O Fantasma do Castelo
Há cerca de duas semanas, a imprensa mundial voltou seus olhos
para a fenomenologia espírita, uma vez mais. No castelo de Hampton Court, uma
das residências do monarca inglês Henrique VIII, as câmeras do circuito fechado
de televisão do palácio, gravaram uma imagem fantasmagórica: uma figura em traje
de época abre a porta, olha fixamente para o exterior e depois volta-se para
dentro, fechando-a às suas costas.
O episódio reforça a tese de que o castelo seja realmente “mal-assombrado”, ou,
na linguagem espírita, “habitado por espíritos desencarnados que ali permanecem,
indefinidamente, recusando-se ao retorno ao plano espiritual e à continuidade de
sua peregrinação evolutiva”.
Não temos nós, de longe, condições técnicas de avaliar mais detidamente o
episódio, razão porque vamos apresentar algumas hipóteses de análise.
Primeiramente, devemos cotejar a possibilidade de ser um “jogo de cena
publicitário”, afinal de contas, além do palácio conservar a pecha de lugar
fantasmagórico, a corte inglesa cobra valores respeitáveis para o ingresso e o
tour pela antiga edificação, dos curiosos e turistas. Um “fato” assim noticiado
pela imprensa é efetivamente um motivo a mais para a procura ao lugar turístico,
“engordando” ainda mais os cofres da família real britânica.
Deixando de lado o ceticismo, encaremos o fenômeno com os olhos críticos da
ciência espiritista. Primeiramente, o fenômeno de natureza paranormal tem lugar
onde o ambiente propicia sua ocorrência, havendo a necessidade de, no caso de
uma aparição pública, da doação de matéria ectoplásmica para sua ocorrência. Em
outros termos, para que o ser torne-se visível a todos (ou a quem esteja
vislumbrando a fenomenologia, sem utilização de dons mediúnicos pessoais – como
se verifica no caso da vidência, nos médiuns – alguém, no castelo, precisa
“doar” ectoplasma para que a materialização ocorra. Em outros tempos, mormente
os de ocorrência de aparições, nos séculos XIX e XX (primeira metade), o intuito
da espiritualidade era o de atrair a atenção dos estudiosos da doutrina e dos
cientistas para a realidade do mundo espiritual.
Tais ocorrências, diga-se de passagem, não são privilégio nem patrimônio do
Espiritismo. Volta e meia reaparecem, com objetivos distintos, fundamentalmente
para determinar a existência de um “universo paralelo”, habitado por todos
aqueles que já deixaram o invólucro corporal, mas que continuam “mais vivos do
que nunca”.
Neste sentido, em caráter espiritual-moral, caberiam outras digressões: Se,
realmente, tratar-se do espírito de uma das esposas do monarca (assassinada
naquele local, depois que o rei descobriu suas relações sexuais
pré-matrimoniais), ou dele próprio, podemos crer que, atávico ainda às
imperfeições pessoais e ao remorso de seu passado, a criatura permanece refém de
suas próprias impressões espirituais, seja pela constância na atitude de não
perdoar seu agressor, ou perdoar a si próprio e, egoisticamente ligado à matéria
(poder, riqueza, honra e glória), não admite “ter morrido”, e acha-se, ainda,
vivo. Ou, então, mesmo consciente de sua morte, recusa-se ao retorno à pátria
espiritual, porque se compraz em assustar os outros, na qualidade de brincalhão
e zombeteiro que possa ser.
A Igreja, em outros tempos, e, talvez, até, agora, resolva endereçar ao local
algum de seus especialistas exorcistas, visando “libertar” a alma sofredora.
De nossa parte, espíritas que somos, e, dentro da recomendação de vibração pelos
desencarnados, só nos resta, admitindo-se a veracidade da manifestação – e não
um truque prestidigitador – evocar os bons espíritos para que acudam a alma
enferma, para que ela possa, tão-logo, admitir a necessidade pessoal de seguir o
seu curso, deixando seu habitat provisório, no castelo, retornando, enfim, ao
lugar de tratamento e reeducação no Plano Espiritual, para, ao final, prosseguir
seu curso de redenção.
O grande proveito que devemos tirar da situação é a utilização deste exemplo –
mais um – para confirmar nossa tese de sobrevivência do espírito, no
post-mortem, para empregá-lo no estudo sério e dedicado das provas da
imortalidade e da comunicabilidade entre vivos e mortos.
Marcelo Henrique Pereira