Ensinar, por Espíritos Diversos
Nunca ao Sabor do Capricho
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Motivados pelo conhecimento espírita que traduz libertação de
preconceitos, medos, condicionamentos e mesmo da ignorância de nossa autêntica
natureza, origem e destinação, estamos convidados a trabalhar pela melhora do
planeta – fazendo o melhor ao nosso alcance em favor de nossos irmãos de
caminhada –, pela expansão de tais informações – no empenho da divulgação
espírita – e óbviamente pelo próprio aprimoramento individual.
Dentre tantas atividades que temos oportunidade de trabalhar, uma muito
conhecida e utilizada é o da prática mediúnica. Esta reunião caracteriza-se pela
presença, em dias e horários combinados, de médiuns e condutores da própria
reunião que estão juntos para o processo de aprendizado próprio e auxílio aos
espíritos em dificuldades, sejam quais forem. O aprendizado vem pelos relatos e
experiências trazidas pelos espíritos em desequilíbrio e pela orientação amiga
sempre trazida pelos benfeitores espirituais que auxiliam a tarefa.
Para o contato com os espíritos em dificuldades, um dos instrumentos utilizados
é o diálogo acolhedor. Referido diálogo deverá estar baseado na mais pura
fraternidade, na psicologia de trato e, claro, baseado em conhecimentos
doutrinários bem fundamentados que facilitem o processo de auxílio. Não pode ser
uma aventura ou tratado com negligência.
Estamos todos envolvidos num grande processo de aprendizado, não importa se
estamos na situação de encarnados ou se já estamos no plano espiritual como
desencarnados. E, por conseqüência, o dever de solidariedade mútua surge como
extrema necessidade para todos. Um dos instrumentos, dentre tantos, deste
auxílio mútuo, está nas reuniões mediúnicas de esclarecimento e socorro, onde o
diálogo é fator essencial.
Pois bem. A obra O Livro dos Médiuns é rica de informações que embasam o
conhecimento e estruturam a prática espírita. Como conciliar tal prática sem o
conhecimento? Capítulos inteiros oferecem a base doutrinária que orienta e se
constitui no norteamento de tais atividades. Todavia o Codificador também
utilizou sua Revista Espírita como laboratório de experiências. Relatos,
descrições, reflexões, pronunciamentos, correspondências mantidas, orientações
transmitidas, etc. ali estão – saídas das mãos e do raciocínio do próprio Kardec
– como complementos de muita utilidade para o estudioso espírita.
Fomos buscar na edição de julho de 1859, no Pronunciamento do Encerramento do
ano social 1858-1859, feito por Kardec na Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas, um trecho específico sobre o assunto que estamos abordando. Prestemos
muita atenção no que disse o Codificador:
“(...) Com efeito, sabeis, pela experiência, que não basta chamar ao acaso o
Espírito de tal ou tal pessoas; os Espíritos não vêm, assim, ao sabor de nosso
capricho e não respondem a tudo aquilo que a fantasia nos leva a perguntar-lhes.
É necessário, com os seres de além-túmulo, circunspecção, saber ter uma
linguagem apropriada à sua natureza, às suas qualidades morais, ao grau de sua
inteligência, à classe que eles ocupam; estar com eles, dominador ou submisso,
segundo as circunstâncias, compadecente por aqueles que sofrem, humilde e
respeitoso com os superiores, firme com os maus e os obstinados que não subjugam
senão aqueles que os escutam com complacência; é necessário, enfim, saber
formular e encadear, metodicamente, as perguntas para obter respostas mais
explícitas, agarrar nas respostas as nuanças que são, freqüentemente, traços
característicos, revelações importantes, que escapam ao observador superficial,
sem experiência ou de passagem. A maneira de conversar com os Espíritos é, pois,
uma verdadeira arte que exige tato ou conhecimento do terreno sobre o qual se
caminha, e constitui, propriamente falando, o Espiritismo prático. Sabiamente
dirigidas, as evocações podem ensinar grandes coisas; oferecem um poderoso
elemento de interesse, de moralidade e de convicção: de interesse, porque elas
nos dão a conhecer o estado do mundo que espera todos nós, e do qual se faz,
algumas vezes, uma idéia tão bizarra; de moralidade, porque podemos ver aí, por
analogia, nossa sorte futura; a convicção, porque se encontra nessas
conversações íntimas a prova manifesta da existência e da individualidade dos
Espíritos, que não são outros senão nossas almas desligadas da matéria
terrestre. Estando formada, em geral, vossa opinião sobre o Espiritismo, não
tendes necessidade de assentar vossas convicções sobre a prova material das
manifestações físicas; também não quisestes, segundo o conselho dos Espíritos,
encerrar-vos nos estudos dos princípios e das questões morais, sem negligenciar,
por isso, o exame dos fenômenos que podem ajudar na procura da verdade (...)”.
