Ensinar, por Espíritos Diversos
Chico Xavier
A TERRA NATAL E A FAMÍLIA
Francisco Cândido Xavier, nasceu a 2 de abril de 1911, no município mineiro de
Pedro Leopoldo, uma cidade pequena, tranqüila, de tradição bandeirante, sem
atrações, vida pacata e comércio rudimentar, tendo apenas a agricultura como a base mais importante de subsistência. A chegada da indústria pesada, do aço, fábricas de cimento e outras, causou uma grande transformação no município, ocasionando inclusive o desenvolvimento e o aumento populacional. Em conseqüência, a vida pacata passou a não fazer mais parte do cenário de Pedro Leopoldo, onde hoje se conta com uma população de aproximadamente quarenta mil
habitantes. Pedro Leopoldo ficou conhecida nacionalmente a partir da década de
30, quando chegaram às grandes cidades as primeiras notícias da fama de Chico
Xavier. O pai João Cândido Xavier e a mãe Maria João de Deus, tiveram nove
filhos: Maria Cândida, Luíza, Carmozina, José Cândido, Maria de Lurdes,
Francisco Cândido, Raymundo, Maria da Conceição e Geralda.
Em 1915, Dona Maria João de Deus, percebendo a gravidade de sua enfermidade e
pressentindo o desencarne próximo, entregou seus filhos a pessoas amigas, para
cuidarem de sua educação. Diante de tais circunstâncias, Chico foi entregue a
sua madrinha, Dona Rita de Cássia, mais conhecida como Ritinha.
Percebendo a separação de sua família, o menino Chico, perguntou a sua mãe o
porquê daquilo estar acontecendo, sem compreender a gravidade da situação e,
muito inocentemente, chegou a pensar que a mãe não os amava mais.
Dona Maria, conseguindo superar as emoções, lhe disse que se preparava para sair
da casa em tratamento de saúde e que voltaria em breve para cuidar de todos.
Resignado com a situação, aceitou as palavras finais de sua mãe, que veio a
desencarnar no dia seguinte, 29 de setembro.
A VIDA COM DONA RITINHA
Durante suas constantes crises nervosas, Dona Ritinha premiava Chico com surras
que chegaram a acontecer até três vezes ao dia. Sua vida tão cheia de provações,
certamente poderia torná-lo um ser revoltado e marginal. Tal fato ocorreria
realmente se sua riqueza espiritual de médium não se manifestasse.
Certa vez, Chico dirigiu-se à madrinha muito feliz, dizendo que havia conversado
com a mãe desencarnada. Foi o suficiente para receber uma surra extra. Essa
conversa com sua mãe foi a primeira experiência de Chico no campo da
mediunidade. No entanto, ele continuava a ter visões e conversas com sua mãe, o
que sempre narrava à madrinha. Dona Ritinha decidiu então conversar a respeito
com o pároco do local, o qual recomendou ao Chico que rezasse mil Ave-Marias com
uma pedra de 15 kg em cima da cabeça durante a procissão. Não bastasse isso,
Chico foi atingido por algumas garfadas, o que algum tempo depois se transformou
numa hérnia estrangulada, que o acompanha até hoje.
Em suas visões, a mãe o aconselhava a ter paciência. Explicava-lhe que não podia
levá-lo para junto de si e procurava ajudá-lo a superar os maus tratos da
madrinha. Outro fato lamentável ocorreu quando Dona Ritinha soube que a única
maneira de curar a ferida infeccionada de seu outro filho adotivo, o sobrinho
Moacir, era lamber-lhe a ferida durante três semanas seguidas, em completo
jejum. Incumbido desta tarefa, Chico foi desesperado até o quintal, onde evocou
o socorro de sua mãe. Recebeu dela palavras que naquele momento lhe confortaram.
E quando iniciou a penitência, percebeu com surpresa que sua mãe colocava um
pozinho sobre a ferida. E assim, pouco depois a perna de Moacir estava curada.
Apesar de tantos maus tratos, até hoje nunca se ouviu uma só palavra de Chico
Xavier queixando-se de sua madrinha. Ao contrário, ele diz que o temperamento de
sua madrinha Rita era benévolo.
SEGUNDO CASAMENTO DO PAI
A permanência de Chico junto a Dona Ritinha durou dois anos. Em 1917 seu pai
casou-se em segundas núpcias com Dona Cidália Batista, de cuja união a família
Xavier se viu aumentada em seis filhos: André Luís, Lucília, Neusa, Cidália,
Doralice e João Cândido.
