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O cerceamento, ou simples tentativa de, da liberdade individual – de pensamento, crença, ideologia, comportamento e outras opções –, excetuados os casos de infrações legais ou desrespeito à lei, sempre foi motivo de muitas aflições. É causador de conflitos, guerras entre países, rompimento ou perda de espontaneidade de relacionamentos, entre outros prejuízos.
Os exemplos não faltam, nos registros da história e mesmo no cotidiano da atualidade. Basta observar os efeitos nocivos dos conflitos internacionais e mesmo as dificuldades próprias de cada país, entre os casos de violência, corrupção, preconceitos e discriminações em geral.
Não há necessidade de alongar o assunto. Priorizemos destacar a excelência da Doutrina Espírita ao abordar o assunto. Breve pesquisa em O Livro dos Espíritos remete-nos à questão 829, cuja resposta é de uma limpidez extraordinária: “É contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem (...)”

Lucidez de Kardec
Por sua vez, o Codificador Allan Kardec, ao comentar duas publicações francesas, trouxe notável editorial em sua Revista Espírita* (exemplar de fevereiro de 1867), com o título Livre Pensamento e Livre Consciência, de onde extraímos trechos para reflexão dos leitores:

“(...) Toda opinião raciocinada, que nem é imposta, nem encadeada cegamente à de outrem, mas que é voluntariamente adotada em virtude do exercício do raciocínio pessoal, é um pensamento livre, quer seja religioso, quer político, ou filosófico. Em sua concepção mais larga, o livre pensamento significa: livre exame, liberdade de consciência, raciocinada; simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física; não quer mais escravos do pensamento, quanto não os quer do corpo, porque o que caracteriza o livre pensador é que pensa por si mesmo, e não pelos outros; em outros termos, sua opinião lhe é própria. Assim, pode haver livres pensadores em todas as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre pensamento eleva a dignidade do homem; ele dela faz um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer. (...)”
Em outro trecho, comentando sobre o paradoxo da imposição de crenças, hábitos, costumes ou ideologias: “(...) Vosso espírito só é livre com a condição de não crer no que quer, o que significa para o indivíduo: Tu és o mais livre de todos os homens, com a condição de não ir mais longe do que a ponta da corda a que te amarramos (...)”
Ora, basta destacar do parágrafo anterior: livre pensador é que pensa por si mesmo, e não pelos outros. Sim, óbvio. Todos temos a capacidade de raciocinar e esta possibilidade individual é aptidão do indivíduo, sem ser cerceado por vontade alheia. Aliás, vale dizer que toda imposição, ou tentativa de, constitui desrespeito, ausência de caridade e causa dos conflitos que minam as relações humanas. Exceto, é claro – e repetimos –, por força de lei.

*Publicação fundada por Allan Kardec, em 1858, e por ele dirigida até sua desencarnação, em 1869; continua sendo editada, e atualmente em diversos idiomas, pelo Conselho Espírita Internacional.

Nota da Redação: Os exemplares da Revista Espírita, da época de Kardec, também estão disponíveis em língua portuguesa, em edições do IDE-Araras, EDICEL-São Paulo e mais recentemente da FEB-Rio-RJ.


Por: Orson Carrara, Texto enviado pelo próprio autor para publicação em nosso site


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