Que riqueza de reflexão e importante trecho do pronunciamento! Gostaria de
sugerir que parássemos para pensar sobre os itens que selecionamos abaixo e que
dispensam quaisquer comentários de nossa parte, extraídos do próprio texto
acima:
Os Espíritos não vêm, assim, ao sabor de nosso capricho e não respondem a tudo
aquilo que a fantasia nos leva a perguntar-lhes;
É necessário, com os seres de além-túmulo, circunspecção, saber ter uma
linguagem apropriada à sua natureza, às suas qualidades morais, ao grau de sua
inteligência, à classe que eles ocupam;
É necessário, enfim, saber formular e encadear, metodicamente, as perguntas para
obter respostas mais explícitas, agarrar nas respostas as nuanças que são,
freqüentemente, traços característicos, revelações importantes, que escapam ao
observador superficial, sem experiência ou de passagem;
A maneira de conversar com os Espíritos é, pois, uma verdadeira arte que exige
tato ou conhecimento do terreno sobre o qual se caminha, e constitui,
propriamente falando, o Espiritismo prático. Sabiamente dirigidas, as evocações
podem ensinar grandes coisas;
Estando formada, em geral, vossa opinião sobre o Espiritismo, não tendes
necessidade de assentar vossas convicções sobre a prova material das
manifestações físicas; (...)encerrar-vos nos estudos dos princípios e das
questões morais, sem negligenciar, por isso, o exame dos fenômenos que podem
ajudar na procura da verdade;
Os espíritos não estão, pois, ao sabor de nossos caprichos e vontades pessoais,
prontos para atender nossos normalmente impacientes pedidos; são almas livres,
com vontade própria. Esses conhecimentos são básicos no relacionamento com eles,
onde a fraternidade deve ser a base essencial. E isto por um único e fundamental
motivo: todas as criaturas de Deus merecem respeito. Aprimorar os métodos de
intercâmbio com os espíritos é dever de todos nós e somente o estudo e a
contínua reflexão sobre os fundamentos doutrinários pode oferecer bases seguras,
inclusive sobre o importante item que está no final do item e) acima: o exame
dos fenômenos que podem ajudar na procura da verdade.
Notem os leitores que este destaque permite adentrar para outro campo: o da
pesquisa. A procura da verdade abre esta outra vertente: pesquisar
continuamente, refletindo, como preconiza o próprio Espiritismo. Nos casos de
intercâmbio mediúnico, pela psicofonia (que é o caso que estamos tratando aqui),
onde o diálogo é a tônica, a pesquisa está aberta na atenta observação, como no
que disse Kardec e que acima transcrevemos no item c) acima: agarrar nas
respostas as nuanças que são, freqüentemente, traços característicos, revelações
importantes, que escapam ao observador superficial.
Ora, isto também é pesquisa, com anotações e estudos posteriores inclusive.
Ciência espírita é aspecto a ser mantido em nossas cogitações, face ao tríplice
aspecto do Espiritismo: ciência, filosofia, religião.
Onde estão as pesquisas no campo científico? Ciência Espírita não é apenas
materialização de espíritos. Ela está também no diálogo que mantemos com os
espíritos, que deve ser aprimorado.
No século XIX, o notável cientista inglês Willian Crookes, físico e químico
inglês de reconhecimento internacional, dedicou-se à pesquisa com os fenômenos
de materialização do Espírito Katie King, com rigoroso método científico.
Atualmente, todavia, nada nos impede da pesquisa científica, com bases
igualmente rigorosas da observação e da experimentação, descartando posturas
místicas, para aprimorarmos conhecimentos e cada vez mais nos maravilharmos da
sábia obra de Deus!
Nunca, porém, ao sabor dos caprichos pessoais...
Por: Orson Carrara, Texto enviado pelo próprio autor para publicação em nosso site
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