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Em minha infância, o mês das rias escolares era o período do ano mais esperado por mim.

Reuníamo-nos, meus primos e eu, na casa de meus avós. E com eles ficávamos todo o período de rias.

Era uma casa aconchegante, com um quintal imenso, repleto de árvores frutíferas. Uma residência antiga, ideal para ser explorada por nossa curiosidade.

Certa vez, em uma dessas rias mágicas e felizes, subi em uma árvore bastante alta que havia no terreno e, por cima do muro, pude observar o vizinho.

Era um senhor idoso, cabelos brancos, andar lento. Quando ele me viu, sorriu e acenou, num gesto de simpatia.

Foi então que eu percebi que ele tinha algo em suas mãos.

Com destreza, saltei da árvore para o muro, a fim de saciar minha curiosidade e descobrir o que era.

Percebi que o terreno do simpático velhinho era extenso como o de meus avós. Também descobri que o que ele segurava nas mãos eram sementes.

São sementes de árvores, me disse ele, sorrindo e mostrando-as para mim.

Tornamo-nos amigos. Conversávamos, enquanto ele lançava suas sementes à terra. Todavia, eu não o via regando as sementes. E isso começou a me deixar incomodado.

De que adianta tanto plantar, se não rega as pobres sementinhas, pensei.

Um dia, resolvi perguntar:

O senhor não tem medo de que suas árvores nunca cresçam? Afinal de contas, quase não rega as plantinhas.

Foi quando ele me explicou sua fantástica teoria. Disse-me que, se regasse com muita constância suas plantas, as raízes se acomodariam na superfície, esperando pela água fácil.

Como ele não fazia isso, as árvores demorariam mais para crescer, mas suas raízes tenderiam a migrar para o fundo, em busca da água das camadas inferiores do solo.

Dessa forma, elas teriam raízes mais profundas e seriam mais resistentes.

Os anos se passaram. Tornei-me adulto. Fui fazer cursos no Exterior. Quando retornei, fui visitar os meus avós.

Para minha surpresa, no quintal da casa ao lado, havia um bosque encantador, repleto de árvores variadas.

Aquele estava sendo um rigoroso inverno, de muita ventania. Enquanto as árvores na rua e na casa de meus avós se arqueavam, amoladas pelo vento, aquelas estavam imponentes, resistindo bravamente à rajada que as atingia.

Jesus, o Divino Mestre, em seu caminhar entre os homens, apontou-nos o amor como rota segura que nos leva à compreensão do Criador, do próximo e de nós mesmos.

O amor. O manancial celeste, a fonte que nunca seca.

Por conta de nosso egoísmo, de nosso orgulho, temos à nossa disposição a humilde e cristalina água do céu mas deixamos de bebê-la, prosseguindo sedentos em razão de mágoas acumuladas, falta de perdão, injustiça, solidão.

Para a alma sequiosa, para as chagas morais, para as dores do mundo, a água do amor.

Silenciemos. O convite gentil do Mestre ainda ecoa na acústica de nossas almas: Avançai para águas mais profundas.


Por: Momento Espírita, Redação do Momento Espírita, com base em artigo publicado em Seleções Reader’s Digest, de abril.1999. Do site: http://www.momento.com.br/pt/ler_texto.php?id=4569&stat=0


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