Chateaubriand

"Eu pressentira, mau grado a prejuízos de infância e de educação, mau grado ao culto da lembrança, a época atual. Sou feliz por isso(...)" , é como se expressa Chateaubriand na mensagem, inserida em O Livro dos médiuns, 2. parte, cap. XXXI, item II. 
Com certeza, estaria a pensar nas próprias reformas que ele presenciara e vivera no seu período de vida física, findo em 4 de julho de 1848, na capital francesa. 
Ele conheceu o exílio e a glória, provações e homenagens, o desprezo e o poder. Político e escritor, participou de grandes momentos da História, que registrou em sua obra Recordações de além-túmulo, publicada em forma seriada, em Paris, de 21 de outubro de 1848 a 3 de julho de 1850, portanto depois de sua morte. 
Escrita após a revolução de 1830, num período de completo isolamento, a obra apresenta uma galeria brilhante de personalidades da época, de dimensões históricas, políticas, sociais e literárias, cimentando o prestígio permanente de Chateaubriand na literatura francesa. 
"Da primeira à última página das Mémoires sente-se a presença do autor, com as suas fraquezas, a sua coragem, o seu orgulho, a sua grande força de escritor"1 , tanto quanto o difícil caminho de um aristocrata e intelectual após a Revolução. 
Esse mágico do verbo e infatigável viajor dos séculos, nasceu François René, visconde de Chateaubriand, no dia 4 de setembro de 1768, em Saint-Malo, último filho de uma família católica. Freqüentou o Colégio, engajou-se no Exército, freqüentou a corte e a sociedade de Paris. Espírito irrequieto e aventureiro, embarcou para a América do Norte aos 23 anos, tendo percorrido vastas regiões de florestas virgens e estabelecido contatos com tribos indígenas. 
Seu retorno à Europa se deu imediatamente após saber da fuga e prisão do rei Luís XVI, em Varennes. Diante da queda da monarquia, alistou-se no exército dos príncipes emigrados, que combatiam as forças revolucionárias. Ferido no cerco de Thioville, refugiou-se na Inglaterra em 1793, onde se sustentou dando lições de francês e fazendo traduções. 
Trabalhou ali numa epopéia indígena publicada em 1826, Os Natchez. Sua primeira obra, contudo, Ensaio histórico, político e moral sobre as revoluções antigas e modernas, consideradas em suas relações com a Revolução Francesa, viria a lume em 1797. 
Também é na capital londrina que ele reconquista sua fé perdida, inicia sua obra de apologia da religião cristã e resolve dedicar seu gênio literário à defesa e reestauração das crenças religiosas, que a Revolução havia abalado. 
Retornou à França em 1800 e em 1801 publicou um episódio retirado de Os Natchez, Atala, ou Os amores de dois selvagens no deserto. Ali, a jovem Atala salva o herói e prefere a morte ao casamento com Chactas, a fim de não ferir um voto que fizera à Virgem Maria. 
Quatro anos depois, outro episódio seria publicado: René, onde se evidencia sua qualidade de discípulo de Rousseau, pintando através do seu personagem, o retorno do homem civilizado à Natureza. É um combate à lassidão, à impotência dos `tempos modernos', com significação moral. 
Uma apologia da fé cristã, publicada em 1802 é sua obra mais famosa: O espírito do cristianismo, com a qual ele conquista Napoleão, que desejava oficializar a religião católica como religião do Estado. Nela se encontra emoção religiosa e poesia, consagrando o escritor como uma espécie de guia espiritual de sua época. 
Em tributo de gratidão, Napoleão o nomeia secretário da Embaixada em Roma e depois ministro no cantão suíço de Valais, em 1804. Nesse ano, a 21 de março, a execução do duque de Enghien desperta os sentimentos monárquicos adormecidos em Chateaubriand. Ele se demite da carreira diplomática e se encerra numa oposição prudente, mas tenaz, ao imperador, apesar de todas as tentativas daquele para o reconquistar. 
Eleito para a Academia Francesa de Letras, é impedido de pronunciar seu discurso de posse, considerado abertamente provocador.Mais tarde, em 1811 publicou um panfleto contra Napoleão e em 1816 define seu ideal político, defendendo a tese de que o rei deve reinar, mas não governar. 
Após a ruptura com Napoleão, já célebre em toda a Europa, Chateaubriand medita em coroar exitosamente a sua obra de apologista da religião cristã, através de uma epopéia de seus mártires. Viaja a Jerusalém e no retorno, publica Os mártires ou O triunfo da religião cristã, e depois Itinerário de Paris a Jerusalém..., Vida de Rancé (relato da vida do Reformador da Ordem dos Trapistas no século XVII). 
Chateaubriand firmou-se como um dos grandes precursores do Romantismo, pelo conteúdo das emoções variadas de sua obra, pela intensidade e poder dos muitos momentos exemplares do seu estilo.


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