Dona Cidália fez questão de reunir todos os filhos de João Cândido. Foi quando
Chico mudou-se para junto deles. Foram dez anos de compreensão e muito carinho
entre pai, mãe e quinze filhos!
A PRIMEIRA MENÇÃO HONROSA
Os espíritos continuavam a enviar mensagens a Chico, mas ele receava ser
rotulado de louco se comentasse com alguém as conversas que mantinha com "almas
do outro mundo”. Ele percebia os fenômenos mas ainda não sabia explicá-los.
Chegavam a manifestar-se até na sala de aula, durante os quatro únicos anos de
instrução primária que recebeu.
O próprio médium conta que, em 1922, no primeiro centenário da independência do
Brasil, todos os alunos tiveram que apresentar uma dissertação sobre a data.
Antes de começar a dissertação Chico viu um homem ao seu lado ditando o que
deveria escrever. Assustado foi falar com a professora que o aconselhou a
escrever o que ouvira, tranqüilizando-o: "Ninguém lhe disse nada. O que você
ouviu veio de sua própria cabeça". Com esse trabalho o garoto Chico recebeu a
sua primeira Menção Honrosa.
APROFUNDAMENTO NOS ESTUDOS DA DOUTRINA
Naquela época a maior dificuldade de Chico era conciliar a Doutrina Católica,
que lhe era imposta, com as primeiras manifestações e conhecimento que obtinha
do espiritismo.
Começou a ler sobre a doutrina espírita aos dezessete anos. Nesta época veio a
perder sua segunda mãe, Dona Cidália, que desencarnou no dia 19 de abril de
1931. Seu pai não mais voltou a se casar, desencarnando no dia 6 de setembro de
1960, na cidade de Pedro Leopoldo aos 92 anos de idade.
Chico prossegue em seus estudos doutrinários apesar de o padre Sebastião, que
era o conselheiro da família e o mesmo que lhe receitou as mil Ave-Marias como
penitência para acabar com as "assombrações", deixar bem claro que a igreja
Católica não aprovava o Espiritismo. Decidido que estava, Chico aprofunda seus
conhecimentos pesquisando Allan Kardec e se dedicando cada vez mais ao
desenvolvimento mediúnico.
FATO DECISIVO
O fato que levou decisivamente Chico Xavier a se dedicar à tarefa mediúnica
ocorreu no mesmo ano de 1927. Uma de suas irmãs ficou em estado de profunda
obsessão, atormentada durante dias por maus espíritos. Chico procurou o amigo
José Hermínio Perácio, espírita convicto, que lhe ofereceu sua casa para um
tratamento adequado. José e sua esposa Carmem, uma médium experiente,
conseguiram curar a irmã de Chico através dos ensinamentos da doutrina espírita
e do desenvolvimento de suas faculdades mediúnicas. Ainda na residência do casal
espírita, na Fazenda Maquiné, situada no município de Curvelo, a 100 km de Pedro
Leopoldo, Chico e sua irmã receberam mensagens tranqüilizadoras da mãe. Assim, a
irmã voltou para a sua casa completamente curada e Chico sem qualquer dúvida a
respeito da verdadeira face do espiritismo. Desde então ele organizou e passou a
reunir um grupo de crentes para estudar e desenvolver a doutrina. Tal passagem é
narrada no prefácio de Parnazo de Além Túmulo, onde confessa: "...foi nessas
reuniões que me desenvolvi como médium escrevente, semimecânico, sentindo-me
muito feliz, datando daí o ingresso do meu nome nos jornais espíritas onde
comecei a escrever sob a inspiração dos bondosos mentores que nos assistiam".
EMMANUEL
Emmanuel, o principal amigo espiritual de Chico Xavier, acompanha o médium desde
que as primeiras manifestações espirituais se fizeram perceber pelos amigos,
parentes e pelo próprio Chico. Quatro anos antes de encontrar o médium, Emmanuel
já havia mantido contato com Dona Carmem Perácio numa reunião espírita realizada
em Maquiné. Emmanuel identificou-se, na ocasião, como amigo espiritual de Chico,
relatando a Dona Carmem que esperava apenas o momento certo para começar a
"grande tarefa dos livros psicografados" através dele.
