As Aflições do Dirigente

Estamos vivendo um tempo, em que talvez haja necessidade de catalogarmos nomes dos dirigentes espíritas, de nosso conhecimento pessoal, e periodicamente enviarmos rápidos e pequenos bilhetes de conforto e companheirismo. Uma espécie de Campanha de Solidariedade (estimuladora, amiga) entre os dirigentes espíritas, em função das aflições que pesam sobre os ombros daqueles que dirigem nossas instituições e o próprio movimento espírita em si.
Sabe-se que não é tarefa fácil conduzir uma instituição, seja de que natureza ela for. A par das enormes responsabilidades doutrinárias (onde a fidelidade à Doutrina Espírita, seu estudo e divulgação são tarefas prioritárias), aliadas ao estímulo e carinho contínuos com que deve envolver a equipe de tarefeiros (também companheiros humanos), somadas ainda às preocupações administrativas (que não são poucas) e ao sempre crescente trabalho de promoção humana (úteis, necessários e coerentes com a proposta espírita) com que a esmagadora maioria das instituições está envolvida – e diga-se de passagem, com poucos companheiros verdadeiramente comprometidos –, surgem ainda as dificuldades pessoais e familiares de cada um, pessoa comum de nossa sociedade.
Toda esta carga de preocupações, providências e permanente trabalho afligem a pessoa comum do dirigente. Isto significa oportunidade solidária entre os próprios dirigentes, apoiando-nos mutuamente. Vale citar que a tarefa espírita está vinculada à causa de Jesus e solicita renúncia, sacrifício, dedicação. Mas também pede tolerância, paciência, resignação, disciplina... Não é incomum encontrarmos companheiros abatidos, desanimados, enfermos e até mesmo desistindo da própria tarefa, entregando-se ao abandono da própria auto estima e esquecendo-se do comprometimento com a tarefa de Jesus. Natural, pois somos humanos! Estamos todos sujeitos a quedas, fracassos, tropeços... Mas também podemos optar pelo levantar-se, pelo reerguer-se e buscarmos sintonia com os bons espíritos que estão sempre a amparar, defendendo-nos das sugestões infelizes. Esta é a hora da solidariedade e aos que estão equilibrados, fortalecidos, cabe o dever do estímulo, do carinho, do apoio, aos companheiros em dificuldades.
Na verdade, temos mesmo é que levantar os olhos para o futuro, esquecer o passado e continuar trabalhando, "tomando da charrua, sem olhar para trás". Neste início de ano, façamos valer os apelos à perseverança, trazendo vida nova às próprias atividades. Este "conservar-se" no passado, ignorando a direção que a velocidade do progresso nos aponta assemelha-se a estagnação improdutiva. E somente conseguiremos alcançar esse dinamismo dos tempos atuais estando conectados ao nosso tempo, através da união solidária com os companheiros do Movimento. Este intercâmbio fortalece e ajuda a vencer os obstáculos que se apresentam.
Lembremo-nos das sábias palavras, "aquele que perseverar até o fim será salvo" e ao mesmo tempo estejamos sempre estudando, pois este traz o entusiasmo e o norteamento de nossas ações. Inclusive queremos sugerir consulta aos livros Obreiros da Vida Eterna (André Luiz/Chico Xavier), em seu capítulo 11 e também Filhos de Deus (Joanna de Ângelis/Divaldo P. Franco), em seu capítulo 12.
E para transmitirmos esse conforto aos companheiros aflitos, estejamos atentos para, ao enviar correspondência de divulgação ou convocação para reuniões, escrevermos manualmente o nome do companheiro e dirigindo-lhe, mesmo que rápidas, palavras de estímulo e carinho. Isso será fortificante para o coração do amigo, que se levantará ao toque de nossa exortação à coragem, à vigilância, à perseverança, ao bem! Bem, aliás, que nos cabe até como dever. É sim uma Campanha de Solidariedade no momento difícil de todos nós. Conforto que não ficará em vão, pois os benefícios virão nas próprias atividades do Centro e do Movimento Espírita, onde estão os demais companheiros que buscam a luz do esclarecimento espírita, que tanto nos beneficia.
O sábio instrutor Emmanuel, no livro Fonte Viva (1), comentando um dos versículos do capítulo 6 da Carta aos Gálatas (2), pondera: "(...) Se tentarmos orientar o irmão perdido nos cipoais do erro, com aguilhões de cólera, nada mais fazemos que lhe despertar a ira contra nós mesmos. Se lhe impusermos golpes, revidará com outros tantos. Se lhe destacamos as falhas, poderá salientar os nossos gestos menos felizes... Se lhe aplaudimos a conduta errônea, aprovamos o crime. Se permanecemos indiferentes, sustentamos a perturbação (...)" Depois continua: "(...) Mas se tratarmos o erro do semelhante, como quem cogita de afastar a enfermidade de um amigo doente, estamos, na realidade, concretizando a obra regenerativa (...)" E segue o sábio amigo: "(...) Nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio... Abeiremo-nos do companheiro infeliz, com os valores da compreensão e da fraternidade (...)".
Observemos que os conselhos do sábio instrutor valem tanto no relacionamento com outros dirigentes, quanto para o ambiente doméstico e social, como para com os demais intercâmbios dentro de um grupo qualquer. Como escreveu o autor do livro citado (2), "(...) Isso é Evangelho puro, sem sombras e sem erros. É preciso pregar de novo esse evangelho, mesmo entre nós cristãos, para manter a chama da ‘vida no espírito’ perenemente acesa. ‘Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo’ (Gl 6,2). ‘Cargas’ aqui vem no sentido de problemas, doenças, tentações, fraquezas que qualquer um pode experimentar. Não podemos abandonar os irmãos que trazem problemas consigo, problemas de um são também de todos, contudo cada um deve esforçar-se para não sobrecarregar os outros.(...)".
Notem os leitores que o sentido do ensinamento, repetimos, vale para dirigentes ou qualquer outra pessoa, pois aqueles são também pessoas comuns, não o esqueçamos. Porém, destacamos aqui sim a figura do líder, também sujeito às frágeis condições humanas, a quem, por dever cristão, devemos também nossa atenção e carinho, bênçãos que nenhum de nós pode dispensar.

cap. 37, edit. FEB, Rio-RJ, 18ª edição 1992.
Carta escrita por Paulo de Tarso aos habitantes da província de Galácia (comentada no livro Aos Gálatas – A Carta da Redenção, de L. Palhano Jr., Publicações Lachâtre e ICEB, 1ª edição 1999, Rio-RJ, páginas 23 e 146), onde Paulo e Barnabé estiveram na tarefa de divulgação da Boa Nova, entre outros locais. A carta objetivou orientar problemas entre os gálatas.


Orson Carrara