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Achava-se Bittencourt Sampaio muito doente, recolhido em um dos aposentos de sua casa, no Rio, quando alguns admiradores, de visita, se reuniram em sala contígua, conversando, sem que o soubessem atento.

Antigo político pernambucano, sentindo que os amigos presentes tinham vindo do Norte, sem mais amplo conhecimento dos grandes méritos do enfermo, explicava:

- O Dr. Francisco Leite Bittencourt Sampaio, pela circunstância de se haver tornado espírita, é um homem que esconde os próprios títulos. Imaginem que formado muito cedo pela Faculdade de Direito de São Paulo, antes dos trinta anos de idade já era Deputado por sua Província. Desde então, passou a ser um dos maiores representantes de Sergipe, na Corte. O Imperador D.Pedro II consagrava-lhe enorme apreço. O visconde do Rio Branco, o grande Paranhos, era fiel na estima que lhe dedicava. Foi administrador da Província do Espírito Santo com brilho invulgar. No Império, sempre recusou as homenagens que lhe foram oferecidas.

E tanto era respeitado pelos monarquistas como pelos republicanos, pois, logo depois do “15 de Novembro”, foi nomeado Diretor da Biblioteca Nacional, que reformou de maneira notável. O Dr. Bittencourt é primoroso poeta, jornalista de prol, político hábil, vigoroso administrador...

Nisso, porém, Bittencourt, que tudo ouvia, exclamou dentro do quarto, com voz cansada e alegre:

- Com tudo isso, morro assim mesmo...

A conversação solene transformou-se em risada cristalina.

E, com efeito, daí a poucos dias, os mesmos amigos abraçavam-se, de novo, acompanhando-lhe os funerais.


Por: Hilário Silva, Do livro: Almas em Desfile, Médium: Francisco Cândido Xavier


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