AS PROVAÇÕES DOS ESPÍRITOS
Em 193l, começaram os primeiros contatos entre Emmanuel e Chico. Nessa época
Chico já sofria de uma doença complexa nas vistas: o deslocamento do cristalino,
que, somado ao estrabismo da vista direita, incomodava-o dia e noite. Ele pediu
ao mentor uma orientação sobre o tratamento que deveria seguir para amenizar o
seu sofrimento. Talvez pensasse em obter uma cura imediata através dos poderes
espirituais de Emmanuel, mas este lhe ensinou uma lição: não deveria esperar
privilégios do mundo espiritual só porque havia sido escolhido para transmitir
ensinamentos sublimes. Deveria tratar-se sim, recorrendo à medicina humana, que
segundo Emmanuel, "está no mundo em nome da Divina Providência".
O desprezo de Chico pelos bens materiais e pelos cuidados com o corpo também não
merece a aprovação de Emmanuel, para quem "o corpo é comparável a uma enxada e o
homem lembra o lavrador. Todo cuidado do lavrador é necessário para conservar a
enxada em condições de trabalhar com acerto e segurança". As lições foram
assimiladas em parte. Chico começou a se cuidar, entretanto o seu intenso ritmo
de vida não lhe permitia ter uma boa saúde, pois trabalhava praticamente o dia
todo e dormia apenas três horas durante a noite.
Em sua juventude seu corpo ainda resistia. Porém, com o passar dos anos, as
defesas do organismo foram se esgotando e nem com a ajuda da medicina terrena
Chico escapou da debilidade progressiva. Desde 1976 sofreu crises de angina e
dois enfartes. Após a ultima crise de angina, em março de l982, precisou ser
assistido permanentemente por um médico, o clínico geral Eurípedes Vieira, e
tomar medicamentos diariamente.
O que a medicina dos homens não conseguiu curar foi o problema da visão. Mas uma
vez Chico deu prova de que não se desviaria dos ensinamentos de Emmanuel ao
recusar em 1969 uma oferta do médium Zé Arigó que desejava operar
espiritualmente os seus olhos. "A doença é uma provação do espírito que devo
suportar", respondeu Chico.
TRABALHO MATERIAL
Desde os 8 anos Chico trabalhava para ajudar no sustento da família e poucas
foram as horas vagas para devotar-se ao Espiritismo. Foi operário em uma fábrica
de tecidos, trabalhou como servente de fiação, servente de cozinha no bar de
Claudovino Rocha, caixeiro no armazém de Felizardo Sobrinho e, finalmente,
inspetor agrícola. O emprego de servente de cozinha fez nascer em Chico o hábito
de preparar suas próprias refeições.
A CONFUSÃO DO NOME
Chico Xavier, ao ingressar para o serviço público como inspetor agrícola,
precisou providenciar seus documentos pessoais. Junto com seu pai dirigiu-se ao
cartório da cidade a fim de obter a sua certidão de nascimento. Qual não foi a
surpresa de ambos, quando o funcionário do cartório não conseguiu encontrar ali
o seu registro. Após várias horas de busca deparam-se com outras surpresas: o
filho do Sr João Cândido Xavier ali registrado era Francisco de Paula Cândido,
nascido a 2 de abril de 1910, quando o correto seria: Francisco Cândido Xavier,
nascido em 2 de abril de 1911. Como não havia tempo para modificação naquele
momento, seu nome assim permaneceu até 1965. Coube ao Meritíssimo Juiz de
Direito da 2ª Vara de Uberaba, Dr Fábio Teixeira Rodrigues Chaves, retificar por
sentença o seu nome, passando então a usar aquele que o tornara conhecido
através das suas atividades mediúnicas.
Portanto, para sanar qualquer dúvida, funcionário publico, hoje aposentado do
Ministério da Agricultura, é o Sr Francisco de Paula Cândido. Francisco Cândido
Xavier nunca existiu no quadro de funcionários desse Ministério, pelo menos até
1965.
Refletindo sobre tal confusão, após algum tempo, o pai de Chico lembrou-se de
que havia solicitado a um amigo para que fosse em seu lugar efetuar o registro
de seu filho. Esse amigo, ao chegar ao cartório lembrou-se de que o dia 2 de
abril era, segundo o calendário católico, consagrado a São Francisco de Paula.
Foi então que decidiu registrar o menino como Francisco de Paula, completando
com o primeiro sobrenome, Cândido, ao invés de Xavier.
