não fanatizar-se pela
crença, será bem mais importante que não se deixe fanatizar pelo vício.
Muitos são os que, mais atormentados na busca de uma retumbante legitimação para
a aloolofilia, chegam a afirmar que "até Jesus bebeu...", uma vez que não
logrando alevantar-se até os exemplos nobilíssimos do Divino Modelo e Guia da
Humanidade, levianamente tentam baixá-Lo até os caminhos de intemperança e
morbidez em que transitam.
Surgem defesas apaixonadas e argumentos esdrúxulos, sofismáticos mesmo.
Observamos, porém, que o vício, seja praticado de que maneira for e onde for e
por quem for, jamais deixará de ser um vício, necessitando ser expurgado, a fim
de que se reerga o indivíduo a ele submetido, para alcançar seus verdadeiros
caminhos de renovação e júbilo.
Esteja o álcool utilizado como costume social, doméstico, particular ou isolado,
como se deseja situá-lo, sendo algo completamente dispensável para a vida da
pessoa, estabelecerá o que se chama de alcoolismo crônico, que é o hábito de
consumação de etílicos variados, como aguardentes, cidras vinhos e cervejas,
ainda que em doses moderadas, toda vez que os indivíduos não consigam passar sem
eles.
Sem dúvida, na esteira de todo e qualquer vício alimentado por qualquer classe
de pessoas, estarão sempre atuantes as influenciações obsessivas, detendo os
seus usuários em regime de morna posição psíquica, entre a indecisão de mudar ou
manter-se como está, e, em razão das fortes relações humanas com o 'homem
velho', costumeiramente se decidem por manter o processo, procurando, então,
novas escusas, até chegarem ao ponto de afirmarem que "já assumiram o hábito...
e pronto..."
Nesses caminhos em que o vício se apresenta como coisa assumida, há os que fazem
questão de se mostrarem indiferentes a quaisquer avisos do bom senso,
sinalizando com a liberdade própria, enquanto outros fazem questão de debochar
dos que pregam virtudes, desafiando-os com a grotesca exibição de suas mazelas,
tão logo acabam de ouvir ou de ler qualquer orientação salutar.
Como as Leis de Deus, ínsitas no âmago de cada um, não deixarão de realizar seus
labores, todos se enfrentarão, mais hoje, mais amanhã, a fim de revisarem os
prejuízos que provocarem sobre a economia psíquica e orgânica, na medida dos
próprios conhecimentos e do entendimento que mantinham de tudo, considerando-se
as descoordenações motoras, que caracterizam perturbações neurológicas ou os
desajustes psíquicos, mostrados na explosão de alegrias, de exuberância ou de
prostração ou tristeza, violência e loucura a que a alcoolomania dá lugar.
É curioso e estranho mesmo como a opinião pública se aglutina para lutar contra
a maconha, o haxixe, a cocaína e outros destruidores da vida equilibrada, por
meio de vastas propagandas, de coerção policial, de palestras e demonstrações
diversas, por todos os meios de comunicação, recebendo com festas e com as
mesmas portas propagandísticas de alcance da massa a difusão alcoólica. Esse
veneno físico e moral vem participando das festividades domésticas como das
religiões, desde épocas distanciadas no tempo. Essa droga terrível, sob
disfarces ou declaradamente, tem contado com os aplausos mais delirantes ou com
a aceitação mais explícita das famílias e de muitos homens e mulheres ligados
aos movimentos da fé cristã, embora não encontrem qualquer apoio ou incentivo
nos textos cristãos, em que se dizem embasar, para a manutenção do "status" do
alcoolismo.
Há que precaver-se aquele que labora na mediunidade sob a orientação do
Espiritismo. Cabe ao médium a suave e permanente vigilância para que o vício,
disfarçado, justificado, não logre, sorrateiramente, destruir as suas
resistências morais e corporais.
Como o Espiritismo é uma doutrina de lógica e de bom senso, sugere aos seus
seguidores o ajustamento a esses padrões, começando, em tais casos, a
perguntar-se sobre qual a utilidade de tais usos em seus regimes e dietas. Em
que lhes serve, verazmente, o uso de alcoólicos? Não encontrando porquê, deverá
lutar para abrir mão do que não lhe vale nada, do que não representa nenhum
valor para sua vida íntima.
Beber alcoólicos somente para ter ou fazer companhias sociais, ou para que
tenham estímulos artificiais para a coragem ou para o que for, poderá significar
muito tempo de tormentas e de frustrações, nas indispensáveis reparações do
corpo e da mente, em função desses suicídios que se vão cometendo à sombra de
mil e uma falácias que inebriam os ouvidos com frases de efeito, bem arrumadas,
mas que não conseguem acalmar a consciência, onde pulsam as Sublimes Leis.
Abre mão, assim, lidador da mediunidade, dos requintados ou comuns alcoólicos,
seja em que regime for, pois um veneno letal não deixará de sê-lo, quando se
apresenta em recipiente de cristal, ou quando ministrado em doses diminutas e
espaçadas. Com o tempo alcançará seus efeitos: destruir.
Busca, na compreensão espírita, a resistência, as energias de que careças para
dizer "não" aos vícios de quaisquer naturezas e sê feliz, de consciência lúcida
e corpo liberado dos tóxicos, pondo tuas mãos sempre operosas nos labores do
Bem.
Camilo