OS TRÊS PERÍODOS DE VIDA MEDIÚNICA
Mesmo sem tempo, Chico conseguiu desenvolver-se mediunicamente com a colaboração
do casal Perácio. Em 1934, quando o casal transferiu-se para Belo Horizonte, a
presidência do centro espírita de Pedro Leopoldo foi entregue a José Cândido
Xavier, irmão de Chico. "Tive três períodos distintos em minha vida mediúnica",
relata Chico Xavier, no início de Parnazo. "O primeiro, de completa
incompreensão para mim, é aquele dos 5 anos de idade, quando via minha mãe
proteger-me, até aos dezessete anos, quando a doutrina espírita penetrou em
nossa casa. O segundo, de 1928 a 1931, no qual psicografei centenas de mensagens
que os benfeitores espirituais, mais tarde, determinariam que fossem
inutilizadas, porque em suas opiniões essas mensagens eram apenas esboços e
exercícios. O terceiro período começou com a presença do nosso abnegado
Emmanuel, que, em 1931, assumiu o encargo de orientar todas as atividades
mediúnicas até agora".
A VIDA PREGRESSA DE EMMANUEL
Após inúmeros contatos com Emmanuel, Chico conseguiu saber algo sobre a vida
pregressa do espírito benfeitor: ele esteve na pele de um senador Romano da
Judéia, Publius Lentulus, casado com Lívia, com quem teve uma filha de nome
Flávia. Sua vida era cercada de luxo e ostentação, totalmente devotada ao
imperador César, enquanto que Lívia dedicou sua vida a Deus. Presenciou da
arquibancada de honra do Circo Máximo, a execução da mulher que amava e que se
convertera ao cristianismo, sem manifestar qualquer reação que impedisse a
ocorrência funesta.
Desencarnou tragicamente, no ano de 79, em Pompéia, quando da erupção do
Vesúvio. Anos mais tarde, reencarnou como Nestório, negro de grande cultura. Foi
feito escravo pelos romanos e comprado por uma família nobre de Roma que o
aproveitou como professor. Cristão desde a juventude, foi um dos assistentes das
pregações evangélicas do apóstolo João Evangelista em Efeso. Freqüentava as
reuniões nas catacumbas e, certa noite, na ausência do pregador Policarpo,
substitui-o encaminhando a palestra. Após belíssimos ensinamentos, ele e todos
os que o ouviram, foram presos e condenados a morrer a flechadas e a serem
devorados pelas feras no Circo Máximo.
A mais recente reencarnação de Emmanuel teria sido como o Padre Manuel da
Nóbrega, primeiro apóstolo do Brasil. Nasceu em Sanfins, Portugal, em 18 de
outubro de 1517 e desencarnou no Rio de Janeiro, no Colégio dos Jesuítas, por
ele mesmo construído, no ano de 1570, no mesmo dia e mês de seu nascimento,
contando com 53 anos de idade sendo a tuberculose a causa de sua morte.
Mesmo sentindo que Chico estava preparado para receber mensagens psicografadas,
Emmanuel impôs uma condição básica para trabalhar ao seu lado: que o médium
seguisse, acima de tudo, os ensinamentos de Hippolyte Léon Denizard Rivail,
cognominado Allan kardec (03/10/1804 - 31/03/1869).
A orientação é seguida à risca até hoje. Chico se limita a aprender e a
transmitir os ensinamentos codificados por Kardec. A humildade é sempre presente
nas atitudes de Chico, que revela aversão à idolatria e à tentativa de alguns
que desejam mitifica-lo.
A VIAGEM A BELO HORIZONTE
Em janeiro de 1933, Chico trabalhava no armazém de José Felizardo Sobrinho como
balconista, recebendo quarenta cruzeiros mensais. O amigo José Álvaro, poeta e
escritor, propôs-se a levá-lo para a capital mineira em busca de um melhor
salário. João Cândido seu pai, ficou entusiasmado e incentivou o filho a aceitar
a proposta. Chico, defrontando-se com o dilema, consultou Emmanuel que lhe disse
achar inoportuna a viagem, mas aconselhou-o a não desobedecer ao pai. Assim, ele
resolveu viajar após conseguir uma licença no armazém.
Diante de um novo mundo em Belo Horizonte, onde participava de convenções
literárias e recebia visitas de todos os tipos, Chico teve seu primeiro contato
com a fama, pois todos queriam conhecer o autor do Parnazo. Durante três meses,
ele permaneceu em Belo Horizonte, mas as agitações e os elogios não foram
suficientes para fazê-lo perder a humildade. Regressou a Pedro Leopoldo
retomando suas atividades no armazém do senhor Felizardo.
AS SESSÕES ABERTAS AO PÚBLICO
Dois anos mais tarde, Chico tornou-se alvo de uma longa reportagem do jornal O
Globo. Essas reportagens colaboraram para que a fama de Chico Xavier
ultrapassasse os limites de Minas Gerais. A partir daí uma verdadeira romaria
invadiu Pedro Leopoldo para conferir as habilidades de Chico Xavier. Chico não
se sentia à vontade com a notoriedade e, mais de uma vez, manifestou seu temor
de que a fama excessiva pudesse prejudicar sua missão. Tal fato não ocorreu e o
que ele não poderia imaginar era que anos depois seria conhecido e amado nos
quatro cantos do país.
Nessa época o médium estava preocupado que as sessões abertas ao público, que
era um trabalho sério que ele vinha realizando, se transformasse num simples
show. Os textos eram psicografados por Chico Xavier em vários idiomas: inglês,
alemão e até em sânscrito. Tal fenômeno era o que mais impressionava a leigos e
estudiosos.
Emmanuel esperou por um período de dois anos e solicitou a Chico que as reuniões
desse tipo fossem encerradas. Para o mentor o trabalho do médium vinha-se
cercando de uma curiosidade improdutiva e isto certamente iria ameaçar a tarefa
mais importante que seria a da divulgação de ensinamentos através de livros
psicografados. Emmanuel sabia o que estava fazendo. Tanto é que a década de 30
foi a mais rica em termos de mensagens esclarecedoras. O mentor transmitiu toda
a sua sabedoria em textos que tratavam dos mais variados temas, como Sociologia,
Economia, Política, etc.
DESENCARNE DO IRMÃO
Com o desencarne de seu irmão e companheiro de luta, José Cândido Xavier, em
fevereiro de 1939, Chico Xavier passa por mais um momento doloroso em sua vida.
Acumulou então a tutela dos sobrinhos e da viúva Geni, companheira nas
atividades espirituais, porém muito doente. Chico desdobra-se entre o trabalho
no armazém durante o dia todo e à noite participando das sessões espíritas.
Nesta época ocorre mais um fato curioso: seu irmão deixara uma grande dívida
referente à conta de luz. Com o que Chico ganhava era impossível liquidar tal
débito. Um dia, sentado à porta de sua casa, recebeu a visita de um estranho que
lhe diz ter vindo saldar uma dívida contraída há tempos atrás. Chico recebe o
envelope, agradece ao estranho e, quando este se vai, abre o envelope e encontra
ali a quantia exata para quitar a dívida deixada por seu irmão.
ANDRÉ LUIZ
Emmanuel é o principal mentor de Chico Xavier mas não o único a lhe ditar
mensagens profundas e cheias de ensinamentos. Outro espírito a comunicar-se
através da psicografia de Chico Xavier é um cientista brasileiro que até hoje
mantém sua verdadeira identidade incógnita. Comunicou-se com ele pela primeira
vez em 1943 e o médium quis saber de quem se tratava. No entanto, a entidade,
apontando para o irmão de Chico que dormia no quarto ao lado, pergunta pelo seu
nome. Chico respondeu: "André Luiz". Então, disse o espírito: "De agora em
diante este será o meu nome". Muitos acreditam que André Luiz foi Osvaldo Cruz,
o pioneiro da medicina tropical no Brasil ou Carlos Chagas. André Luiz descreveu
em suas obras experiências fascinantes sobre a vida após a morte.
A TRANSFERÊNCIA PARA UBERABA
Em 1958, já com 48 anos de idade, Chico Xavier sofreu uma crise de hérnia
estrangulada e foi internado no hospital São José Batista, em Pedro Leopoldo. A
conselho do médico, Chico foi transferido para Uberaba no início do ano
seguinte. Melhorou da hérnia e também de uma labirintite que o fez diminuir por
algum tempo sua produção mediúnica. Tanto Pedro Leopoldo como Uberaba estão no
coração de Chico em igual plano. Ele define seu amor pelas duas cidades dizendo:
"Pedro Leopoldo é meu berço e Uberaba é minha bênção".
OS FENÔMENOS DE EFEITOS FÍSICOS
Chico Xavier não apenas psicografava como também realizava fenômenos de efeitos
físicos. Certa vez perfumou a água que os assistentes traziam. De outra vez, o
ar. Contam algumas testemunhas que Chico, certa ocasião foi rezar ao lado da
cama de uma mulher muito doente e sem esperanças de vida. Enquanto o médium
rezava, pétalas de rosas começaram a cair do teto sobre a doente. A mulher veio
a desencarnar sem sofrimento, durante aquela madrugada. Após algum tempo desse
acontecimento, Emmanuel intercedeu junto a Chico Xavier recomendando a suspensão
dos trabalhos de efeitos físicos.
À medida que sua fama se propagava, cresciam também estórias dos poderes do
médium, levando-o por diversas vezes a ter que esclarecer o público sobre a
inveracidade de ser capaz de fazer um cego enxergar ou um paralítico andar.
A ASSISTÊNCIA SOCIAL
Aposentado pelo Ministério da Agricultura, Chico intensificou seu trabalho de
assistência social, juntamente com a comunidade espírita de Uberaba, tentando
colocar em prática as orientações de André Luiz, que na primeira edição de seu
livro Nosso Lar, redimensiona a solução para os problemas sociais e mostra a
diferença entre os serviços social, profissional e a assistência empírica
paternalista.
A MISSÃO INTERNACIONAL
Em sua primeira missão internacional, Chico viaja para os Estados Unidos para
auxiliar os espíritas brasileiros lá residentes. Esta visita foi programada e
orientada por Emmanuel e André Luiz, surtindo como resultado a fundação
"Christian Spirit Center" que tinha por objetivo difundir lá a doutrina espírita
como é praticada no Brasil. Livros sobre o tema foram traduzidos para o inglês e
até mesmo uma reportagem foi publicada sobre Chico Xavier na revista Cosmic
Star, editada na Califórnia. A revista fez uma matéria a respeito de suas
atividades e de sua comunidade em Uberaba.
Nesta mesma época Chico viaja para a Europa, onde encontra o estudo do
espiritismo e a prática mediúnica desenvolvidos principalmente na Inglaterra.
Ali ele afirma: "...os fenômenos mediúnicos são vivos em toda parte, mas na
Inglaterra eles desfrutam de imenso respeito com as notáveis atividades que lhe
são conseqüentes".
A partir da década de 60 a fama de Chico Xavier ultrapassa as fronteiras do
país, transformando-o no mais famoso médium vivo no Brasil.
PRÊMIO NOBEL
Seu valor não ficou provado apenas pelos mais de cem títulos de cidadania que
recebeu no Brasil. A comissão que organizou sua candidatura ao Nobel referiu-se
ao trabalho do médium em prol da assistência social. É bem verdade que este
reconhecimento não é unânime, pois o velho presidente da Academia de letras,
Austregésilo de Athayde, declarou solenemente: "Aqui na Academia não conheço
ninguém que se interesse por livros dele".
A indiferença da Academia não interfere no prestígio que Chico acumulou em mais
de 60 anos de trabalho honesto e humilde. Prova disso foi a grande campanha
realizada para que recebesse o prêmio Nobel da Paz em 1981, onde cerca de dez
milhões de brasileiros endossaram a campanha, assinando manifestos e cartas.
AS SENSAÇÕES
Sua fama e também sua debilidade física, obrigaram-no ao isolamento forçado, mas
nunca se negou a receber alguém ou conversar sobre qualquer assunto. Na época da
série de reportagens do jornal O Globo, ele descreveu como se sentia no momento
em que psicografava ou incorporava espíritos. O depoimento é válido até hoje
tanto para os estudiosos quanto para os leigos. Chico contou que a música produz
em sua mente "uma excitação muito especial", que pode levá-lo ao transe. "Outras
vezes", ele diz, "escrevo num estado semiconsciente, sonhando acordado". Mas, o
que ele sente no momento em que começa a psicografar as mensagens? "Faço tudo
mecanicamente", responde. "Um torpor pesado e prolongado me invade. O torpor é
profundo, mas é preciso que haja silêncio absoluto. Um chamado brusco, por
exemplo, me perturba, me sobressalta, causa-me até um mal psíquico".
A HUMILDADE
Apesar de tantos livros editados e vendidos (mais de 406 títulos), ele recebe
por mês apenas uma aposentadoria como ex-funcionário do Ministério da
Agricultura. O dinheiro oriundo das vendas dos livros é doado às obras de
caridade.
Hoje, apesar de sua idade e de todos os fatos que lhe ocorreram, Chico Xavier
prossegue fiel em sua missão de revelar à humanidade a doutrina e os
ensinamentos do Espiritismo. Jamais acusou alguém de ser mais ou menos bom para
consigo, aceitando o ser humano como é, em nada o reprovando.
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